Maynara Sant’Ana e arte de manter viva a tradição familiar da cerâmica
Empreendedora criou, em Belém (PA), uma galeria de cerâmica onde se aprende a valorizar o ofício da olaria e o artesanato amazônico
Maynara Sant’Ana, de 30 anos, nasceu de pai e mãe ceramistas, em Belém (PA), um ofício que carrega uma tradição familiar. Sua avó, que trabalhava numa fábrica de olaria, levava os filhos pequenos consigo, como faziam tantas outras mulheres, e as crianças iam aprendendo também a arte de moldar a cerâmica. Foi assim que o pai de Maynara aprendeu a se tornar um mestre desse ofício. Ela própria, no entanto, só se aproximou desse legado mais recentemente. No último ano da faculdade de Nutrição, Maynara conheceu Sebastian, seu namorado e, na época, um tatuador. Ela, ativista do movimento negro, ele, um homem trans, logo começaram a trocar ideias sobre a necessidade de espaços diversos no mercado de trabalho, inclusive na economia criativa. “Montamos, então, em 2017, um estúdio de tatuagem e piercing, o Art Ato, e fomos trazendo mais colaboradores mulheres, pessoas pretas e LGBTQIAP+“, conta. Logo, além do estúdio, havia uma barbearia, um café e mais empreendimentos no local. “A cerâmica estava, num primeiro momento, como decoração. Mas muita gente perguntava onde comprar, e aí vi o potencial desse artesanato.”
Maynara é mais uma empreendedora incrível que você conhece no projeto Potencializadoras, uma parceria especial entre CLAUDIA, PretaHub e Meta. O estúdio aberto logo demandou um lugar maior e, em 2018, Maynara, o namorado, seu pai e sua mãe (que sempre fizeram parte desse projeto) mudaram o negócio de endereço e abriram também uma galeria de cerâmica, que logo tornou-se um centro cultural, ponto de encontro de artistas, artesãos e de qualquer pessoa que quisesse aproveitar um tempo de qualidade por lá. O sucesso foi tamanho que, um ano depois, a família começou a oferecer cursos de cerâmica e realizar bate-papos sobre essa arte. Assim nasceu a marca Cerâmica Família Sant’ana.
Em 2020, no entanto, quando a pandemia de Covid-19 chegou no Brasil, as aulas e outros serviços precisaram ser interrompidos. “Já tínhamos visto o potencial da coisa, então decidi fazer a venda das cerâmicas por delivery. E funcionou. Postávamos as fotos no Instagram e a galera comprava. Passamos mais de um ano sobrevivendo dessa forma, e o negócio cresceu ainda mais”, conta Maynara. Hoje, com uma equipe de 12 pessoas, além de terem retomado as oficinas e aulas, ela e sua família querem realizar rodadas de conversa com mestres ceramistas e outras atividades. “Pensamos muito na produção de joias em cerâmica, por exemplo, que tem muito potencial e ainda não acontece muito por aqui”, diz.
Seu maior objetivo, entretanto, é “levar para outras regiões o que os artesãos e artistas da região Amazônica produzem” e ajudar a perpetuar tradições tão importantes como a olaria tradicional. “Não tem mais mestres e mestras se formando em cerâmica, essa tradição tão familiar na nossa região. Não vemos nosso trabalho como algo só da família Sant’Ana, mas como uma proposta coletiva de despertar o interesse das pessoas e manter viva essa arte”, afirma Maynara. Se depender dela e dos seus, ninguém vai deixar a tradição-arte da cerâmica desaparecer.
O projeto Potencializadoras é uma parceria do PretaHub, da CLAUDIA e da Meta para contar histórias de mulheres negras empreendedoras. A fotógrafa baiana Helen Salomão e Wendy Andrade se uniram para retratar 15 mulheres que fazem parte da Aceleração de Negócios de Empreendedoras Negras, iniciativa idealizada pela Meta e pela PretaHub.