Rebelde com causa: conheça o Transtorno Desafiador de Oposição
Crianças agitadas que se recusam em seguir regras nem sempre significa birra. Quando o comportamento se intensifica, pode ser sintoma do TDO
A dificuldade em obedecer normas e ouvir “não” levou Mateus, 10 anos, ao consultório de um psiquiatra. Depois de testes e avaliações psicológicas, veio o diagnóstico: o garoto sofria de transtorno desafiador de oposição (TDO), também conhecido como transtorno opositivo desafiador (TOD).
Como o próprio nome indica, caracteriza-se pela desobediência contínua às figuras de autoridade, como pais e professores, explosões de raiva, tentativas de irritar os outros e culpá-los por seus erros, comportamento antissocial e impulsividade.
Os sintomas geralmente começam entre os 6 e os 8 anos e causam problemas em casa ou na escola. A mãe de Mateus que o diga. “Ele não aceita a palavra ‘não’. Então, aprendemos a ir driblando isso. Em vez de dizer ‘Não vamos fazer assim’, digo ‘Vamos fazer assim’”, conta a zootecnista Tais Lins, de São Paulo.
Com sessões semanais de terapia e acompanhamento do psiquiatra, o quadro do menino melhorou. Mas nem sempre foi assim. Aos 4 anos, antes do diagnóstico, Mateus arremessou um pedaço de madeira na cabeça de um colega, que se machucou. Resultado: foi convidado a se retirar da escola de educação infantil que frequentava.
As causas do TDO ainda são desconhecidas. No entanto, como todo transtorno psiquiátrico, envolve uma combinação de fatores genéticos e ambientais. “Vários genes interagem entre si, criando condições para que os fatores ambientais potencializem ou não a doença”, explica o geneticista Ciro Martinhago, de São Paulo.
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Em geral, o TDO vem associado ao transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Abuso de álcool e outras drogas na família, presença de transtornos de humor – como depressão e bipolaridade –, tabagismo durante a gravidez e complicações no parto podem contribuir para desencadear o distúrbio.
Estudos de imagem sugerem que as crianças com TDO têm diferenças sutis na região do cérebro responsável por raciocínio, julgamento e controle de impulsos. Elas também podem apresentar dificuldade em identificar e interpretar com precisão os sinais de outras pessoas – “lendo”, por exemplo, intenções hostis em situações neutras.
O tratamento geralmente envolve terapia individual e familiar. Em casos mais graves, é possível recorrer a medicação. Em sessões com o psicólogo, crianças e adolescentes aprendem a gerenciar sua raiva e a desenvolver novas formas de lidar com situações estressantes. A terapia também ajuda os pais a aplicar técnicas para intervir em momentos de crise.
Segundo a Academia Americana de Psiquiatria Infantil e Adolescente, em três anos os sintomas diminuem em aproximadamente 67% das crianças.
No entanto, se não for tratado, o TDO pode desencadear o transtorno de conduta, caracterizado pela violação de normas sociais ou direitos individuais – quando a pessoa comete furtos, vandalismo e crueldade com animais, por exemplo. Na vida adulta, em casos extremos, há o risco de acarretar o transtorno de personalidade antissocial.
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DIAGNÓSTICO PEDE INVESTIGAÇÃO AMPLA
A identificação do quadro é complexa. “Todos nós podemos apresentar de vez em quando alguns dos traços, como a impulsividade. Mas, no caso de quem tem transtorno, essas características aparecem juntas, em uma intensidade e com uma frequência que comprometem muito a vida do paciente”, diz o psiquiatra Paulo Mattos, professor do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“Todo mundo tem açúcar no sangue, mas alguns em excesso, o que gera diabetes”, compara. Assim, o diagnóstico requer uma avaliação ampla, que leve em conta a escola, a família e outros contextos.
“Não adianta fazer uma entrevista de 15 minutos com a família. Reunir o máximo de informação possível ajuda o profissional a entender como os sintomas afetam a vida da criança e se são mesmo excessivos”, afirma Mattos.
É importante lembrar que desafiar e desobedecer os adultos às vezes é parte normal do desenvolvimento de crianças e adolescentes. Birras podem acontecer, sobretudo quando estão cansados, com fome ou chateados.
Nessas horas, continua valendo a clássica orientação de “estabelecer limites”. É difícil, mas fundamental para criar filhos saudáveis e independentes.