Saiba como escolher a escola dos filhos
Acertar na decisão da escola do filho requer uma boa dose de conhecimento. Damos uma mãozinha para que o caminho seja leve e traga bons resultados
Se você pensar na sua infância e adolescência, vai notar que passou a maior parte do tempo na escola. Viu mais os colegas e professores do que seus irmãos, avós e até mesmo pais. Foi lá que estreitou laços de amizade, aprendeu sobre diferenças, enfim, criou bagagem para encarar a vida adulta. Levando tudo isso em consideração, não é de estranhar que escolher o colégio do seu filho seja tão difícil.
Para facilitar a tarefa, o primeiro passo é observar como sua família funciona e quais são os valores mais importantes para vocês. Não adianta colocar a criança em um lugar que tenha aulas de teatro, crochê e culinária se acham isso tudo irrelevante. Nem optar por uma instituição com foco no resultado do vestibular se acreditam que o pequeno precisa ser ouvido em sala de aula e que oficinas de artes ou atividades que fortaleçam o lado social são fundamentais.
“Não existe escola perfeita, mas a ideal é a que oferece a formação que a família procura e que dará continuidade ao processo educacional feito em casa”, diz a psicopedagoga Quézia Bombonatto, conselheira vitalícia da Associação Brasileira de Psicopedagogia.
Observe e escute
Vale destacar que é importante fazer um balanço entre o que você quer e o perfil do seu filho, que é quem vai frequentar o lugar no dia a dia. “É da observação das habilidades e do temperamento dele que vão surgir as opções mais indicadas. Um colégio grande, por exemplo, talvez não seja a melhor opção para uma criança mais tímida e retraída”, explica Quézia.
Desenvolver essa noção só será possível visitando alguns colégios – e até mais de uma vez. Primeiro, para saber sobre o projeto pedagógico e qual linha é seguida (veja no quadro “Por dentro da linha”). Depois, para conhecer as instalações, o material didático e detalhes da rotina escolar. Algumas escolas permitem que a criança visite o espaço.
“É importante abrir para que ela sinta o lugar, se gosta dali. Os menores podem brincar e ouvir histórias dos professores em um primeiro contato”, diz Adriana Santos Meneguello, coordenadora pedagógica do Colégio Mary Ward, em São Paulo.
Matricular a criança em uma escola não é um caminho sem volta, mas pode ser estressante para o estudante ter que passar por uma nova adaptação, com outros colegas, professores e tipo de material. Por isso, critérios como “é perto” ou “minha família estudou lá” não devem ser considerados unicamente.
“Pense na escolha como um projeto a longo prazo, que vai ajudar na formação acadêmica e humana”, diz Renata Weffort Almeida, coordenadora pedagógica do Colégio Pio XII, em São Paulo.
Guia para a visita a uma escola
Um passo a passo para aproveitar ao máximo as visitas aos colégios selecionados.
Avaliar a escola in loco faz parte do processo, mas, às vezes, na emoção, você pode se esquecer de perguntar algumas coisas e sair de lá sem saber tudo que queria. Cada lugar tem um jeito de receber os pais interessados. Alguns agendam uma entrevista inicial com a diretoria, depois marcam uma ou duas visitas para conhecer o espaço e a sala.
Há aquelas que liberam a ida dos pais durante o horário de aula para que eles observem desde a disposição das cadeiras até o tamanho das janelas, como o sol bate. São aspectos importantes que vão dizer muito sobre o bem-estar do aluno. Sugerimos também prestar atenção nas condições oferecidas (veja abaixo).
“É fundamental conhecer antes o projeto pedagógico, o currículo, a proposta anual e a formação dos professores. Os profissionais devem ser graduados em suas especialidades e ter acesso a um sistema de aprimoramento contínuo”, adianta Débora Vaz, diretora pedagógica do Colégio Santa Cruz, em São Paulo.
Perguntar como a criança obterá conhecimento
Depois de conhecer a linha que a escola segue, investigue o projeto pedagógico – que deve ser apresentado no dia da visita. Ele é elaborado de um ano para o outro. E o que esse documento informa? A missão, os objetivos, as metas de ensino e as estratégias para alcançá-las.
Você poderá saber mais também sobre o calendário e como serão ministradas as aulas. “Depois da visita, cabe aos pais refletir se eles se identificam com a cultura do colégio e se têm admiração pelo projeto”, diz Débora Vaz.
Informar-se sobre a formação dos professores
É exigida formação em pedagogia para os professores dos cursos infantil e fundamental 1. A partir do fundamental 2, a licenciatura deve ser em uma área específica, como matemática ou geografia. No caso de turmas com crianças menores, que, às vezes, necessitam também de um assistente, o quadro pode ser formado por um pedagogo e uma pessoa com magistério.
“Há ainda os monitores que auxiliam os alunos no banheiro ou nos corredores. Eles não precisam de diploma, mas de cursos contínuos e de primeiros socorros”, afirma Renata.
A reciclagem e a atualização dos professores dizem muito sobre a escola. Portanto, é uma questão importante, que você não deve desprezar. Instituições que se preocupam com isso geralmente organizam reuniões semanais entre os profissionais e os incentivam a participar de congressos e promover palestras.
Analisar o número de alunos por sala
Se for no horário de aula, você terá noção de como os alunos se acomodam. “Há a ideia de que sala pequena é melhor, mas, na educação infantil, por exemplo, uma turma com dez alunos fica prejudicada, pois não há como formar subgrupos, algo importante para o relacionamento das crianças”, diz a pedagoga e psicopedagoga Edimara de Lima, diretora da Prima Escola Montessori, em São Paulo.
Segundo a especialista, há uma equação de 3 metros quadrados por aluno. Então, uma sala de 60 metros quadrados comportaria 20 alunos. Além do tamanho do espaço, é preciso verificar o número de profissionais: um para cada cinco crianças de 1 a 3 anos; um para cada dez na idade de 3 a 6. No ensino fundamental, um para cada 15 e, por fim, no ensino médio, um profissional para cada 30 alunos.
Avaliar o ambiente
Os olhos dos pais brilham quando entram em uma escola grande, com área verde e playground enorme. São itens legais, mas os colégios que não oferecem esses recursos não precisam ser descartados. Nesse caso, repare se a falta deles está sendo suprida por alternativas criativas, como cantos de brincadeiras e atividades para a hora do recreio.
Vale mais ter outras opções de lazer do que limitar os alunos a ficar só na grama ou na quadra. Observe também se os laboratórios e as salas de atividades são realmente usadas e se seu filho terá acesso a elas.
Ter contato com o material
Algumas escolas fornecem material, outras colocam o item como responsabilidade dos pais, a ser levado no começo do ano. No primeiro caso, avalie a segurança dos itens para crianças menores. Veja se as tesouras não têm pontas e se as tintas são atóxicas. A partir do fundamental 1, há a opção de livros ou apostilas. Essas últimas são de sistemas predefinidos. Já os livros podem vir de diferentes editoras, de acordo com o que a equipe considerar mais adequado.
Detalhes nem tão pequenos
Quanto vale o show?
Escola particular custa caro. Por isso, você tem que saber item por item o que está sendo cobrado. Primeiro, atente para a carga horária. “O mínimo é de 800 horas por ano, o que significa cinco dias de quatro horas cada um. Na educação infantil, esse número é aceito, mas depois é pouco”, diz a psicopedagoga Edimara de Lima.
Segundo a especialista, a média internacional é de seis a seis horas e meia por dia. Mas o valor pago não se restringe ao número de horas. Pergunte se o lanche ou o almoço (para quem fica até mais tarde) estão incluídos, bem como o material. Muitas instituições oferecem atividades extracurriculares, como balé, judô ou capoeira, e elas são sempre cobradas à parte. Então, a mensalidade não será apenas o custo das aulas, mas de tudo que seu filho fizer durante o período no colégio.
Fome de quê?
Quando há refeitório, ele precisa estar dentro da lei – o que inclui ter um nutricionista responsável, que vai elaborar um menu balanceado. Muitas escolas divulgam periodicamente o cardápio para os pais, que devem ficar atentos para não impor suas escolhas alimentares, como um menu sem açúcar ou com produtos orgânicos.
“Com relação a questões religiosas e de saúde, o estabelecimento precisa fazer adaptações. Se a família não come carne suína, o alimento deverá ser substituído. Se há alguém com diabetes ou algum tipo de alergia, é obrigatório oferecer outras opções”, diz Edimara de Lima.
Está tudo direitinho?
Talvez você nem pense em olhar a validade do extintor de incêndio ou em pedir o alvará. Mas é bom colocar na sua lista e solicitar que a escola mostre a autorização de funcionamento emitida pela Secretaria de Educação do estado ou município. Esse documento cobre todos os itens que garantem um lugar seguro.
Se estiver atualizado, está tudo legalizado, pois, para ter o aval, é necessário possuir laudo dos bombeiros e de um engenheiro responsável pela segurança da edificação, além da permissão da vigilância sanitária para fornecer alimento. Colégios também recebem visitas periódicas das autoridades de ensino.
Vamos falar de inclusão?
Se você tem um filho ou uma filha com necessidade especial, é importante informar na primeira visita à escola. “A diretoria pode alegar que não tem vaga ou que não está preparada para recebê-la, mas isso é contra a lei. A instituição é que deve se adaptar à criança, e não o contrário”, diz a pedagoga Michelli Freitas, mãe de uma criança autista e diretora do Instituto de Educação e Análise do Comportamento, em Goiânia.
Para ela, mais importante que a linha pedagógica é saber se a escola está aberta para trabalhar com os outros profissionais que atendem a criança. Alguns alunos podem precisar de assistente terapêutica em sala. Pela Lei Brasileira da Inclusão, conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência/Lei nº 13.146/2015), esse custo é da escola. Também avalie se há banheiro adaptado e rampas para os que usam cadeira de rodas. Esses dois itens são previstos pela mesma lei.
Por dentro da linha
Há diversas estratégias de ensino, com diferentes métodos e prioridades de resultado. Entender melhor cada uma delas facilita a identificação entre família e escola.
Tradicional
Nessa linha de ensino, o professor é a figura principal no processo de aprendizagem. Isso quer dizer que o aluno não tem tanta voz, precisa cumprir metas diante de prazos determinados.
- Objetivo: Focar no intelectual e, principalmente, ir bem em provas como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o vestibular.
- O dia a dia: Seu filho terá acesso a bastante conhecimento, sem que seja deixado de lado o desenvolvimento pessoal. Além da sala de aula convencional, há espaços em que tecnologia e conhecimento se fundem, como os laboratórios maker, sejam de robótica ou marcenaria, onde há lugar para a criação livre. Atividades físicas, como capoeira e ioga, costumam fazer parte da grade horária.
- Avaliação: Além das provas tradicionais, é levado em conta o comportamento em sala.
Construtivista
Surgiu das ideias do psicólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) e prega que o aluno deve participar do aprendizado por meio de experiências e pesquisas. Ele vai construir seu conhecimento com o professor, daí o nome da linha.
- Objetivo: A participação do aluno na sala de aula, levando em consideração também seus erros e acertos dentro e fora dela.
- O dia a dia: Muitas aulas são dadas com as cadeiras em círculo para que haja participação intensa e debate. Nada chega pronto para o aluno. Ele deve colaborar com o processo de aprendizagem. No recreio, são apresentadas opções diversas para que a criança fique livre para escolher o que quer fazer.
- Avaliação: Esse método, originalmente, não inclui provas tradicionais, mas algumas escolas adotam os testes.
Socioconstrutivista
Vem das ideias do psicólogo bielorrusso Lev Vygotsky (1896-1934). Segundo ele, o aprendizado é produto das relações interpessoais e o aluno não pode ser dissociado do mundo em que vive.
- Objetivo: A troca entre aluno e professor sem relação de autoridade. Eles devem descobrir juntos a melhor maneira de aprender.
- O dia a dia: Há bastante trabalho em dupla e em grupo, com a participação ativa do aluno. Em vez de uma equação matemática ser apresentada com decoreba, é traçado um caminho em que a criança chegará à fórmula por meio de vivências.
- Avaliação: É semelhante à linha construtivista. Pode ou não ter provas, avaliação de trabalho, atividades e desempenho em geral.
Montessoriana
O método foi criado pela médica e educadora Maria Montessori (1870-1952) e defende que os professores devem ajudar no desenvolvimento das crianças para que elas se tornem adultos criativos e com iniciativa.
- Objetivo: O aluno é o foco, tendo certa liberdade de escolher o que quer aprender.
- O dia a dia: Algumas escolas se organizam em ciclos, e não em séries, e pode haver alunos de diferentes idades no mesmo ambiente. Outras características são a disposição circular das cadeiras na sala de aula, prateleiras com jogos pedagógicos acessíveis aos alunos e materiais sensoriais. Os trabalhos em grupo são bastante incentivados.
- Avaliação: Pode incluir provas. Em alguns casos, a nota é calculada de acordo com o desempenho e a produção do aluno na escola.
Waldorf
Desenvolvida em 1919 pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner (1861-1925), se baseia em uma filosofia holística. A escola procura equilibrar o ensino de conteúdo com o desenvolvimento de habilidades artísticas e musicais.
- Objetivo: O aprendizado deve incluir aulas de trabalhos manuais, noção corporal e dramatização teatral.
- O dia a dia: Aulas que em outras escolas podem ser consideradas extras, como tecelagem, crochê, astronomia, meteorologia, fazem parte da grade horária. “Os alunos são divididos por faixa etária, e não em séries, pois Steiner acreditava que cada idade tem necessidades específicas. O aluno permanece com a mesma turma e com o mesmo professor dos 7 aos 14 anos”, explica a psicopedagoga Quézia Bombonatto.
- Avaliação: São aplicadas provas, mas o grau de dificuldade do aluno com determinada matéria é levado em conta, assim como seu empenho em querer aprender.
Escolas bilíngues
Nessas instituições, o aluno sai falando fluentemente alguma língua estrangeira, como inglês, francês ou alemão, já que a alfabetização é feita em um dos idiomas e em português. Existem também escolas internacionais, nas quais as aulas são dadas na língua do país de origem e até a grade curricular é a mesma.
Nas americanas, por exemplo, o ano letivo começa em setembro. No caso das francesas, os alunos saem mais cedo às quartas-feiras, um costume do país. Nelas, a alfabetização não é em português, mas há algumas aulas na nossa língua-mãe.