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“Queremos representatividade para além do comercial de xampu”

A blogueira Rosangela J. Silva é nossa primeira entrevistada no Especial da Consciência Negra.

Por Gabriela Malta
Atualizado em 30 nov 2016, 14h26 - Publicado em 10 nov 2016, 17h05
A blogueira Rosangela Silva fez parte do nosso especial de Consciência Negra (Carolina Horita/MdeMulher)
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No dia 20 de novembro é celebrado o Dia da Consciência Negra.  Para reforçar a importância dessa data, neste mês, CLAUDIA procurou mulheres negras formadoras de opinião e militantes da causa para discutir temas como apropriação cultural, racismo e representatividade. Como resultado, lançamos uma série de entrevistas sobre a importância de se debater cada vez mais as questões raciais no Brasil.

A entrevista que inaugura nossa série é com Rosangela J. Silva. Blogueira e YouTuber, ela estava insatisfeita com as opções de batons disponíveis no mercado e, por isso, lançou uma coleção desenvolvida especialmente para tons de pele negra em setembro deste ano. Além disso, em seu canal do YouTube Negra Rosa, lançado em agosto de 2010, ela debate assuntos como estética e empoderamento da mulher negra.

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CLAUDIA: Como surgiu a ideia de montar um canal no YouTube?
Rosangela J. Silva : Até 2009, eu alisava meu cabelo com química, usando um procedimento chamado relaxamento. Mas isso deixou meu cabelo tão danificado que ele não passava da altura dos ombros nunca. Meu couro cabeludo também estava machucado. Diante de tantos danos, decidi cortar o cabelo bem curtinho – um corte joãozinho, como chamávamos – para ficar com o cabelo totalmente sem química. Desde então, não o alisei mais e fui aprendendo a cuidar dos meus cachos. Mas todo conteúdo que via sobre cabelos sem química, low poo e no poo era em inglês.

Então, em 2010, surgiu a ideia de montar o blog e o canal de vídeos para dividir com as meninas brasileiras tudo que aprendi. Quando comecei, encontrei apenas mais quatro meninas negras brasileiras no YouTube: Patricia Avelino, Fabiana Lima, Cinthya Rachel e Fernnandah Crilora. Seis anos depois, ainda não temos o mesmo espaço nem a mesma visibilidade de outras YouTubers, mas o número de mulheres negras na plataforma cresceu bastante. Hoje consigo citar mais de 25 canais.

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Você acredita que um canal no Youtube realmente contribui para a questão da representatividade?
Contribui bastante, já que na televisão e na publicidade ainda não vemos muitas mulheres negras. No YouTube, essa representatividade é maior, vemos mulheres com vários tons de pele, vários tipos de cabelo. Você olha essa variedade e se reconhece ali. As mulheres estão olhando para a tela do computador e vendo pessoas iguais a elas.

Quando estava insatisfeita com meu cabelo, pesquisei na internet e vi que várias mulheres já estavam usando os cabelos naturais. O Orkut [rede social desativada em 2014] tinha uma comunidade que concentrava mulheres de cabelos cacheados e, no YouTube, ví videos de mulheres negras americanas. Toda essa informação me mostrou que era possível me livrar da química. Hoje, as meninas já enxergam o cabelo crespo de outra forma e sentem vontade de conhecer seu cabelo. Eu fui conhecer o meu com 29 anos, apenas.

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Na sua opinião, nossa sociedade tem avançado na questão da representatividade?
Avançamos quando comparamos o cenário atual com o que era há alguns anos, mas não podemos estagnar. Não adianta colocar uma negra no comercial de shampoo e achar que está bom. Queremos e precisamos de representatividade dentro das empresas, trabalhando nelas, ocupando posições com poder de decisão. Em uma sociedade tão múltipla como é a nossa, se não há diversidade, alguém está sendo prejudicado, alguém não está conseguindo alcançar esses locais.

Existe um caminho para seguirmos avançando? Qual seria?
Sair do discurso e partirmos para a ação. Entendo as cotas como uma forma de garantir a possibilidade de acesso a essas posições de decisão que mencionei anteriormente. Para entender as cotas é preciso entender como foi a libertação das pessoas escravizadas no século XVII, que não garantiu a essas pessoas o direito de estudar. O racismo estrutural impede o negro de chegar a certos locais, e a universidade é um deles. Os cotistas têm bom desempenho, então não é uma questão de incapacidade, é de falta de oportunidade mesmo.

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E você criou uma linha de batons para mulheres negras. O que lhe motivou?
O foco da marca é pensar e desenvolver produtos para esses tons de pele negra, que são negligenciados. As marcas mais conhecidas estão avançando, lançando linhas que se adaptam a mais tons de pele, mas a variedade ainda não é suficiente e as pessoas não conseguem encontrar o tom ideal toda pele.

Gosto muito de maquiagem, especialmente de batom, e conversando com amigos meus comentei que, pelo tamanho do meu canal [mais de 27 mil inscritos], seria muito difícil as marcas entrarem em contato comigo para parcerias de desenvolvimento de produtos. Entre esses meu amigos estava a Ana, que é minha sócia hoje, e tivemos então a ideia de criar nossa prórpia linha de maquiagens que focasse na mulher negra. Nosso diferencial é exatamente o olhar de uma mulher negra – já tenho experiência com maquiagem e sei o que não funciona e o que pode ficar bonito.

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Não que as pessoas brancas não possam usar meus batons! Elas podem podem experimentar e ver se funciona para elas também. Nós negras usamos maquiagens que não foram desenvolvidas para gente o tempo todo.

Você acredita que a criação de uma linha de batons voltada para as pessoas de pele negra pode provocar alguma mudança social?
Sim! Nas reportagens que saíram sobre os batons, vi comentários das pessoas felizes com a criação de uma marca por uma mulher negra. Depois de tantos anos me acompanhando pelo canal, as pessoas se sentem de alguma forma parte disso e representadas por mim. Tem também a questão de ver um mulher negra em posição de comando. Sou proprietária de uma marca, isso dá incentivo para outras mulheres acreditarem nos seus sonhos. Claro que a oportunidade apareceu para mim, mas eu não desisti de avançar. Isso pode dar força para outras pessoa que queiram abrir um negócio próprio.

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