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Black das Blacks: Claudia com preço absurdo

Por que a cobertura da mídia nas Olimpíadas ainda é sexista

Não que a gente já não soubesse, mas é gritante a diferença no tratamento de atletas homens e mulheres.

Por Gabriela Kimura
Atualizado em 12 abr 2024, 15h08 - Publicado em 11 ago 2016, 15h22
Reprodução/Facebook/@Balãozinho Feminista (/)
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Pela primeira vez na história das Olimpíadas, o destaque (ou as destaques) é o sucesso feminino no esporte. São muitas atletas que estão brilhando (como sempre), ganhando medalhas, batendo recordes, rompendo barreiras sociais e culturais e provando que lugar de mulher é onde ela quiser. Ainda assim, a mídia insiste em focar na beleza delas, no quão jovens são ou em como um marido faz a diferença na carreira. E estamos falando de 45% dos esportistas participantes da Rio 2016!

Um estudo feito pela Universidade de Cambridge comprovou o sexismo – para nós, muito claro – na cobertura jornalística dos esportes. A partir da análise de mais de 160 milhões de palavras em jornais, blogs e redes sociais, percebeu-se que a escolha de cada uma delas é completamente diferente para homens e mulheres. Comparativamente, o volume de matérias dedicadas a elas é três vezes menor.

Quando se trata das atletas, as referências costumam ser sobre o estado civil, idade e, claro, aparência. Termos como “rápido“, “forte” e “fantástico” são diretamente utilizados no trato dos atletas homens – dificilmente vendo alguém questionar se eles são casados, têm filhos ou quão bonitos são seus corpos.

Alguns exemplos dos absurdos ditos somente nesta edição – sem contar os anos anteriores:

O véu do sexismo

Agência Reuters/Lucy Nicholson
Agência Reuters/Lucy Nicholson ()

A dupla das egípcias Doaa Elgobashy (19) e Nada Meawash (18), no vôlei de praia, chamou a atenção nesta temporada – e não foi pelo fato de ser a primeira participação do país na modalidade, ainda mais se tratando de duas mulheres jovens e que ainda não têm participação significativa na delegação.

O mais importante era falar sobre as diferenças de roupas que cada dupla usava: as brasileiras de top e biquíni, enquanto as egípcias jogavam de calça e hijab (véu).

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A roupa que importa mais que a história

Sean M. Haffey/Getty Images
Sean M. Haffey/Getty Images ()

Mais uma vez, a atleta refugiada – que venceu a guerra, a expatriação e o preconceito para estar nos Jogos – só recebeu comentários sobre o hijab por baixo da roupa de esgrima. Sua história ou perfomance são menos importantes que esse detalhe.

O responsável marido

Adam Pretty/Staff/Getty Images
Adam Pretty/Staff/Getty Images ()

Uma das principais estrelas desta edição, a nadadora húngara Katinka Hosszu está colecionando medalhas e já bateu o recorde mundial na prova. Porém, o importante para um âncora da emissora norte-americana NBC foi ressaltar que o responsável pelo fato era… o marido dela.

“As mocinhas do shopping”

Reprodução
Reprodução ()
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Será que essa era a única foto disponível para ilustrar a seleção?

Outro repórter também da NBC disse que a seleção feminina de Ginástica Olímpica dos EUA poderia “muito bem estar no meio de um shopping”. Fica a dúvida: será que ele diria o mesmo se fosse a equipe masculina?

A esposa do Bears

Reprodução
Reprodução ()

A medalhista de bronze em tiro esportivo da equipe dos Estados Unidos, Corey Codgell-Unrein, ganhou a manchete do Chicago Tribune por ser a esposa de um atleta dos Bears, time de futebol americano da cidade. Imaginem se ela tivesse um nome?

“Sem complexos”

Reprodução
Reprodução ()
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A goleira da seleção angolana de handebol, Teresa Almeida,merece destaque pela atuação e também por defender seu país em uma Olimpíada. Não por medir 1,70m e pesar 98kg – ou seja, estar “fora dos padrões” para as mulheres – e “não ter complexos” com isso, como afirmou a manchete do espanhol Marca TMF.

Além disso, uma prova interessante de que o sexismo impera quando falamos sobre corpo é a forma como o nadador etíope Robel Kiros Habte foi tratado em relação a ginasta mexicana Alexa Moreno. Para ela, as críticas de ser gorda, enquanto ele foi ovacionado e considerado “acima do peso” e fofo por ter um “dad bod”.

As “gostosas internacionais”

Reprodução
Reprodução ()

Difícil dizer que esta foi a chamada mais sexista que um veículo já publicou, principalmente perto das outras tantas que se vê por aí todos os dias. Mas o jornal El Mundo chamou as atletas – esportistas olímpicas, medalhistas, premiadas e fortes – de “olimpicamente atraentes”.

Isso porque o título foi alterado após as manifestações do absurdo, mas que, ainda assim, objetifica as mulheres como pedaços de carne para homens “se entreterem durante os jogos”. PS: posteriormente, o site publicou a mesma matéria com os atletas olimpicamente atraentes – seja lá o que isso quer dizer.

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A atleta “que nada como um homem”

Tom Pennington/Staff/Getty Images
Tom Pennington/Staff/Getty Images ()

O nadador norte-americano Ryan Lotsche chegou a afirmar que sua companheira de equipe Katie Ledecky é tão boa por “nadar como um homem”. Ela ganhou seu primeiro ouro olímpico aos 15 anos, tem nove títulos mundiais e bateu 20 recordes com menos de 20 anos – e o fato se deve por ela fazer isso “como um cara“? As atletas desta edição estão provando justamente o contrário: para vencer, é preciso jogar como uma garota.

As “bonecas suecas”

Reprodução
Reprodução ()

O jornal argentino Olé nem sequer pensou em colocar na chamada que essas “loiríssimas de olhos claros” são as melhores esportistas do país e, por isso, estão nas Olimpíadas. Só que a beleza delas chama atenção por onde passam, não é mesmo?

As mulheres bonitas que, olha só, são atletas

Cameron Spencer/Equipa/Getty Images
Cameron Spencer/Equipa/Getty Images ()

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Dificilmente, ouviremos algum narrador ou comentarista dizendo que Michael Phelps, além do corpão, é também um nadador. Ou que Usain Bolt, com todo aquele figurino esguio e atlético, é um mito no atletismo. Por que, então, precisam pontuar que as jogadores de vôlei por exemplo, além de lindas, são ótimas atletas?

E o que isso quer dizer?

As inúmeras manchetes, tuítes, posts no Facebook e Instagram, bem como a cobertura televisiva do evento, servem para instaurar a reflexão sobre o assunto. Essa é uma das temporadas mais incríveis paras as mulheres – na qual, diga-se de passagem, elas são os destaques -, como as atletas lacradoras que são. E não como os corpos “bonitos”, rostinhos “delicados” ou “solteiras interessantes” que ~certas pessoas~ insistem em objetificar.

Se você quiser saber mais sobre os números de (des)igualdade de gênero e Olimpíadas, a plataforma independente de jornalismo de dados Gênero e Número traz gráficos e análises bem interessantes sobre as diferenças das abordagens quando se trata de mulheres. Além disso, o think-tank Olga também criou um minimanual do jornalismo humanizado – uma ótima referência para evitar erros desse tipo e outros tão sexistas quanto.

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