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O poder da intuição: saiba como usufruir da sua voz interior

Se você é sensível e acredita que possui um "sexto sentido", é provável que você esteja certa!

Por Anna Laura Moura Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 16 abr 2024, 12h43 - Publicado em 24 fev 2018, 18h00
 (Thinkstock/Reprodução)
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Quem nunca teve um mau pressentimento? Ele surge quando você menos espera e é acompanhado de angústia, aperto no peito e a sensação estranha e perturbadora de que algo não está certo. Quando essas percepções surgem, você costuma ter certeza de que algo ruim está por vir. Algumas pessoas chegam a desistir de viagens e outros planos, mesmo não havendo motivo racional para isso.

Muitos chamam essa sensação de intuição e, para alguns, tal ideia difere de mulheres para homens. Mas afinal, o que acontece com a mente quando esse sentimento surge? A intuição feminina existe?

CLAUDIA entrevistou três especialistas com visões diferentes sobre o assunto.

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A intuição para a psicologia

A psicóloga Katia Larsen, especialista no assunto, explica que a intuição pode ser identificada com base em alguns indicativos que demonstram que aquela sensação veio, na verdade, do inconsciente.

“Taquicardia, borboletas no estômago, sensação de medo no coração e alteração no ritmo respiratório são alguns dos sinais que não devem ser ignorados. Mulheres têm uma sabedoria interna que ultrapassa nossa mente analítica. Ela vem do inconsciente e pode ser sentida no corpo pelas sensações corporais como um sinal para seguirmos adiante ou evitarmos alguma atitude ou decisão”, conta.

Porém, é preciso se atentar ao fato de que transtornos psicológicos também podem ser a causa dessas sensações. No entanto, elas ocorrem de diferentes maneiras e intensidades. “A diferença entre alguns desses sinais e ansiedade e estresse, por exemplo, é que são sinais passageiros. Assim que percebemos e tomamos consciência do que está ocorrendo, eles se dissolvem. Nos transtornos psicológicos, os sintomas não desaparecem, eles se intensificam”, explica a psicóloga.

É como se a intuição envolvesse uma sensação mais sutil do que perturbadora. O diagnóstico de um transtorno de ansiedade, por exemplo, é dado quando uma lista de sintomas com determinada frequência e intensidade é apresentada, o que é bem diferente de sinais leves e transitórios que o nosso corpo apresenta para nos conectar com as informações da nossa sabedoria interna, explica Katia.

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Segundo a especialista, todas essas sensações pessoais originárias do nosso inconsciente podem ficar ainda mais intensas no período menstrual. Alguns estudos comprovam a relação entre a variação dos hormônios femininos e os neurotransmissores como a noradrenalina e serotonina, que são os moduladores do humor, do bem-estar e do estado de relaxamento.

“O aumento da sensibilidade nos períodos de menstruação (TPM) abrem a possibilidade da mulher se escutar mais, pois naturalmente seu corpo pede um certo recolhimento. A intuição está sempre lá, independentemente da oscilação hormonal, mas a sensibilidade corporal pode nos colocar mais atentas ao que está ocorrendo ao nosso redor”, revela a psicóloga.

Mas, afinal de contas, por que as mulheres são mais sensíveis à essas sensações? De acordo com Kátia, o corpo da mulher tem ciclos como a natureza e ritmos como a lua, a cada 28 dias. Esses ciclos geram transformações de humor e de necessidades que mexem com a psique feminina, abrindo para um estado mais sensível e vulnerável, o que a torna mais receptiva a essa função.

Os homens também são capazes de ser intuitivos, uma vez que a intuição é um traço psíquico do ser-humano; entretanto precisam se render à sensibilidade, à natureza e ao fluxo da vida, coisa que a cultura machista não os permitiria fazer.

A psicóloga afirma que essa personalidade tátil pode variar. “Todas as funções psíquicas se comunicam em maior ou menor grau. Algumas pessoas são mais mentais, outras já são mais sensoriais. Podemos equilibrar nossas funções psíquicas para que ativemos as menos dominantes através de práticas, meditações, arte etc”, afirma.

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Nem sempre surgem de imediato as respostas concretas. “Podemos tomar como referência o universo dos animais como o instinto e o universo vegetal como a sabedoria das árvores de uma floresta, que prevê a destruição da sua espécie e cria formas de preservação natural. Somos parte dessa natureza, nossa natureza humana com consciência“, reflete Kátia.

A intuição para a Psicanálise

Dr. Cezar Siqueira, psicanalista, acredita que de fato a intuição existe e é um fenômeno psíquico, mas muito além disso. “Quando falamos da intuição feminina como um dom, estamos falando da capacidade de antecipar ou antever algo sem saber muito bem o por quê. Como fenômeno, a intuição tem essa característica, uma ideia que vem de outro lugar”.

Para a psicanálise, a intuição como presságio ou premonição só pode ser verificada após o ocorrido. “Curiosamente, é muito mais fácil dizermos que intuímos algum acontecimento quando essa coisa já aconteceu. Temos mais certeza à medida da confirmação. A gente tem uma validação muito grande da intuição quando ela de fato se concretiza”, explica.

Além disso, o psicanalista afirma que geralmente é embasado em algum acontecimento anterior, traduzido em sensações, não pensamentos. “Uma certeza sensível, e não racionalizada. Vem a partir de uma coleta de informações emergentes de experiências passadas”.

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O especialista afirma que a intuição e a paranoia podem ser facilmente entrelaçadas. “Pode ser uma paranoia doce“, diz em tom de brincadeira. “É fácil isso acontecer. Ela é um tanto inofensiva, mas o fato de vir do nada e sem nenhum motivo concreto, com caráter de certeza e tomando o sujeito com uma força de que tal situação irá certamente acontecer, é muito fácil uma paranoia ser disfarçada de intuição”.

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Para ele, a sensação nos bastidores é a razão por trás dos pensamentos, onde o ser-humano sempre se angustia diante do desconhecido e da falta do saber. “Intuir nada mais é do que antecipar-se frente aquilo que não sabemos o que é”, afirma.

Além disso, o psicanalista mostra a diferença entre o inconsciente feminino e masculino: depende muito de como ambos os gêneros enxergam suas angústias. “Existe hoje uma certa mitologia com relação ao dom feminino e as diferentes capacidades de gênero. Há um peso social muito grande. Nada tem a ver com a capacidade de um homem ou uma mulher serem intuitivos. Sabemos hoje que homem e mulher são construções sociais. A intuição perde lugar numa sociedade onde o homem é proibido de chorar e obrigado a ser sempre racional”.

Questionado sobre a relação da intuição com transtornos psicológicos, dr. Cezar afirma que qualquer pessoa com quadro grave ou não, pode ter sua percepção de mundo influenciada por questões inconscientes e leituras equivocadas. “Na psicanálise, tratamos os transtornos mentais como singularidades, e não ‘doenças’. É uma paranoia quando isso atrapalha a vida da pessoa. A paranoia só é ‘doce’ quando não interfere sua qualidade de vida”.

A intuição para a Neurociência

A intuição é baseada e aflorada no conhecimento prévio e área de atuação, de acordo com o dr. Igor Duarte, neurocientista. “Um médico, por exemplo, não tem intuições na área de Física. Como as mulheres, no decorrer da evolução, sempre tiveram relação com múltiplas tarefas, o cérebro feminino se especializou em buscar várias informações e sensações. Por isso, a mulher de fato tem uma habilidade intuitiva maior do que as dos homens”, aponta.

O cérebro funciona basicamente por hormônios, alguns mais evidentes no corpo feminino, sendo um agravante. “Tem uma área do órgão que se chama corpo caloso, responsável por conectar o lado esquerdo do cérebro ao lado direito do mesmo. A mulher tem cerca de 250 milhões de neurônios a mais só nessa região, comparado com o homem. Essa conexão é melhor no corpo feminino, onde busca mais sensações e com mais eficiência”, explica Igor.

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“Existe uma outra área do cérebro presente em ambos os gêneros: o giro do cíngulo anterior. Essa área é mais evidente na mulher, sendo responsável pela antecipação de problemas negativos. Muito ativada quando a gente tem uma expectativa de algo ruim. Como normalmente as intuições tem um caráter perigoso, e sendo maior no corpo feminino, isso também pode ser um componente a mais”, pontua.

Dr. Igor afirma que a questão cultural é um agravante quando se diz respeito às sensações. “Quando um homem diz que sentiu ou pressentiu algo, ele acaba sendo motivo de piada na roda de amigos. Por isso, para não ser ridicularizado, o rapaz acaba por reprimir essas situações e ignorar os sinais que seu cérebro fornece”.

Mas será que, através desses dados, é possível afirmar cientificamente a incapacidade dos homens para intuir tal qual as mulheres? Dr. Igor discorda. “A intuição é algo do cérebro. Isso não significa que o homem não possa ser intuitivo. Se houver treino, eles conseguirão alcançar as mesmas habilidades. Basta desenvolver. O problema é que homens, em geral, não dão importância para os sentimentos. Por isso, é mais complicado desenvolver esse lado”, explica.

Questionado sobre os transtornos psicológicos através da visão neurocientífica, Igor afirma que a depressão é mais comum em mulheres pela questão hormonal, sendo normalmente relacionada à serotonina, substância existentes nas mulheres cerca de 60% a mais que homens. “Quando o cérebro fica em baixa na questão do humor, a área antes mencionada – ativada para reações negativas – oscila muito, principalmente para quem tem Depressão. Por isso, essas pessoas tendem a ter mais premonições, diferente de quem tem o humor mais normalizado”. Para o doutor, não é possível confundir sintomas de transtornos com a intuição: uma condição de depressão faz o cérebro ficar mais atento à situações negativas, suprimindo qualquer informação positiva.

Falando sobre preconceitos e sensações, dr. Igor afirma a relação com experiências anteriores. “O que os jornais passam, por exemplo, dos criminosos serem em sua maioria negros, induz nosso cérebro à crença na pele escura como característica do mal. Isso pode se tornar um preconceito racial. Para separar as duas coisas, parte muito de colocar isso na mente de forma consciente. O que ocorreu com o jornalista William Waack, por exemplo, é algo muito comum no povo brasileiro. Isso está relacionado à questões sociais, ambientes e informações que adquirimos”.

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As mulheres de hoje sofrem com o enorme dilema: viver aquilo que sentem no seu íntimo ou seguir o coletivo, que é aquilo que a sociedade impõe. Para viver a própria verdade, é preciso ser dona de si, acreditar em si mesma, abrir mão dos padrões limitantes  o que sabemos que é a parte mais difícil  e seguir sua própria intuição sem ser necessário justificar tudo o que é sentido com respostas objetivas.

Sendo capaz de aflorar em qualquer mente humana após aperfeiçoamento, é fato que a intuição é natural quando se diz respeito à psique feminina. Por isso, usufruir das nuances que constituem a mente quando se é uma mulher, pode ser o grande passo para conectar-se com seu eu interior.

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