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Como recuperar amizades afastadas após meses de isolamento?

O isolamento social trouxe consequências para as amizades. Com um novo cenário, talvez seja hora de retomar os laços importantes

Por Gabriela Maraccini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 nov 2022, 15h43 - Publicado em 20 out 2020, 14h00
 (Klaus Vedfelt/Getty Images)
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Alguns memes que circulam na internet mostram um calendário de 2020 com os meses janeiro, fevereiro, pandemia, dezembro. Essa sensação de isolamento expandido não é para menos. Afinal, estamos em casa (ou vivendo em circunstâncias atípicas) há sete meses.

No campo dos fatos, temos números alarmantes de mortes, o aumento do desemprego e o acúmulo de tarefas em casa, principalmente para quem tem filhos em idade escolar. Na seara dos sentimentos, já vivemos lutos, angústias, pânico e alguns momentos de esperança.

As desavenças não foram poucas, em especial entre aqueles que levaram a situação a sério e respeitaram o distanciamento e os que foram pegos ou postaram nas redes sociais fotos em festas clandestinas e viagens. “A pandemia e os malefícios que ela causou emocionalmente e psicologicamente precisarão ser avaliados”, aponta a psicóloga Marilene Kehdi.

Diante desse cenário complexo, é normal que as amizades tenham perdido o brilho – como faz falta uma mesa de bar ou um jantar para dar boas risadas! Agora que os ânimos se acalmaram e que as flexibilizações começaram, é hora de retomar as relações pausadas ou ao menos repensá-las. Algumas conexões merecem atenção e carinho.

E também exigem alta dose de empatia para compreender que, nesse período, tudo bem ter dado uma sumida. Mesmo se prevenindo e evitando contato frequente, há formas de se reaproximar de figuras queridas e humanizar mais as parcerias.

 

Trabalhe a empatia

É preciso ter respeito pela pessoa com quem você deseja se reaproximar, claro, mas também consigo mesma. Reflita para entender se já está emocionalmente preparada para essa retomada. Depois, avalie o contexto em que seu amigo está inserido. Ele está sobrecarregado? Da última vez que vocês se falaram, como ele estava psicologicamente?

“O respeito e a empatia andam juntos. Ao se esforçar para enxergar pelos olhos dele, dá para compreender o que está vivendo”, explica a psicóloga clínica Mariana Nora*. Tome cuidado com as cobranças, seu amigo não tem que atender a suas expectativas.

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“Precisamos sair do nosso território de certezas e parar de orbitar pelo narcisismo. Só assim poderemos acolher algo que é do outro. Veja se consegue se interessar pelo que a pessoa tem a dizer, mesmo que não possua as mesmas convicções”, aconselha Ana Suy Sesarino Kuss, psicóloga e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).

 

Lembre-se do que vocês têm em comum

Tente resgatar os pontos fortes da relação. O que vocês gostavam de fazer juntos? Qual paixão compartilhavam? A estudante Viviane Neves Garcia Torre, 23 anos, ficou anos sem conversar com sua melhor amiga. As duas brigaram depois que uma delas se envolveu em um relacionamento tóxico e se afastou.

Em março, já no isolamento, resolveram dar mais uma chance à amizade. “Ela é uma pessoa extremamente importante para mim. A primeira vez que voltamos a conversar, me mandou um áudio de 25 minutos”, conta, rindo. “Depois, nos adicionamos novamente nas redes sociais, trocamos memes e acho que isso quebrou o gelo. Agora, por videochamadas, mostramos maquiagem e roupa que compramos como fazíamos antes da briga.”

“Talvez seja esta a oportunidade de escutar a sutileza de cada um, de entender como podemos fazer isso de maneira confortável, sem que seja uma obrigação”

Ana Suy, psicóloga

Torne o virtual mais humano

Durante o período de quarentena, usamos a internet para promover encontros. Obviamente, não chega nem perto daquela sensação gostosa de abraçar alguém querido, mas melhor uma
happy hour virtual do que nada. Em vez de trocar mensagens de texto, marque uma ligação ou videochamada. Ouvir a voz e ver as expressões do amigo faz muito bem para a relação.

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“Essa troca nos aproxima mais da realidade”, opina a psicóloga Mariana. Reúna seu grupo, combine o que vão beber e comer e aproveitem, mesmo que cada um esteja em sua casa. Dá para fazer um almoço, jantar e até churrasco de domingo. “Chamamos isso de estratégia de enfrentamento. É um modo de lidar com esses momentos de adversidade”, explica ela.

DUPLA 01
(Klaus Vedfelt/Getty Images)

Faça uma surpresa

Caso você não aguente nem mais um minuto de videochamada, há outras formas de demonstrar carinho. A profissional de relações públicas Laura Magalhães Barbosa, 27 anos, está em isolamento rigoroso porque sofre com asma desde pequena, condição que a coloca no grupo de risco da Covid-19. Além disso, a rotina corrida do home office a impede de manter trocas de mensagens frequentes.

Ela optou então por uma alternativa fofa. “No começo da pandemia, comprei flores e cervejas para alegrar o dia de três amigas e mostrar que eu estava presente”, relata. A prática virou hábito. Desde então, Laura se organiza para surpreender os amigos com mimos.

“Já dei tábuas de frios e bolos. Acho supergostoso procurar ideias na internet. Foi assim que encontrei uma marca que faz caixas de presente em Moçambique e enviei para meu irmão, que mora lá”, conta.

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Pense em alternativas

Ainda não é o momento ideal para reunir muita gente. Mas, se estiver sentindo muita falta de uma conexão presencial, algumas atividades podem ser realizadas ao ar livre, com restrições, seguindo as orientações das autoridades de saúde.

Por exemplo, combine com um amigo de fazer uma caminhada ou andar de bicicleta (usando máscaras, é claro). “Além do convívio social, essencial para a saúde mental, vocês estarão praticando um exercício, algo muito importante também”, afirma Mariana.

Se você mora sozinha e se sente segura, convide-o para ir à sua casa. “O contato físico não vai ser possível, mas a troca de olhares, sim. O amigo, por sua vez, dará uma demonstração de respeito, cuidado e apreço se usar álcool em gel ou levar um chinelo para a casa da pessoa”, opina Mariana.

A estudante Sofia Andreassa, 23 anos, comemorou com dois colegas o aniversário de um deles. “Eles passaram bastante álcool nas mãos e não nos abraçamos, apesar da saudade”, ressalta.

Entenda que cada um é um

Não existe uma regra para o que estamos vivendo. As decisões são individuais, mas não podem ultrapassar os limites do outro nem aqueles impostos pelo governo, claro. Entenda que nem todos estão prontos para sair de casa e que alguns não conseguem estabelecer um vínculo forte por meio de mensagens ou videochamadas.

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“Varia de uma pessoa para outra o modo de proceder. Temos realidades diferentes, é ruim massificar e propor que seja de um jeito x ou y”, diz Ana Suy. “Talvez seja esta a oportunidade de escutar a sutileza de cada um, de entender como podemos fazer isso de maneira confortável, sem que seja uma obrigação”, conclui a psicóloga.

 

*CRP 12/15000

O que falta para termos mais mulheres eleitas na política

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