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“Falar em Dia dos Pais era lembrar do que todos tinham, menos eu”

Marcos Piangers escreve sobre o Dia dos Pais antes e depois de ter suas filhas, Anita e Aurora

Por Marcos Piangers
Atualizado em 16 abr 2024, 10h52 - Publicado em 12 ago 2018, 09h31

Se alguém me perguntasse lá atrás, jamais me imaginaria escrevendo sobre o Dia dos Pais. Em nenhum momento da vida. Afinal, quando criança, nessa data sempre me sentia abandonado. Mas hoje meu peito se enche de gratidão. Foi preciso muito tempo para eu entender que o cara que abandonou minha mãe grávida na verdade não se sentia preparado para a paternidade. Porque nem ele nem quase nenhum outro homem deste lado do mundo são preparados para ser pais.

É esperado do homem duas coisas: que seja pegador e provedor. E, então, ele vai tentar namorar (usei um termo comportado aqui) o maior número de mulheres para mostrar aos iguais como é macho. Também tentará juntar a maior quantidade de dinheiro possível para provar quanto é bem-sucedido. Esse é o referencial de masculinidade que está em todo lugar, de livros e filmes a conversas e piadas. Por isso não me surpreendo quando um homem foge da paternidade. Penso que ele foi criado para ser um idiota. E abandonar uma mulher grávida seria só mais uma de suas idiotices. Sem que tenha consciência do que perdeu ao fazer isso.

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Para quem não sabe, eu conto. Depois de ter convivido com uma mulher grávida, que gerou nossas duas filhas, digo que esse homem perde a chance de acordar ao lado da coisa mais fofa do mundo. De ter sua vida transformada por um amor maior do que se consegue explicar. De ouvir reflexões maravilhosas durante um simples jantar. De ganhar abraços e beijos antes de dormir. De sentir um orgulho cotidiano ao perceber que ajuda a construir uma boa pessoa. De conhecer um senso de realização para além do seu trabalho no escritório. Para muito além de qualquer outra conquista. Porque no final da vida ninguém se lembra de quantas mulheres pegou ou quanto dinheiro juntou. E, mesmo que se lembre, isso não importa. Acredito que qualquer um trocaria quase tudo por mais um dia de vida ou dez minutos abraçado com os filhos. Por mais dez segundos respirando esse amor tão inteiro e profundo.

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Conto também o que perdi ao ser abandonado. Quando era pequeno, tinha a apresentação escolar no Dia dos Pais. Eu me sentia sem um braço. A professora mostrava para a turma que éramos parte de uma árvore genealógica, formada por galhos que vinham dos nossos pais, avós, bisavós e tataravós. Eu era a árvore pela metade. Tinha todo um lado meu que eu não sabia de onde vinha, que não tinha nome ou outras referências. Então, falar em Dia dos Pais era lembrar do que todos tinham, menos eu. Algo mais doloroso que não usar o tênis da moda ou não ganhar um videogame no Natal.

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Minha mãe se esforçava. Pagava as contas sozinha, estava sempre trabalhando, sem tempo nem dinheiro para nada. E se preocupou em me educar com um objetivo importante: que eu não fosse pegador ou provedor. Um dia, disse ela, você vai ser pai. E não repetirá o erro do seu pai biológico. Você será um bom pai. Desde então, é o que venho tentando ser, mãe! Principalmente a partir do momento em que minhas filhas mudaram a minha vida em tantos sentidos que faltaria espaço nesta página. Elas mudaram também a forma como me sinto nas festinhas da escola.

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Hoje, nessas ocasiões, é como se meu coração quintuplicasse de tamanho ou se eu não merecesse tanto amor, tanta cartinha colorida com meu nome, tanto presente feito à mão. Sinto como se as apresentações que elas fazem, descoordenadas e desafinadas, fossem um Tchaikovsky ao vivo. É emocionante. Aponto para minhas meninas, cheias de dificuldades, e digo para quem está ao meu lado: “Olhe! Aquelas ali são minhas! Eu as fiz!” – me considero sortudo e agradecido. E acho que, depois de tanto tempo, finalmente, me completo.

*Marcos Piangers é pai de Anita e Aurora e autor de ‘O Papai É Pop da editora Belas Letras’.

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