Depois de um acidente, produtora deseja repensar as marcas do corpo
A jovem Bruna de 27 passou por acidente, queimando 30% do seu corpo. A partir daí, um novo olhar nasceu a seu respeito
“Nada me marcou tanto quanto meu acidente em janeiro. Ter ele todo marcado assim e ter queimado 30% da minha pele até os meus seios foi por muito tempo algo que me deixava inconformada”. Transformar inseguranças em inspiração é um caminho cheio de obstáculos. Esse era um dos desafios da Bruna Mara, produtora cultural, poeta e ativista de 27 anos mais conhecida como “Light skin Folgada”.
Em janeiro de 2018 Bruna fez uma viagem para a Bahia, e enquanto cozinhava seu vestido entrou em contato com o fogo, provocando queimaduras de terceiro grau em sua barriga e pernas. Seu primeiro pensamento quando viu o que estava acontecendo era que seu rosto não fosse atingido pelo fogo. A partir daí um novo olhar sob ela mesma começava a surgir.
Pensar em sua ancestralidade e ler seu corpo como algo que carrega além da sua história foi um processo importante enquanto Bruna se entendia como uma nova pessoa depois do trauma. “Nosso corpo é marcado por várias violências e vivências desagradáveis e nós projetamos nele. Eu fiz muito isso e ainda faço”, disse ela emocionada ao falar sobre o ocorrido.
Além de ter que passar pelo processo de aceitar seu corpo com uma nova estética causada pelo acidente, ela ainda precisa lidar e se livrar da culpa. Bruna acreditava que nunca mais seria vista da mesma forma e que as pessoas não iriam mais se sentir atraídas por ela mas “isso tinha muito a ver com a forma que eu me sentia. Eu não estava feliz”, disse. Respeitar o próprio tempo e não ser tão duro com as coisas que não se pode controlar foram um dos caminhos tomados por ela.
No editorial “Marcas 3.0” realizado pela ID Prod, ela aparece frente ao espelho passando a mensagem de que, enfim conseguiu se olhar nos olhos depois de tantos desencontros consigo, e entrando em confronto com sua trajetória. “A ideia de expor meu corpo, voltar a sair, tirar foto e me olhar como corpo de alguém que merece todas as coisas boas que as pessoas tem foi uma coisa boa. Me fortaleceu de certa forma. Para mim tudo ficou muito mais sensível”, ela aprendeu uma nova forma de tocar seu corpo e como outras pessoas a tocassem. Uma relação de amor com suas marcas e vivências surgiu. “Quando falo sobre a vida fazer sentido e qual marca deixar no mundo, é pensar em formas de entender a minha existência como algo que vai inspirar outras pessoas que passaram pela mesma situação”.
Através de sua história a poetisa deseja inspirar outras pessoas que passaram mesma situação. “As pessoas te projetam como ‘a menina que sofreu acidente e se queimou’, mas eu queria ser muito mais que isso. Elas associam você aquilo e levantam memórias de acidente e perdem essa sensibilidade para entender que isso mexe com tudo”.
Um novo olhar sobre seu corpo e as marcas que ela deixa no mundo começa a nascer após o acidente. Bruna precisou transformar seus receios em inspiração e encarar seus medos frente a frente. A jovem encarava sua experiência como algo ruim, mas com o tempo sua percepção sobre o assunto a levou a outro patamar, muito além do estético. Quase um ano depois do acidente ela ainda não superou mas aprendeu a respeitar seu próprio tempo e o que tem mais significado é tentar fazer com que sua narrativa e possa impactar outras vidas.
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