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Dá pra acreditar nesse cara?

Às vezes, um encontro vira a piada do pior tipo: sem graça

Por Liliane Prata
Atualizado em 28 out 2016, 03h39 - Publicado em 9 set 2015, 09h36

Tem muita coisa nesta vida que parece piada, mas, infelizmente, não é. Até lembra uma piada, mas pelo absurdo, não pela graça.

Semana passada, encontrei uma conhecida na rua e acabamos indo almoçar em um restaurante que serve um risoto sensacional. Enquanto esperávamos, ela compartilhou comigo um caso de que nós duas adoraríamos rir, mas que não tinha graça nenhuma. E eu, que sempre tento olhar o lado bom das coisas e tratar com alguma condescendência essa bagunça chamada “gente”, mordi os lábios de raiva. Bom, pelo menos a conversa rendeu o tema desta crônica (não falei? Lá vou eu, tentando olhar o lado bom das coisas. Sou um caso perdido). Enfim, eis o que aconteceu.

Essa minha conhecida, que vamos chamar de F., estava solteira e sossegada havia algum tempo quando uma colega dela, que não vou chamar por inicial nenhuma, disse:

– Tenho um cara incrível pra te apresentar.

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F., que não é boba nem nada, sorriu e concordou em conhecer o cara. Foram apresentados em uma quarta-feira. Papo vem, papo vai, os dois marcaram um bar na noite seguinte.

O bar foi bem agradável: muitos assuntos, sorrisos, enfim, uma certa conexão se estabeleceu. Pagaram a conta, entraram no carro dele e começaram a ficar animadinhos: no primeiro beijo os dois sentiram uma química absurda e aí foi beijo pra cá, mão pra lá, sabe como é. Então o cara propôs:

– O que você acha da gente estacionar em um lugar mais afastado, hein?

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F. topou. Afinal, São Paulo é um perigo, mas eles estavam animadinhos, cada um morava com seus pais e os dois, recém-saídos da faculdade, não estavam esbanjando dinheiro.

Chegaram ao tal lugar mais afastado. Voltaram ao esquema beijo pra cá, mão pra lá. E foi quando ele a deitou no banco de trás que a piada-não-piada foi contada. F. narrou:

– Eu estava de saia. Ele abaixou minha calcinha. Daí, Lili… Ele parou. Ajoelhado, afastou o corpo. Me olhou nos olhos, bem sério. E falou: “Qual é o seu problema, F.? Como você deixa um cara fazer uma coisa dessas com você?”

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– Hã? – eu disse.

– Foi o que eu falei: “Hã?”. Mas ele continuou: “Você não pode deixar um cara fazer isso com você. O que você tem na cabeça, hein? Fico pensando se algum sujeito fizesse isso com a minha mãe ou a minha irmã… Assim, num carro! Com alguém que você conheceu ontem! Pelo amor de Deus… Você precisa se dar ao valor, F.!

“Você precisa se dar ao valor, F.”: com essa frase ecoando nos ouvidos, F. recolheu a calcinha, saiu do carro e, no meio do nada, chamou um táxi, enquanto o cara deu a partida e foi embora.

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– Eu não queria me sentir envergonhada, mas me senti. Entrei no táxi tremendo e chorando – ela me disse.

Uma parte de mim queria rir da loucura do sujeito que, no fim, ficou sem sexo com alguém que, por um momento, desejava exatamente o mesmo que ele. Acho que o normal seria achar essa correspondência uma sorte, uma alegria, um prazer. Mas ele achou que fazia mais sentido dar um sermão na outra pessoa envolvida. Em todo caso, o resto de mim não estava em clima de riso.

– Sabe, sei lá o que eu tinha na cabeça. Eu só estava a fim de uma aventura, entende? – ela falou.

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– É claro que entendo. É um babaca. Nem pensa nisso – foi tudo o que eu acabei dizendo.

Nossos pratos chegaram e demos as primeiras garfadas sem falar nada. Tem piadas que não são piadas e, em vez de riso, arrancam silêncio. É preciso tomar cuidado, pois muitas vezes são tóxicas: se a gente tocasse nela, a fumaça se espalharia ao nosso redor e ficaria desagradável respirar por um tempo. Melhor suspender as palavras por alguns instantes. E usar a boca para mastigar aquele risoto que, afinal, era sensacional.

Liliane Prata é editora de CLAUDIA e escritora. Para falar com ela, clique aqui!

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