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Um relato sobre a pandemia em um dos países mais ricos da África

Ativista ambiental conta como está a situação na África do Sul, país que caminha para a terceira semana do isolamento determinado pelo governo.

Por Colaborou: Gabriela Teixeira
Atualizado em 9 abr 2020, 13h01 - Publicado em 9 abr 2020, 09h45

Era 5 de março quando foi confirmado o primeiro caso de coronavírus na África do Sul. Hoje, 8 de abril, de acordo com dados do Departamento de Saúde, são 1845 contaminados e 18 mortes, o que faz com que o país seja o mais afetado pela pandemia no continente. Assim como no Brasil, o primeiro caso oficialmente registrado foi de um homem que recentemente havia estado na Itália. “Enquanto o governo monitorava os números e fazia os testes, fomos orientados a manter bons hábitos de higiene, não divulgar notícias falsas e comprar álcool em gel e máscaras”, explica Merylene Chitharai, de 35 anos.

Moradora de Phoenix, um município majoritariamente indiano localizado na costa leste do país, a arquiteta e ativista ambiental diz que a contagem estava por volta dos 40 casos quando o presidente Cyril Ramaphosa fez um discurso sobre o Estado da Nação (espécie de pronunciamento, geralmente anual, em que o presidente aborda a situação do país) dedicado à pandemia. “Após o discurso tudo ficou louco. As pessoas começaram a fazer compras impulsionadas pelo pânico, os preços subiram, pessoas espalhavam fake news. Então o presidente precisou tomar algumas medidas”, relata.

Por determinação de Ramaphosa, qualquer pessoa infectada pelo vírus que intencionalmente saísse nas ruas, pondo a vida de outros em risco, poderia ser acusada de assassinato. Já quem divulgasse notícias falsas poderia receber uma pena de até seis meses de prisão, além de uma multa. Lojas que aumentassem vertiginosamente os preços de seus produtos também seriam multadas. Eventos que pudessem reunir mais de 100 pessoas foram cancelados e viagens para países onde o número de casos era grande, como Itália, China, Irã e Estados Unidos foram banidos. Houve ainda um reforço no monitoramento e testagem realizada em aeroportos.

No dia 26, um bloqueio de três semanas foi instaurado e deve ser mantido até o dia 16 de abril. Apenas pessoas que trabalham em atividades essenciais estão autorizadas a sair, a maioria do comércio foi fechada e aulas foram suspensas. Respeitando o isolamento, Merylene tem ficado na casa onde vive com os pais, o irmão, a cunhada e uma sobrinha e sobrinho pequenos. “Estamos acostumados a ter a companhia um do outro todos os dias, então o isolamento não impacta tanto nesse sentido, pois nos damos bem e amamos estar juntos. Mas estamos sendo afetados economicamente, porque nem eu, nem meu irmão ou cunhada podem trabalhar. Então financeiramente será difícil, mas tentaremos nos apoiar.”

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Merylene Chitharai
A arquiteta e ativista ambiental Merylene Chitharai vive em Phoenix. Ela acredita que, além das economias e dos sistemas de saúde, o vírus impactará as relações humanas e o modo como lidamos com o meio-ambiente. (Robyn Perros/Arquivo pessoal)

O impacto que o coronavírus terá na economia sul-africana já foi abordado pelo presidente em outro discurso. Enfrentando uma recessão anterior ao corona, o país viu sua moeda, o rand, se desvalorizar em 1,3% em relação ao dólar após as confirmações das primeiras mortes.  Conhecendo pessoas que tiveram que fechar seus pequenos negócios por causa da crise, Merylene reconhece que a economia sofrerá severamente, mas afirma ter se surpreendido positivamente com as ações tomadas pelo governo para amenizar os danos econômicos, como a criação de um um fundo de apoio para auxiliar pequenos empreendedores e de outro destinado a ajudar os mais pobres e para o qual qualquer pessoa pode doar. “É interessante perceber que antes disso havia uma grande tensão no governo. Os políticos não trabalhavam juntos, estavam brigando constantemente. Então é incrível notar como os 14 partidos políticos se juntaram para lidar com essa ameaça.”

Além da economia, a capacidade do sistema de saúde sul-africano também será testada pela pandemia. “Basicamente, o sistema foi criado para os ricos. Se você não tem um plano de saúde, você está encrencado”, conta a arquiteta. Segundo ela, quem não tem dinheiro para pagar as consultas e precisa recorrer aos hospitais públicos acaba tendo que enfrentar longas horas na fila de espera para ser atendido. Um resultado de exame pode levar de dois a três dias para ser entregue. “Quando se trata dos hospitais do governo, o sistema é bem precário. Claro, existem exceções e alguns são bons, mas quando se tem plano de saúde e é possível ir a um hospital privado, fica mais fácil receber um bom tratamento”, diz. “Contudo, após a chegada do coronavírus, o governo proibiu os médicos de aumentarem o preço das consultas e determinou que eles devem ajudar a população. E existem muitos médicos que estão bastantes dispostos a isso”, completa.

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Para Merylene, entretanto, o comportamento humano como um todo será o maior impactado. “Penso que fará com que as pessoas reflitam e enxerguem a vida de forma diferente. Não estávamos preparados para enfrentar uma crise como essa em nível global porque nos tratávamos como inimigos, sempre pensando em como explorar o outro. Mas agora estamos vendo algo que ataca a toda humanidade. O vírus não discrimina raça, gênero, cor. Ele ataca cada um e todos. Isso abre nossos olhos para qual é o nosso lugar nesse mundo.” Como ativista ambiental, ela também acredita que a pandemia poderá nos ensinar a coexistir com a natureza. “Podemos ver que a natureza está florescendo e que a poluição está diminuindo drasticamente. O vírus pode nos trazer muitas lições sobre como mudarmos e agirmos melhor.”

Em tempos de isolamento, não se cobre tanto a ser produtiva:

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