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Mulheres com mais de 60 vencem preconceito e bombam na web

Elas acumulam likes ao compartilhar o cotidiano com bom humor e criam um novo nicho de influenciadoras digitais

Por Gabriela Teixeira (colaboradora)
Atualizado em 15 jan 2020, 15h45 - Publicado em 3 jan 2020, 07h00

Quando falamos de youtubers ou instagrammers, logo pensamos nos novinhos da geração Z, que, aos 20 e poucos anos, têm revolucionado as relações amorosas e de trabalho e repensado hábitos de costume. Depois, numa parcela um pouco menor, vêm os millennials, com seus 30 e tantos anos. Olhamos pouco (ou quase nunca) para outra faixa da pirâmide etária, a de idosos. Entretanto, essa população cresce no país, participa mais ativamente da sociedade, consome e também pode influenciar seguidores no mundo virtual. Eles têm uma postura menos frenética, aprendizado adquirido nas vivências acumuladas, mas não se limitam nem são cheios de pudores. Sem papas na língua, mulheres que já ultrapassaram a linha dos 60 anos (que marca a entrada na chamada terceira idade) praticam o ato quase revolucionário de ocupar um espaço por muito tempo restrito a gerações mais novas.

Elas mergulham nessa proposta sem medo. Escrevem blogs, gravam vídeos no YouTube, têm um feed invejável no Instagram. Isso tudo sem seguir os padrões de influenciadores mais jovens. Inclusive, para muitas delas, equipamentos ultratecnológicos estão fora de cogitação. Basta ter em mãos um smartphone, que faz as vezes de câmera e microfone. Cenários rebuscados e roteiros meticulosamente pensados dão lugar à sala de casa e ao improviso da fala solta. A qualidade do conteúdo é o mais importante para quem enxerga a vida sob outra perspectiva. E, apesar do estranhamento que a presença digital pode causar, elas não se deixam abalar. E daí que os looks do dia ou tutoriais de maquiagem aos 80 anos não são aquilo que estamos habituadas a encontrar rolando o feed? Essas mulheres estão tomando a dianteira de um movimento em expansão, cujo objetivo é mostrar que a terceira idade é muito mais dinâmica do que se pode imaginar. E, mais do que isso, que elas têm muito a ensinar.

 

A gaúcha Mireia Borges profissionalizou a produção de conteúdo de suas redes sociais (Otavio Castedo/CLAUDIA)

O passatempo virou negócio

Uma tecnologia ageless. É assim que Miréia Borges, 62 anos, de Porto Alegre, define suas redes sociais. O conceito, que significa sem idade em inglês, a deixou encantada desde que o descobriu, em 2017, quando se juntou a alguns grupos que discutem longevidade. Porém, seu engajamento vem de uma década antes. Na época, ela notou as lacunas de visibilidade para pessoas de sua faixa etária e iniciou um blog no jornal gaúcho Zero Hora. Escrevia sobre comportamento, moda e saúde. Aficionada por tecnologia, foi aos poucos entrando para o universo das mídias sociais e migrou do portal para seu perfil no Instagram (@mireiabrg), onde é seguida por mais de 12 mil pessoas.

Ao se tornar influenciadora, Miréia, que era pedagoga empresarial, enfrentou episódios de discriminação por parte dos mais jovens. “Ouvia nos eventos: ‘Essa velha já está aqui de novo’. Isso me chocava demais. Voltava para casa e pensava em desistir, porque eu não tinha que aguentar essas coisas”, confessa. A gaúcha lamenta a falta de colegas da mesma idade com quem possa trocar experiências, mas está focada em fazer seu perfil crescer. Ela tem até uma equipe para auxiliá-la na produção de conteúdo, além de contar com uma consultora de branding e uma fotógrafa. Com isso, as parcerias com marcas se multiplicaram, e ela minou a desconfiança da família sobre sua nova carreira, de blogueira profissional. “Minhas filhas, antes reticentes, agora vão a encontros comigo. E meu marido, que achava tudo uma bobagem, mudou de ideia. A minha meta é que reconheçam que o meu trabalho é importante, não um passatempo”, afirma.

 

Amigas há 50 anos, Gilda, Sonia e Helena (de cima para baixo) sentem-se confortáveis para discutir qualquer tema sugerido pelos seguidores (Nino Andrés/CLAUDIA)

Em dose tripla

Cinco décadas de amizade e muito bom humor já uniam Gilda Bandeira de Melo, 77 anos, Helena Wiechmann, 91, e Sonia Bonetti, 81, quando o trio teve a ideia de criar um canal no YouTube, em 2018. A sugestão partiu de uma amiga delas, Cassia Camargo. Com experiência na TV, Cassia percebeu o potencial de vídeo das três – que sempre a faziam chorar de rir com suas histórias. Surgiu então o Avós da Razão, canal por onde, todas as quintas-feiras, elas respondem a perguntas enviadas pelos 7 mil seguidores. Mais recentemente, as blogueiras, de São Paulo, também estrearam no Instagram. “Falamos sobre tudo. A última pergunta foi se na nossa idade ainda nos masturbamos. E nós respondemos, de maneira sutil, que desejo sexual não tem idade”, conta Sonia. Apenas três meses após o nascimento do canal, elas foram escolhidas para participar do CreatorsBoost, curso de aceleração para criadores de conteúdo. Depois, conquistaram o primeiro lugar no YouPix Summit, evento que premia o que está em alta no mercado digital. Embora alcancem seguidores de diferentes idades, priorizam a própria faixa etária na escolha dos temas. “Queremos dar visibilidade aos velhos, por muito tempo considerados doentes que precisavam de recolhimento”, explica Sonia. O Avós da Razão deixou de ser só um hobby e virou fonte de renda para elas. “Depois de vários anos, finalmente paguei contas com o dinheiro do meu trabalho”, diz Helena, que não recebe aposentadoria. “Começou como farra, mas o retorno financeiro é gratificante”, completa Gilda, a responsável por receber no WhatsApp as perguntas que vão para o vídeo e organizá-las.

 

Izaura Demari adora postar seus looks do dia nas redes sociais. Apaixonada por moda, participou até de desfiles (Zé Takahashi/Agência Fotosite)

Astral nas alturas

Chapéus exuberantes, salto alto e muitas cores impedem que Izaura Demari passe despercebida. O visual reflete a personalidade expansiva da paranaense de 78 anos, que, viúva há 16, encontrou na moda um caminho para manter-se ativa. “Depois da morte do meu marido, passei a viajar mais e queria estar bem vestida. A cada ano que passa, sinto que estou mais nova. Às vezes, nem acredito na minha idade”, brinca. Há dois anos, começou a compartilhar regularmente no Instagram @voizaurademari os looks que monta para seus 45 mil seguidores. Como Izaura não é alfabetizada, fica a cargo do filho Marcio Demari redigir as publicações. Moradora de Florianópolis, Izaura passou os últimos meses de 2019 trabalhando entre São Paulo e Rio de Janeiro.

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Em outubro, desfilou em ação especial na São Paulo Fashion Week e participou de um programa de TV em que doou parte de seu acervo de roupas para idosas de um asilo. “Quando colocava acessórios nelas, diziam que aquilo já não combinava com a idade que tinham, mesmo que fossem mais novas do que eu”, lembra. Ela acredita que seu papel na rede social é justamente ajudar mulheres a recuperar a autoestima e entender que não existe jeito certo de viver a terceira idade. Para isso, não vê problemas até em posar de lingerie ou biquíni. Em uma dessas ocasiões, após uma campanha publicitária, ouviu das amigas que aquilo era um absurdo. “Acharam que eu estava pelada. Então, na outra foto, realmente tirei tudo”, conta. Para 2020, a agenda dela já está bem cheia. Em março, será embaixadora de um evento de beleza para o público 60+. Em seguida, pretende passar um mês na capital paulista expandindo o networking.

 

Disciplinada, há sete anos a paulista Rosangela Marcondes posta diariamente nas redes (Nino Andrés/CLAUDIA)

Ela representa

Embora comande perfis na internet que somam mais de 158 mil seguidores, Rosangela Marcondes, 64 anos, não se define como influenciadora – prefere dizer que é inspiradora digital. “Quando comecei a ser considerada influenciadora, fiquei muito feliz por perceber que pessoas comuns também têm espaço”, conta. A primeira vez que assumiu o papel foi em 2013, ao iniciar o blog Domingo Açucarado. Na época, havia decidido pôr um fim ao negócio de confecções que comandava, mas não queria ficar parada. Instigada pela filha Fernanda Marcondes, Rosangela criou um espaço virtual para reunir tudo de bonito que visse, a sua “lojinha de ideias”, como descreve. “Lá consigo falar com a filha, a mãe e a avó. E isso me anima a fazer mais. Sou disciplinada – duas vezes ao dia, eu posto algo novo. Penso que alguém pode estar esperando; então esse é um compromisso que tenho”, revela.

Em paralelo, ela cuida ainda de um segundo projeto nas redes, o perfil no Instagram @it_avo, focado em discutir longevidade. Pessoalmente, o interesse pelo tema cresceu quando ela completou 60 anos. “Queria entender o processo de envelhecer e divulgar o movimento. Desejo sentir e experimentar o envelhecimento com originalidade”, afirma. Fora das redes, ela organiza, desde o início de 2019, encontros mensais apelidados de “Vem Tomar Café Comigo”, em que se reúne com seguidoras em cafeterias de São Paulo para criar vínculos e trocar experiências. O público (em média 20 pessoas, principalmente de mulheres mais velhas) geralmente não se conhece até o dia do encontro. “Percebo que elas querem estar juntas, ter um momento gostoso para desfrutar a velhice”, diz a “it avó”.

 

Influenciadoras da terceira idade pelo mundo

(Reprodução/Instagram)

Iris Apfel (@iris.apfel)

Bem antes de as redes sociais terem tanto poder, a fashionista americana de 98 anos já era sucesso. Estrelando campanhas de moda, mostra que estilo não tem limite etário.

 

(Reprodução/Instagram)

Helen Winkle (@baddiewinkle)

Com seus looks e atitudes vibrantes, a americana Helen Winkle, 91 anos, quebra a internet (e estereótipos), deixando claro que não dá ouvidos para ideias monótonas.

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(Reprodução/Instagram)

Park Mak-Rye (@korea_grandma)

Aos 73 anos, a coreana Park Mak-Rye diverte 1 milhão de seguidores no YouTube com blogs de viagens e descontraídos tutoriais de beleza e culinária.

 

(Reprodução/Instagram)

Linda Rodin (@lindaandwinks)

Entusiasta do mundo da beleza, Linda Rodin, 71 anos, criou a própria marca de cosmésticos quando já passava dos 50. No Instagram, ela posa ao lado de seu cachorro Winks.

 

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