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Como proteger os filhos de práticas arriscadas online?

A morte de um adolescente paulista faz questionar: o que fazer para impedir que os filhos participem de brincadeiras como “desafio do desmaio”?

Por Bruna Nicolielo
Atualizado em 6 jan 2017, 09h57 - Publicado em 6 jan 2017, 09h57

Em outubro, a morte de Gustavo Riveiros Detter, 13 anos, em São Vicente (SP), chamou a atenção para as  brincadeiras de asfixia ou desmaio, nas quais os participantes prendem a respiração com as mãos ou um objeto (lenço, cordão, cinto) até perder a consciência. O menino jogava videogame pelo computador com três amigos conectados pela internet. Ao perder a partida, teria sido desafiado a “brincar de se enforcar” pelos colegas. A família o encontrou desmaiado. Levado para o hospital, Gustavo não resistiu às lesões neurológicas e morreu. Foi pela equipe médica que os pais dele souberam da existência da brincadeira fatal. “Esses desafios envolvem confrontação de poder e teste de limites corporais do perdedor como penalidade, caracterizando-se como um tipo de bullying”, explica Evelyn Eisenstein, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e coordenadora de um manual de orientação sobre a saúde de crianças e adolescentes na era digital (a cartilha pode ser baixada neste site).

Variações do jogo propostas a jovens pela internet ou pessoalmente incluem atear fogo à própria mão, segurar pedras de gelo até se queimar, inalar canela, talco ou outras substâncias em pó e o “desmaio forçado”, em que um amigo asfixia o outro por estrangulamento ou pressão no peito. “Em comum, há a impulsividade e a sensação de invulnerabilidade, típicas da adolescência; o desejo de experimentar, testar limites, desafiar os outros e a si próprio; a vontade de pertencer ao grupo; e a dificuldade de distinguir entre o real e o virtual, sem consciência das sequelas e do risco de morte”, continua Eisenstein. Alguns adeptos dos jogos de asfixia relatam uma sensação de euforia quando voltam a respirar – possivelmente fruto do estado alterado de consciência. Do ponto de vista fisiológico, o desmaio é uma defesa do organismo à escassez de oxigênio no cérebro. Pode conduzir a hemorragia, parada respiratória, lesões neurológicas irreversíveis e à morte. Ficar de um a dois minutos sem respirar é suficiente para um jovem entrar em coma, embora haja variações de uma pessoa para outra.

Jogos de desafio são difundidos em canais do YouTube e nas redes sociais indiscriminadamente. A ausência de restrições facilita o acesso e a disseminação desses conteúdos – alguns vídeos trazem até o passo a passo, caso de um feito por um popular youtuber brasileiro. No início de 2016, havia no YouTube mais de 16 mil vídeos relacionados ao jogo. “Fiquei surpresa com a elevada proporção de crianças que já participaram desse tipo de brincadeira: 40%”, diz a psicóloga Juliana Guilheri, autora de uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo e da Paris Ouest, na França, sobre o assunto. O estudo contou com quase 2 mil franceses e brasileiros entre 9 e 18 anos. Entre os brasileiros, 65% disseram ter aprendido os desafios até os 10 anos. Na França, associações de prevenção conseguiram aprovar uma lei proibindo sites de busca de trazer conteúdo em francês sobre as brincadeiras.

Como evitar que o próprio filho entre nessa? “O primeiro passo é buscar informação e conhecer os perigos dessas práticas para orientá-lo quanto aos riscos e a não ceder a pressões do grupo”, diz a psicóloga Fabiana Vasconcelos, coordenadora da área de educação do Instituto DimiCuida, fundado pelos pais de um garoto de 16 anos que perdeu a vida praticando o jogo do desmaio. O mais eficaz, segundo Vasconcelos, é sensibilizar para as sequelas. Sem oxigênio, funções importantes do corpo começam a parar e neurônios morrem. Em alguns casos, quem sobrevive pode adquirir cegueira e epilepsia, perder o controle dos esfíncteres (para evacuar e urinar) e ficar paraplégico. 

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Não é preciso esperar uma fatalidade para mediar a relação de crianças e jovens com a tecnologia. Especialistas defendem que até os 5 anos se limite a exposição a uma hora por dia. A existência de computador ou televisão no quarto também tem de ser evitada se possível. Adolescentes não devem ficar lá por muito tempo (a porta pode ser fechada, não trancada) ou usar computadores e dispositivos móveis por período maior que suas oito ou nove horas de sono por noite – há programas de monitoramento e segurança que restringem o tempo de uso da tecnologia por faixa etária, palavras, categorias ou sites. Além disso, jogos online de agressão e morte devem ser desencorajados, por banalizar a violência. Por fim, sites, aplicativos, redes sociais e mensagens precisam ser monitorados (veja quadro ao lado). “A privacidade de crianças e adolescentes tem de ser limitada. Muitas vezes eles esperam isso”, diz Vasconcelos. Em um levantamento em consultório citado pela psicóloga, foi constatado que, de 30 jovens, 29 acreditavam que os pais não sabiam o que eles faziam na internet; 26 admitiram que gostariam de se sentir monitorados. Fortalecer a autoestima deles  é fundamental para não irem na onda dos outros em busca de aceitação. Não menos importante, a dica é desconectar – e isso vale para você também.

Fique de olho

Observe indícios físicos, como olhos vermelhos ou irritados, andar cambaleante, dores de cabeça frequentes, marcas no pescoço – ou o uso de roupas de gola alta no calor – e desorientação após passar tempo isolado ou sozinho.

Esteja presente: converse sobre os passatempos preferidos do jovem e fale sobre o que você fazia para se divertir na juventude. Preste atenção na menção a brincadeiras e desafios.

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evite julgamentos e relate as sequelas da prática. Para o adolescente, falar em morte talvez não seja tão eficaz quanto mencionar, por exemplo, a perda da capacidade de segurar para ir ao banheiro.

Acompanhe o comportamento dele e repare se há irritabilidade excessiva sem motivo aparente, alterações de humor, queda no rendimento escolar, longos períodos de isolamento no quarto e predileção por atividades de lazer que envolvem a tecnologia.

mantenha-se alerta a objetos que não pertencem ao ambiente, como coleiras, cordas, cachecóis, faixas de artes marciais e cintos escondidos embaixo do travesseiro, amarrados a móveis ou ao trinco da porta.

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RECORRA A ESPECIALISTAS (pediatra, hebiatra ou psicólogo) se achar necessário.

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