Como proteger meu filho do álcool?
Os jovens estão começando a ingerir bebidas alcoólicas cada vez mais cedo. Segundo especialista, cabe aos pais orientar os filhos sobre os riscos.
“Ele tem 15 anos e exagera na bebida em festas. Tenho medo de que se vicie. O que fazer?” (Pergunta enviada por leitora)
O consumo de bebidas alcoólicas ocorre cada vez mais cedo entre os adolescentes. Hoje eles começam a beber aos 11 anos, em média, e encaram o primeiro copo de cerveja como um ritual de passagem para o mundo adulto. Há uma enxurrada de lançamentos, como os ices, voltados para essa faixa etária, que estimulam a atitude. O fato de o álcool ser uma droga socialmente aceita costuma mascarar a gravidade do perigo que seu abuso representa. Não existe uma quantidade segura de ingestão que indique se há ou não risco de uma pessoa se tornar dependente. Cada organismo reage de uma forma. Alguns sinais, entretanto, ajudam a perceber quando algo não vai bem.
O início da adolescência é uma fase que merece atenção. Nessa idade, perto dos 12 anos, é normal que o garoto se desligue um pouco da família e dê mais importância aos novos amigos. Como tem necessidade de mostrar que cresceu, é vulnerável a modismos, a ídolos e costuma copiar as atitudes dos adultos. Ao ter o primeiro contato com o álcool, descobre que fica relaxado, brinca e conquista amigos e garotas. Quando não bebe, por algum motivo se sente deslocado. Como lhe falta maturidade para entender a insegurança e suas raízes, ele começa a utilizar o álcool como uma ferramenta de interação social.
Os sintomas da dependência em um adolescente são diferentes dos apresentados por um adulto. Na puberdade, o organismo resiste mais. Dificilmente você vai notar tremores ou outros sinais físicos. As mudanças ocorrem no comportamento. Um rapaz que bebe com frequência perde o poder de concentração, anda mais desligado. Outros indícios de que ele precisa de ajuda são os episódios repetidos de embriaguez nos fins de semana e a associação de atividades de lazer ao álcool, a ponto de interferir nas atividades cotidianas. Observe também se ele só busca o efeito inebriante da bebida. Nesse caso, é comum que ingira doses altas de destilados, como conhaque, uísque, o que configura rapidamente o uso indevido de álcool.
Mas como ajudá-lo? Não adianta dizer que ele está bebendo demais. Seu filho vai responder que é cisma sua. Tenha calma. Não fale em tom de bronca. Se ele entender sua oferta de ajuda como castigo, vai tentar se defender. Enumere objetivamente coisas que você constatou e são inegáveis: notas ruins na escola, mudança no grupo de amigos, aumento da agressividade. Só então pergunte o que acontece. Ele pode estar com problemas amorosos, de definição profissional ou até mesmo enfrentando um quadro depressivo. Avalie se sente-se realizado, tem opções de lazer e se destaca por alguma qualidade (seja nos esportes, nos estudos seja com as garotas). A mudança repentina do grupo de amizades também é um fato que merece atenção. A turma “barra-pesada” é, normalmente, usada para confrontar os pais.
Experimente acompanhar mais de perto o dia-a-dia dele. Se possível, vá buscá-lo nas festas para ver onde e com quem está. Ofereça carona para os amigos: assim você conhece mais o que se passa com sua turma. No entanto, se o garoto tem colocado em risco a segurança dele e de outras pessoas, dirigindo sem permissão, por exemplo, apenas uma conversa não vai resolver. Nesse caso, um especialista em dependência química pode avaliar a gravidade do quadro e indicar o tratamento adequado, como psicoterapia.
É possível prevenir tudo isso abrindo um canal de diálogo desde cedo. Procure criar um ambiente saudável. A criança que cresce vendo o pai bebendo um uisquinho para relaxar vai acreditar que a única forma de lidar com o stress é usar uma solução química mágica. Se a família cultivar hábitos saudáveis, é quase certo que ele também o fará. Tenha em mente que a bebida pode não ser o problema em si, mas um sintoma de que outras coisas não vão bem com o adolescente. Ao atacar exclusivamente o álcool, você talvez esteja perdendo de vista o verdadeiro motivo pelo qual ele bebe – e pelo qual, mais do que nunca, precisa de sua ajuda.
Fonte: Sandra Scivoletto é psiquiatra especialista em infância e adolescência e na área de dependência química.