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A luta de Fátima para usar seu véu islâmico e combater o preconceito

"Sempre quis usar o véu, mas sentia medo por estar no Brasil. Se morasse no Líbano, teria colocado antes, porque lá é normal".

Por Dagmar Serpa
Atualizado em 16 abr 2024, 09h21 - Publicado em 1 out 2018, 20h45
 (Marcelo Salvador/CLAUDIA)
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Foram anos de preparo até a dentista paulistana Fátima Abbas, 28 anos, decidir cobrir a cabeça para sair às ruas, como pede sua religião, o islamismo. Embora desejasse aderir `aquela prova de fé, ela sabia que antes precisava se fortalecer para enfrentar olhares e o preconceito.

Confira o relato completo de Fátima para usar seu véu e combater o preconceito:  

“Passei a me sentir mais bonita desde que comecei a usar o hijab, o véu do islamismo. Realçou meu rosto. Eu e meus pais somos brasileiros de família libanesa. Os princípios dessa religião guiaram minha educação. Assim que a menina atinge a puberdade, já tem de pôr o véu. Quando falo ‘tem’, quero dizer que ela já sabe que um dia irá colocar, mas essa é uma relação entre ela e Deus. Não se trata de uma obrigação. Meus pais nunca me impuseram isso. Tanto que só comecei aos 27; e minha irmã, aos 25. Já minha mãe foi adotá-lo depois dos 30; e uma avó, após os 50.

Sempre quis usar o véu, mas sentia medo por estar no Brasil. Se morasse no Líbano, teria colocado antes, porque lá é normal. Aqui existe preconceito demais, que é alimentado pelo noticiário e por generalizações com o que ocorre em países muçulmanos, alguns bem fechados. Para completar, ao ingressar em odontologia na Universidade de São Paulo, um acontecimento me levou a postergar a decisão. Pedi à diretora uma sala para fazer minhas orações. Ela negou com o argumento de não poder se responsabilizar caso alguém que não gostasse de muçulmanos me atacasse durante a reza. Entendi que não se tratava de uma posição da USP. Era o que pensava aquela pessoa, não a instituição.

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Fiquei chocada. A resposta dela não saía da minha cabeça. ‘Caramba, será que alguém pode me atacar pelo fato de ser muçulmana?’, eu pensava. Se era assim, também poderia ser agredida só por usar véu. Tinha estudado em escola islâmica e sido criada inserida nessa comunidade. Na USP, tudo era diferente da bolha em que vivia antes. Preferi esperar até me sentir forte para enfrentar olhares, perguntas e provocações. Não tinha questionamentos religiosos, mas temia as reações. Já era formada e trabalhava quando me considerei pronta.

Meus pais se surpreenderam quando surgi de véu. Acharam que só usaria naquele dia porque ia a um evento religioso. Quando souberam que a decisão era definitiva, ficaram felizes e emocionados. Ainda não sofri preconceito, mas a gente fica sabendo de histórias quase todo dia. Certa vez, uma amiga estava no ônibus, de véu, quando um cara começou a gritar que havia ali uma mulher-bomba. Minha irmã foi perseguida no mercado por um senhor que ficava puxando o véu dela. Superassustada, chamou um segurança porque ele não parava de falar: ‘Tira esse pano da cabeça; você é oprimida’. Queria salvá-la.

Acho que a palavra opressão é relativa. Depende do ponto de vista. Se uma brasileira for à Arábia Saudita, a mulher de lá poderá questioná-la se não se sente oprimida no seu país. ‘Como assim? Faço o que quero’, irá responder. Se pensarmos bem, a maioria no Brasil não consegue ir à praia sem estar depilada, uma exigência só para mulheres. O exemplo é para mostrar que talvez eu considere isso uma forma de submissão. Vou à praia de roupa e aproveito. Não visto biquíni e convivo com quem usa. Existe uma dificuldade em lidar com o diferente. Tem gente que, com medo do que não conhece, reage de modo agressivo quando o melhor seria procurar saber mais. Mas, às vezes, percebo que algumas pessoas ficam me olhando até vir falar comigo: ‘Acho bonito seu véu. Pode me explicar o que significa?’. Isso não me incomoda; não vêm me atacar.

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Para o consultório, criei uma adaptação. Uso uma touca de pano com meu jaleco, que tem gola alta, para evitar o excesso de tecido, pois poderia atrapalhar e até ser anti-higiênico. A forma de colocar varia. Algumas meninas deixam a franja para fora. Mas o certo mesmo é cobrir todo o cabelo. É o que faço; depois enrolo no pescoço, como um xale. Devo ter uns 300 no guarda-roupa – de todas as cores, com pedrinhas, brilho. Combino com a roupa e a ocasião. Casei não faz um ano. Meu marido, que já era meu amigo fazia algum tempo, me conheceu sem hijab. Só coloquei uns quatro meses antes do casamento. Ele é muçulmano e nunca falou nada. A verdade é que me sinto muito livre com véu porque tomei essa decisão sozinha.”

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