6 artistas plásticas brasileiras que você precisa conhecer
Tadáskia, Jessica Costa, Ana Elisa Egreja, Gabriella Garcia, Amora Moreira e Lidia Lisboa têm conquistado espaços internacionais com suas novas perspectivas
Vez ou outra, a arte comprova que o tempo não é absoluto. Ela atinge o estado de impermanência no qual passado, presente e futuro andam de mãos dadas, enquanto ressoa aquilo de eterno que há dentro de cada corpo. Alcançar esse lugar, porém, é cada vez mais difícil em um mundo repleto de estímulos.
Sorte que as brasileiras têm apresentado trabalhos impactantes — impossíveis de não contemplar. Através do manuseio de lápis, pincéis, tintas e fios, eles materializam aquilo que nos ajuda a entender e transformar o mundo. Acompanhe a história, a atualidade e um vislumbre do amanhã de seis artistas incríveis.
Tadáskia
Mente criativa por trás de obras que ganharam o mundo — ela foi a primeira artista a pintar nas paredes do Museum of Modern Art, o MoMA, de Nova York, em exposição em cartaz até outubro — @tadaskia nasceu para o protagonismo. Começou sua carreira na faculdade de artes plásticas da UERJ graças às cotas, como faz questão de reforçar: “Sem elas, não seria possível alcançar aquele espaço, porque o acesso à educação ainda é desigual”.
Mulher, negra e trans, desenvolve desenho, fotografia, instalação e têxtil com paisagens inventadas. As obras refletem sua conexão com a natureza e são impactadas pelas heranças: do pai, a praticidade; da mãe, a espiritualidade. Movida pelo diferente, ela deseja se expressar para o mundo. “Quero comunicar minha sensibilidade, sem ser impositiva, e estar cada vez mais longe da necessidade de controle.”
Jessica Costa
Nascida em São Paulo, @jessicacosta tem sua carreira conectada pelo fio. Sua infância foi marcada por reproduzir produtos têxteis ensinados em programas da tarde. Depois, ela ingressou na faculdade de design de moda e começou a trabalhar em uma fábrica têxtil.
Ao entrar no mundo das artes, Jessica escolheu explorar a técnica de tufagem manual para dar formas tridimensionais aos seus quadros. “Minhas obras subvertem a ideia de que a tapeçaria precisa estar no chão, é um novo olhar para a arte têxtil.”
Essa revisitação é também uma maneira de manter o ofício vivo. “Esse conhecimento é passado pela oralidade e meu desejo é que ele não seja perdido.” Parte dessa busca, sua nova individual abre em agosto, na Zipper Galeria, em São Paulo, para o público enxergar a tapeçaria à altura de seus olhos.
Ana Elisa Egreja
Sem titubear, @anaelisaegreja adentra salas, banheiros e cozinhas para contar histórias. Com o olhar atento de quem sabe o poder dos detalhes, a paulistana transforma ambientes caseiros em quadros há quase duas décadas.
Entre saboneteiras coloridas, animais e objetos de épocas diferentes coexistindo, a pintora referencia a ideia de domesticidade, a natureza morta e a pintura do interior, enquanto resgata elementos esquecidos na memória popular brasileira. Tudo para dar vida a um novo mundo. “Crio um universo paralelo onde as coisas funcionam da maneira que eu desejo. A pintura me organiza”, explica, sobre o próprio processo.
Nada disso acontece sem um extenso trabalho de pesquisa, encenação, fotografia e pintura. “O ateliê é que forma o artista.” O resultado são criações que impactam, como o projeto em que retratou a casa de seus avós. “Aquele ambiente não existe mais, foi demolido, mas a pintura o eternizou.”
Também recebe convites para lá de especiais. Antes da entrevista para esta reportagem, por exemplo, ela havia visitado a casa que foi de Tomie Ohtake (1913-2015) para um novo projeto. Agora, Ana trabalha em uma exposição para o segundo semestre.
Gabriella Garcia
Perfeito e imperfeito, sólido e etéreo, condensado e volátil: as obras de @gabriellagarcia não aceitam limitações. Autodidata, ela mescla elementos clássicos e abstratos em pinturas, esculturas e instalações. “Minha produção flerta com o processo de desfragmentar, organizar e propor novas imagens”, explica.
Gabriella tomou gosto pelas artes ainda na infância, mas foi a escola construtivista que desenvolveu sua criticidade e aflorou seu talento ao possibilitar o contato com a pintura. De lá para cá, a artista cresceu junto da sua produção e propôs em suas obras a descontinuação de farsas históricas.
“Meu trabalho é sobre multiplicar verdades e derrubar mentiras. Se foi através da imagem que narrativas de poder foram criadas e perpetuadas, será também através delas que serão questionadas, derrubadas e assim reconstruídas”, reflete. Em 3 de agosto, ela apresenta a individual Mitos, Contose Alegorias, na Galeria Lume, em São Paulo, para mostrar a evolução de seu trabalho.
Amora Moreira
Depois de trabalhar no Museu Nacional da UFRJ e no Museu da República, @amori.nha entendeu que parte da história não seria conservada em espaços como aqueles, mas que a arte permitiria retratar o que estava oculto. Da colagem, ela foi para a ilustração digital e, depois, para o grafite.
Autodeclarada “sampleadora visual”, a carioca cria obras que mesclam o cotidiano suburbano do Rio de Janeiro com a cultura hip hop e a música black. “Meu processo artístico envolve um conhecimento para extrair a parte certa de algo e usá-la na criação de outra coisa, como uma forma de dar seguimento ou rememorar algo esquecido.”
Com a chegada da recém-nascida Aurora, ela agora busca se adaptar à nova rotina. “Viver da arte é não saber o limite entre o trabalho e a vida pessoal”, reflete. Para Amora, a identificação das pessoas com seu trabalho é o combustível.
Lidia Lisboa
Quem acompanha o mundo das artes está familiarizado com o nome de @lidia_lisboa. É que a performer e artista visual sabe envolver tramas e elementos têxteis para falar sobre suas raízes e as questões de gênero como poucos. Nascida no Paraná, Lidia criou interesse por trabalhar com artes ao chegar em São Paulo e ter contato com as obras de Carlos Araújo e Mário Gruber e a alta-costura de um ateliê.
Com o trabalho voltado para os tecidos, mas não só eles, a artista esperou 30 anos para ter o reconhecimento que merecia. “Me sentia excluída, mas chegou uma hora que eu disse ‘essa vergonha não é minha’. Escolhi continuar fazendo meu trabalho, porque sou artista e não queria sair do meu caminho.”
Essa resistência é também característica de seu histórico de atleta — ela foi jogadora de handebol da Seleção Paranaense. Ainda hoje, acredite, é surpreendida por sua carreira exitosa. “Me emociono ao ver meus trabalhos, muitas vezes nem acredito que fui eu que fiz.”
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