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‘Quiet woman’: a problemática por trás do ideal da mulher quieta

Ser sexy e misteriosa é um desejo compartilhado, mas é justo abrir mão da sua fala para alcançar esse ideal?

Por Lorraine Moreira
26 dez 2023, 07h42
Mulher olhando para o lado e com xícara na mão
Autoestima das mulheres é impactada pelo ideal 'quiet woman' (Вальдемар/Pexels)
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Sexy, quieta e misteriosa: três características amplamente desejadas no universo feminino. À primeira vista, não há nada de errado com essa vontade, mas ela esconde estigmas e fala sobre papéis de gênero que impactam a autoestima, o bem-estar e as oportunidades das mulheres.

Pessoas do sexo feminino foram impedidas de exercitar sua intelectualidade por séculos. No Brasil Colônia, persistiam as influências de Portugal, que em uma de suas leis caracterizou as mulheres como imbecilitus sexus (sexo imbecil, em tradução livre), grupo ao qual ainda pertenciam as crianças e doentes mentais.

As brasileiras só conquistaram o direito de estudar além do ensino fundamental em 1827, a partir da Lei Geral, promulgada em 15 de outubro.

O direito de frequentar uma faculdade chegou ainda mais tarde, em 1879. As candidatas solteiras precisavam apresentar licença de seus pais, enquanto era exigido o consentimento por escrito de seus maridos às casadas. 

Não bastasse o atraso para permitir que entrassem nas salas de aula, até o século 20, a educação feminina atendia exclusivamente às demandas domésticas. Ou seja, elas aprendiam apenas os cuidados com o lar e a família. Tratava-se da construção de um ser para servir.

As mentes (masculinas) mais “brilhantes” desenvolveram teorias para explicar a inferioridade das mulheres e, assim, justificar sua submissão e falta de oportunidades.

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Também diziam ser perigoso dar a elas conhecimento. À exemplo, Philippi III disse: “Mulheres não devem aprender a ler e escrever, a não ser que elas vão ser freiras. Porque muitas coisas ruins podem vir com esse conhecimento”.

mulheres-silenciosas-e-a-problematica
Mulheres perdem oportunidades por silenciamento da sociedade (cottonbro studio/Pexels)

“Historicamente, sociedades associaram a feminilidade à passividade, delicadeza e modéstia, criando a ideia de que mulheres silenciosas são mais atraentes”, segundo Nayana Ribeiro, psicóloga especializada em autoestima

Para a psicóloga Lara Marques, foi uma estratégia para beneficiar os homens. Mulheres silenciosas não denunciam abusos, não expõem opiniões e incômodos, não influenciam, não conseguem se destacar e mostrar o seu próprio trabalho, não defendem suas ideias e necessidades. O resultado é um apoio na manutenção dos privilégios masculinos.” 

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“O silêncio feminino é valorizado porque tem uma utilidade de servir tanto para conservar violências e negligências, quanto para não criar mulheres que se destacam e acabam competindo em determinados espaços e situações”, acrescenta a especialista, que continua: “em certos contextos, mulheres assertivas podem ser vistas como desafiadoras ou ameaçadoras para a ordem social estabelecida. A valorização da quietude pode refletir, em parte, uma resistência cultural a mulheres que desafiam normas de submissão tradicionais”.

As consequências do ideal da quiet woman

A enorme dificuldade em entender a mulher como um ser pensante, que tem vontades e opiniões, impediu esse grupo de ocupar espaços cruciais, inclusive o político. No Brasil, elas conquistaram o direito ao voto apenas em 1932.

Para além das oportunidades, a crença de que mulheres quietas são melhores afeta (e muito) a autoestima e o psicológico das mulheres. “Todo ideal que propõe um único modo de existir e ser valorizado interfere em nossa autoestima”, pontua Lara.

Quem não possui a característica de ser quieta pode se sentir menos interessante e desejada, de acordo com a especialista. “Chegando ao extremo, algumas sentem que são ‘menos mulheres’ por não corresponderem a essa expectativa social de performance de feminilidade.”

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“Isso não apenas limita a expressão individual, mas também cria padrões inatingíveis de feminilidade, gerando pressões emocionais e prejudicando a autoconfiança”, esclarece Nayana.

A valorização da quietude como atributo atraente contribui para a marginalização e exclusão principalmente das mulheres assertivas, desconsiderando suas contribuições e minando a diversidade que enriquece a experiência feminina, de acordo com ela.

Como se libertar dessa ideia?

O primeiro passo é entender que o silêncio feminino não nos beneficia, sendo apenas um ideal para a manutenção da desigualdade entre os gêneros, diz Laura. “Procurar outras referências de mulheres interessantes.”

“É importante refletir sobre suas preferências, sua personalidade e seus valores, além de identificar quais padrões culturais você aprendeu e questionar a validade deles. Estar ciente dos estereótipos de gênero, questioná-los ativamente, conhecer perspectivas e representações diversas de mulheres na mídia e na sociedade também te fará ter novas perspectivas sobre a história e assuntos sobre o feminino“, contribui Nayana.

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A profissional termina reforçando a importância de valorizar suas próprias qualidades, independentemente de quão bem elas se encaixem em padrões preestabelecidos, e celebrar suas conquistas e habilidades, reconhecendo sua singularidade.

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