Juliana Souza vence o Prêmio CLAUDIA 2025 na categoria Trabalho Social
Da favela Santa Rita ao reconhecimento internacional, a adovagada faz da sua trajetória uma ponte para que pessoas negras tenham futuros mais justos
O sorriso doce de Juliana Souza, 34 anos, não revela os obstáculos que precisou superar até se tornar uma das principais advogadas no combate ao racismo no Brasil. A consagração veio no ano passado, quando obteve a maior sentença já aplicada em um caso envolvendo uma única vítima de racismo e injúria racial. A cliente era Titi, filha de Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank, que, aos quatro anos, sofreu ataques racistas cometidos pela socialite Dayane Alcântara Couto de Andrade.
Um mês depois dessa vitória histórica, Juliana recebeu o prêmio MIPAD, apoiado pela ONU, que reconhece as personalidades afrodescendentes mais influentes do mundo. Agora, ela volta aos holofotes como vencedora do Prêmio CLAUDIA 2025 na categoria Trabalho Social.
Apesar do reconhecimento crescente, Juliana hoje passa menos tempo nos tribunais e mais à frente da organização que fundou em 2022: o Instituto Desvelando Oris. A iniciativa se dedica à promoção da equidade racial e de gênero por meio de educação, cultura e justiça social — um trabalho que amplia ainda mais o impacto da advogada no país.
A infância marcada por resistência
A história de Juliana começa muito longe dos Jardins, bairro onde hoje fica a sede da instituição. Começa em Osasco, na favela Santa Rita, para onde se mudou ao chegar de Feira de Santana, na Bahia, com a mãe, que fugia do então marido por conta de violência doméstica.
Na adolescência, recebeu convites para trabalhar como modelo e fazer campanhas, mas recusava com medo de ser reconhecida pelo pai e serem perseguidas novamente.
Filha única, Juliana cresceu cercada de mulheres, a mãe, as tias, a prima Marta, que virou irmã de vida. A casa era cheia de gente, comida dividida, roupas que passavam de criança para criança.
Nos Natais, a família juntava pequenas quantias e fazia listas na loja de R$ 1,99 para garantir um presente para cada parente. No meio da escassez, havia um senso profundo de partilha e comunidade, que moldaram a visão de mundo de Juliana.
O poder da educação e o legado de sua mãe
Desde pequena, Juliana sonhava grande. Excelente aluna, quase foi avançada de ano na escola. Como não tinha livros em casa, lia o dicionário e os rótulos das embalagens. Na adolescência, já sabia que faria Direito: sonhava ser juíza. “Sempre tive um senso de justiça muito forte porque vivia cercada de tanta injustiça”, diz.
A mãe é sua grande referência. Era professora de magistério na Bahia, mas quando deixou tudo para trás para proteger a família, precisou recomeçar do zero. Trabalhou durante anos de todos os dias como diarista e aos domingos, em uma granja.
Juliana se emociona ao lembrar dela chegando com as mãos geladas de tanto mexer com frango, exausta, mas ainda assim encontrando tempo para aquecer pão com leite, arrumar o tênis da filha, levá-la à escola e leva-la ao parque, quando tinha folga.
Aos 14 anos, Juliana começou a trabalhar como eletricista para ajudar em casa. Anos mais tarde, tornou-se a primeira da família a entrar na universidade: cursou Direito na PUC-SP, pelo ProUni. Enfrentou preconceito de colegas que não queriam fazer trabalhos com ela.
Quando percebeu que esforço e talento não bastavam, que construir uma carreira também dependia de acesso a redes profissionais que, para muitas pessoas negras, simplesmente não existem, decidiu criar o Instituto Desvelando Oris.
O instituto promove formações, oficinas, mentorias, iniciativas culturais, debates, fóruns, apoio jurídico pro bono, advocacy, acesso ao lazer e a cultura, desenvolvimento comunitário, além de ter uma biblioteca e um closet solidário para pessoas em situação de vulnerabilidade, em especial pessoas negras.
Os custos emocionais da luta e a necessidade de recomeçar
Nada disso veio sem custo emocional. Há dois anos, Juliana adoeceu seriamente: perdeu 10 quilos, ficou de cama, recebeu diagnósticos que não se confirmaram e viu sua rotina ruir. A experiência foi dura, mas pedagógica: aprendeu a dizer não, a reconhecer seus limites e a entender que sua família depende da sua saúde tanto quanto do seu trabalho.
Mais recentemente, Juliana tem ensaiado outra forma de expressão: a música. Já cantou em coral e na igreja; hoje faz aulas de canto, compõe e imagina um disco que misture MPB, forró, pop e funk.
“Eu sou curiosa e vou descobrindo novas coisas, gosto e penso: quero isso também!”. Juliana quer ser lembrada como alguém que abriu portas, construiu pontes e fez com que outras pessoas sonhassem maior do que a vida inicialmente permitia. Pra ela, o sonho faz mais sentido se couber muita gente dentro dele.
O Prêmio CLAUDIA 2025
O Prêmio CLAUDIA chegou a sua 25ª edição, celebrando mulheres que transformam o Brasil em diferentes áreas. A edição 2025 foi realizada em 9 de dezembro, às 20h, no Roxy Dinner Show, Rio de Janeiro, e destacou finalistas que se tornaram referência em cultura, educação, negócios, direitos da mulher, saúde, inovação, sustentabilidade, trabalho social, influência digital e impacto do ano.
O júri desta edição reuniu nomes influentes e plurais, como Zezé Motta, Maria da Penha, Luiza Helena Trajano, Ana Fontes e a jornalista Aline Midlej, além das representantes da Editora Abril: Karin Hueck (editora-chefe de CLAUDIA), Helena Galante (diretora de núcleo da Abril) e Andrea Abelleira (VP de Publishing da Editora Abril).
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