De luto: o desafio da maternidade após a perda do parceiro
Conheça a história de Mariana Mazzelli, mãe de cinco filhos que perdeu o marido neste ano
Não houve tempo para realizar todos os sonhos, secar cada lágrima ou sequer dizer adeus. A influenciadora Mariana Mazzelli (@quintuploscapixabas) perdeu o marido, Jaime Reisen, com quem teve quíntuplos, em abril deste ano, exatamente 12 meses depois da descoberta de um linfoma no esposo. Passar pelo luto enquanto cuida dos filhos torna a jornada ainda mais difícil.
O câncer, descoberto em estágio avançado, foi considerado irreversível pelos médicos, mas o casal acreditou até o fim que poderia ser diferente. “Eu queria pegar aquele 1% de chance e tornar possível a mudança, mas não depende da gente”, diz ela. A despedida aconteceu em paz, mas a tristeza não demorou a aparecer.
Mariana contou aos filhos que o pai deles não estava mais vivo, assim evitaria falsas esperanças e poderia ajudá-los nesse processo. “Eu disse que o Jaime tinha se tornado uma estrelinha, e eles perguntaram se ele voltaria. Eu precisava ser verdadeira, não podia nutrir falsas esperanças. Respondi que sempre que eles quisessem, poderiam olhar para o céu e fazer uma oração.”
Dos cinco filhos, duas meninas possuem paralisia cerebral e um tem síndrome de down e autismo, o que, somado a pouca idade, influenciou no entendimento sobre o que estava acontecendo.
“Foi uma perda irreparável para as crianças e para mim”, afirma ela. Uma das filhas, a Bela, ainda chama o pai e, assim que ele faleceu, passou um mês sem sorrir e falar. “Ela era uma criança altamente feliz, então foi muito doloroso.”
O processo do luto junto da parentalidade
O luto é o rompimento de um vínculo significativo, segundo Cristiane Assumpção, psicóloga especialista no assunto. “Perder quem amamos é maior dor que podemos experimentar”, afirma ela.
A quebra da parceria por uma fatalidade junto à maternidade ou paternidade torna tudo mais intenso. Além do esforço para uma criação sadia, ainda é necessário lidar com as emoções sobre a tragédia e com os sentimentos dos filhos por conta da perda.
A experiência de Mariana confirma a afirmação: “Jaime era uma presença constante em casa. Ele era a alegria, a felicidade em pessoa, e amava a nossa rotina, cuidar dos nossos filhos”, pontua a influenciadora. “O luto é diário.”
Várias são as mudanças que a perda de alguém causa, afetando tanto os pequenos quanto os adultos. O turbilhão de emoções é uma realidade, e querer proteger os filhos de sentimentos negativos também.
Na visão da psicóloga, é importante estimular a criança a liberar o que sente, ao invés de guardar tudo para si. “Eles perdem a presença física do pai ou mãe, então necessitam de muito apoio.”
A sobrecarga também pode acontecer, pois o que já era difícil conduzir à dois, agora será realizado “apenas por um”. Nesse sentido, ter uma rede de apoio é fundamental, como explica a especialista, para que essa sensação diminua.
Como lidar com o luto?
Saber o que fazer em momentos de perda não é fácil, mas a psicologia pode ajudar. “Primeiro, acolha a dor, reconheça que está passando por um luto, o que inclui chorar”, esclarece Cristiane. Trabalhar os sentimentos, respeitando seu momento, é essencial, na visão dela. Além disso, mascarar ou inibir o luto não é solução.
As lágrimas merecem atenção especial: elas contêm substância capazes de aliviar o estresse. Embora essenciais, muitas vezes são desestimuladas com frases do tipo “não chore” e “se você ficar assim, ele não descansa”.
Aqui, vale um adendo: quando os homens estão em luto, o fardo também é pesado. Apesar disso, muitas vezes escutam que precisam ser fortes a qualquer custo e não possuem espaço para demonstrar suas emoções, o que causa danos não só a eles, como também aos filhos, que podem aprender a silenciar seus sentimentos, afirma a psicóloga.
“Compreenda que a sua vida e a da sua família nunca mais serão as mesmas, mas isso não significa que o sofrimento é eterno”, diz ela.
Não hesitar em pedir ajuda é necessário para avançar. “E não pense que você é incompetente por não conseguir cuidar de seus filhos nesse momento. Peça amparo”, aconselha a profissional.
Não é fácil perder alguém, mas acolher o que sente e estar rodeada de pessoas dispostas a te apoiarem faz a diferença. “É muito difícil lidar com a perda, pois a cada hora você está de um jeito. Quando penso no Jaime, a dor é profunda, já tentei fugir dela. Mas vou vivendo um dia de cada vez”, pontua Mariana, que encontra na rotina corrida uma forma de distrair um pouco a cabeça.
“Parece mentira tudo o que estamos vivendo, porque ele é muito vivo em nossas vidas. Só quem vive o luto sabe o tamanho da dor”, reflete ela, que finaliza: “estamos nesta vida para amar e evoluir. Amar o próximo, dar o nosso melhor e saber que a vida é passageira. Tudo passa em segundos. Hoje eu vejo que poderíamos ter curtido muito mais e feito muito mais se soubéssemos que seria tão breve”.