De infância em um lixão a dona de três empresas: a história de Alexandra Borges
Conheça a trajetória de superação da empresária Alexandra Borges, dona de franquias da Casa do Pão de Queijo e Café do Ponto

Se tornar uma mulher empreendedora, na maioria das vezes, não é uma tarefa fácil. São inúmeros os desafios que envolvem essa jornada: a falta de oportunidades, a sobrecarga com os cuidados domésticos, as dificuldades financeiras e a falta de apoio são apenas alguns dos aspectos envolvidos.
A realidade se torna ainda mais dura quando se parte de uma situação de vulnerabilidade. É o caso da empresária Alexandra Borges, um verdadeiro exemplo de superação. Em entrevista à CLAUDIA, ela compartilha sua trajetória – desde a infância em um lixão em Jacareí, interior de São Paulo, até conquistar o comando de franquias de diversos cafés.
A infância em meio à escassez
Com apenas um ano de idade, Alexandra vivia entre os entulhos de um lixão, onde havia sido deixada por sua avó biológica. Mas sua história estava prestes a mudar. Em um determinado dia, Sebastiana – lavadeira e mãe de nove filhos –, que via a criança todas as semanas no local, tomou uma decisão transformadora: resolveu levá-la para casa.
“Mesmo sem ter condições, morando numa casinha com três cômodos, com nove filhos, sem estrutura para um bebê, ela me adotou. E aí eu me tornei a décima filha da Sebastiana”, conta Alexandra.
A infância foi marcada por muitas dificuldades. A principal renda da família vinha das roupas que Sebastiana lavava para fora.
O nascimento de uma paixão
Aos oito anos, Alexandra teve sua primeira experiência como vendedora, quando precisou ajudar a mãe a arrecadar dinheiro para comprar uma nova torneira para o tanque de casa.
“Fui para a rua vender coxinhas com vergonha, porque estavam feias, fritas em óleo velho. Ninguém quis comprar”, relembra. Na volta para casa, viu a mãe chorar diante do fracasso das vendas e, naquele momento, entendeu a dimensão do desafio. “Aquilo me doeu tanto que decidi tentar de novo. Na segunda vez, contei nossa história para as pessoas. Consegui vender todas. Foi aí que nasceu minha paixão pelas vendas.”

Os desafios e recomeços
Aos 17 anos, Alexandra descobriu que estava grávida e acabou sendo pressionada a se casar para formar uma família. Apenas três meses após o nascimento do primeiro filho, veio a segunda gravidez. O casamento, no entanto, durou apenas dois anos.
Desempregada e endividada, ela se viu obrigada a voltar para a casa dos pais. “Lá era a casa que sempre cabia mais um”, lembra, entre risos. Enfrentando grandes dificuldades financeiras, passou a buscar emprego nas cidades vizinhas. “Essa foi uma fase muito difícil mesmo na minha vida, mas eu tinha que recomeçar”, conta.
A oportunidade surgiu em uma loja da rede Oscar Calçados, onde trabalhou por muitos anos. “Foi a primeira porta aberta que encontrei. Então, eu me joguei com todas as minhas forças”.
A rotina de mãe solo e vendedora, no entanto, cobrava seu preço. Cuidando dos filhos sozinha e exausta com a jornada de trabalho, Alexandra acabou negligenciando a própria saúde. Até que um dia, durante o atendimento a uma cliente – que era médica –, ela percebeu um nódulo em seu pescoço e se ofereceu para ajudá-la com o diagnóstico.
Após a retirada dos nódulos, aos 22 anos, Alexandra se viu tomando 12 comprimidos por dia e com quase 20 quilos a mais. “Minha autoestima foi lá embaixo. No auge da minha juventude, meu cabelo caía quase todo, eu estava acima do peso, com a aparência toda acabada, e ainda trabalhando 12 horas por dia para dar conta”, relembra.
Uma nova jornada
Superada essa fase, ela passou a se destacar como vendedora, sendo transferida para a primeira unidade da Arezzo na região. Em seguida, veio o convite para gerenciar uma loja da grife Victor Hugo – momento que Alexandra enxerga como sua grande virada de chave.
Assim, foram 15 anos de trabalho na rede, que lhe proporcionaram uma vida mais confortável e distante das grandes dificuldades financeiras. Até que chegou o momento em que seus filhos ingressaram na faculdade. O emprego permitiu que ela pagasse uma faculdade de Medicina para a filha mais velha. No entanto, no ano seguinte, o filho também foi aprovado para o mesmo curso – e o salário já não era suficiente para arcar com as duas mensalidades.
“Eu não tinha dinheiro, mas falei: ‘Você vai. Eu vou dar um jeito. Não sei como, mas você vai’”, relembra.
Foi então que surgiu uma proposta de trabalho em Angola, que oferecia uma remuneração mais alta, o suficiente para viabilizar os estudos dos filhos. “Meu coração disparava de tanto medo de dar errado, mas eu tinha mais um objetivo agora, que era formar meu filho também. Aceitei e, no final, deu super certo”.
A experiência deu tão certo que Alexandra passou a economizar para realizar outro sonho: abrir seu próprio negócio no Brasil. “Eu fui para Angola inicialmente só para formar meus filhos, mas percebi que o propósito de Deus era muito maior.”
A volta ao Brasil e o caminho do empreendedorismo
Ao retornar ao país, buscou se preparar ainda mais. Fez diversos cursos no Sebrae, determinada a não errar nos investimentos. Ao contrário do que se imaginava, ela não investiu no ramo da moda, com o qual já estava acostumada, e sim no de cafeterias. “Sempre fui muito crítica comigo mesma e preocupada em me aperfeiçoar. Então, quando fui abrir o meu negócio, era só continuar fazendo com amor aquilo que eu já fazia, mesmo quando não era para mim”.
Hoje, Alexandra está à frente de três empresas – e não pretende parar por aí. “Eu sou incansável. Sempre preciso de novos desafios. Aprendi isso”.
Com uma trajetória marcada por lutas e recomeços, ela também entende a importância de criar oportunidades para outras pessoas. “Meu propósito é dar chance aos improváveis como eu. Pessoas que nem acreditam nelas mesmas. Porque quando eu vivi aquele deserto lá atrás, eu jamais imaginei que iria viver o que vivo hoje.”
E finaliza com um conselho: “Não dá para contar só com sorte ou boa vontade. Tem que ir atrás de formação, de intencionalidade. A ambiência faz toda a diferença. É preciso ter muito posicionamento. Você tem que saber onde quer chegar, porque senão o próprio meio te engole e não deixa você seguir em frente.”
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