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Puerpério: a ilusão das redes sociais afeta a saúde mental na maternidade

A psicóloga Marinalva Callegario afirma que a comparação com corpos perfeitos nas redes sociais leva mulheres a uma jornada de insatisfação

Por Sarah Catherine Seles
Atualizado em 27 set 2021, 19h27 - Publicado em 27 set 2021, 13h46
As mudanças no corpo das mulheres puérperas e a comparação nas redes sociais
As mudanças no corpo das mulheres puérperas e a comparação nas redes sociais (Estersinhache fotografía/Getty Images)
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A insatisfação com o corpo é algo recorrente na sociedade, principalmente entre as mulheres – principais vítimas do padrão de corpos inalcançáveis.

Cientistas da Universidade de Cambridge, da Universidade de Bath, na Inglaterra, e da Norwegian Business School, na Noruega, provaram isso com um estudo publicado em fevereiro deste ano. De acordo com as análises, o desejo por perder peso ou desenvolver músculos estão entre os principais problemas de imagem corporal acentuados pela pandemia.

Essa busca incessante adiciona mais exaustão às múltiplas jornadas que as mulheres enfrentam, ainda mais com as que passam pelo puerpério. As redes sociais intensificaram a pressão estética sobre os corpos que acabaram de viver e sentir a experiência do parto.

A psicóloga Marinalva Callegario afirma que a comparação com corpos perfeitos nas redes sociais leva as mulheres a uma jornada de insatisfação e falta de amor próprio. “Cada um de nós é único. A gente nunca deveria se comparar com ninguém, porque nós somos seres exclusivos no planeta”, diz.

As mudanças que o corpo passa com a gravidez são normais e comuns, por mais que o mundo irreal existente nas redes sociais mostre o contrário. Afinal de contas, para o corpo conseguir gerar uma vida, processos são necessários.

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“A pandemia fez com que, cada vez mais, as pessoas usassem as redes sociais como um espaço de fuga da realidade. Um comportamento que impacta de forma nociva e perigosa a vida, o corpo, a mente e a energia de cada um. Isso pode gerar nas mães que acabaram de parir uma insatisfação cada vez maior, uma vez que percebem que suas vidas não são tão ‘perfeitas’ como a vida de seus ídolos e influenciadores digitais”, explica a psicóloga.

mulher amamentando
As redes sociais e a pressão sobre as mulheres no pós-parto (Toshiro Shimada/Getty Images)

Vida real X redes sociais

Após o parto de seu segundo filho, a educadora Ana Lígia Costa, 32 anos, se viu insatisfeita com o corpo e presa no limbo da comparação presente nas redes sociais. Quando estava crescendo, ela enfrentou uma batalha diária para se dar bem com a aparência, tentando se encaixar nos padrões impostos pela sociedade. 

“Na adolescência meu corpo deixou de ser perfeito para mim. Aos olhos externos, eu não tinha as curvas adequadas, a barriga sobrava para fora da calça, usava óculos… Então, passei a esconder meu corpo, em especial a barriga, em todas as ocasiões”, lembra.

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Com o tempo, fui amadurecendo, tentando resgatar o amor pelo meu corpo, mas, por mais que me esforce, a autocobrança sempre está lá

Ana Lígia Costa

A maternidade chegou e, com ela, as mudanças no corpo também. “Quando ganhei meu primeiro filho, 8 anos atrás, passei pelo processo árduo comum à boa parte das mães, em especial de primeira viagem”, conta.

Ana passava noites sem dormir, não se alimentava direito e estava exausta emocional e fisicamente, o que a fez perder peso. Apesar dos desafios e do cansaço evidente, ela ouvia elogios e até comentários como: “Uau, nem parece que você  acabou de ser mãe!”.

“Hoje estou aqui novamente com um bebê nos braços. As discussões sobre a diversidade dos corpos estão em toda parte e imaginei que dessa vez minha cobrança seria menor. Mas não foi. Dessa vez não perdi peso rápido e ainda choro quando minhas roupas não servem”, conta a educadora.

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Pandemia aumentou o uso das redes

O uso das redes sociais aumentou durante a pandemia. Confinadas em casa, as pessoas passaram mais tempo em frente aos aparelhos e, consequentemente, consumiram mais conteúdos online. O resultado dessa equação é que passamos a viver no universo irreal ainda mais.

celular
O uso excessivo das redes sociais pode gerar insatisfação com o próprio corpo (diego_cervo/ThinkStock)

A pressão que encarou nas redes sociais fez a educadora se questionar: “se aquela ‘influencer’ voltou a ter a barriga negativa em 15 dias, por que eu não consigo pelo menos servir no meu jeans antigo?”. Apesar desse tipo de comparação ser comum, não é saudável e impacta na saúde mental das mulheres.

“O que é mostrado nas redes sociais é só o que a pessoa quer mostrar, os bastidores ninguém mostra. Ninguém mostra uma briga com o namorado ou com o marido, nem aparece feia descabelada, chorando no dia que acorda triste. Ninguém mostra as angústias que sente, as pessoas estão sempre colocando uma máscara para passar a impressão de que estão sempre felizes, que a vida é perfeita”, explica Marinalva.

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Influenciadoras

O tema divide opiniões até entre as influenciadoras. A médica e influenciadora Romana Novaes, que tem dois filhos com o DJ Alok, afirmou que não mostra as mudanças do pós-parto nas redes sociais para evitar essa comparação que as puérperas fazem entre os corpos.

A atriz Sthefany Brito, que também teve bebê recentemente, acredita que as mulheres precisam ter mais responsabilidade afetiva e empatia com as outras.

Já a influenciadora Virginia, esposa do Zé Felipe, e a modelo Andressa Miranda, esposa da Thammy, pensam diferente. Poucos dias após o nascimento dos filhos, já postaram fotos do corpo e da rotina nas redes sociais. No entanto, também foram questionadas sobre suas formas de maternar.

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“Durante o parto, influencers estão maquiadas, postando conteúdo e parecem nem sentir dor. Meu corpo doeu tanto! Será que sou mais fraca que elas? Poucas horas após, elas já estão compartilhando suas rotinas tranquilas, sem olheiras, sem dores, sem sangramento. Meu corpo sangrou por mais de 50 dias, minhas olheiras estão crônicas, por tantas noites sem dormir. Será que estou sendo insuficiente em organizar minha rotina?”, reflete Ana Lígia.

O que fazer?

Para a psicóloga, uma das formas de manter a saúde mental é não se comparar e entender que todos possuem altos e baixos. “Ninguém tem a vida perfeita, isso é uma mentira que infelizmente as redes sociais passam”, explica Marinalva.

A especialista aconselha a cuidar da saúde, cultivar o amor próprio, investir em si mesma e consumir conteúdos de qualidade para agregar valor a esse processo. Cultivar hobbies também é positivo para o bem-estar mental e físico da puérpera. “A rotina com um bebê é puxada, mas a mãe precisa, nem que seja por 10 minutos, fazer algo que goste”, afirma.

O tempo na própria companhia é precioso, já que, segundo Marinalva, é o momento em que realmente nos reconhecemos. “Quando a gente esquece da gente, focamos em se doar para os outros”, explica. Ela ainda aconselha a buscar acompanhamento psicológico para lidar com a raiz desses problemas tão pessoais.

“O que tem me ajudado a não cair nesta cilada, que é comparar a vida real com o submundo das redes sociais, é seguir mulheres que mostram a maternidade da forma mais natural possível. Assim vou me reencontrando e volto a crer que tudo que estou passando é absolutamente normal, que meu corpo é maravilhoso, pois ele trouxe ao mundo duas crianças potentes e incríveis”, compartilha Ana Lígia.

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