Panorama da menopausa: como as brasileiras enfrentam a queda hormonal?
Pesquisa inédita dá voz a mulheres que atravessam essa fase e mostra que elas ainda enfrentam desafios na busca por diagnóstico
“Muito pouco se fala sobre quanto a menopausa impacta a mente da mulher antes, muito antes de a menstruação começar a falhar.” A frase, colhida em pesquisa realizada pelas revistas CLAUDIA e VEJA SAÚDE, com o apoio da farmacêutica Bayer, revela um cenário ainda desconhecido para muitas brasileiras que estão entrando ou já vivem a etapa da baixa hormonal natural da idade.
Batizada de A Vida Não Pausa, a sondagem foi feita pela internet e contou com a participação de 1.363 mulheres de todas as regiões do país.
Entre os achados, chama atenção a dificuldade em obter um diagnóstico rápido e certeiro, situação relatada por 18% das entrevistadas, com sintomas muitas vezes confundidos com condições como ansiedade, depressão ou estresse. Para quase 30%, a menopausa só foi detectada após seis meses de peregrinação em consultórios.
“Desmistificar esse período como sendo relacionado a um envelhecimento não saudável ainda é um desafio”, diz a médica Isabel Cristina Esposito Sorpreso, professora associada da disciplina de Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
“Isso envolve questões culturais, etnorraciais e a vivência pessoal de cada mulher. Tudo repercute em como ela vai interpretar essa nova fase da vida”, pondera.
Ondas de calor, irritabilidade, problemas de concentração e memória, diminuição da libido, fadiga e ansiedade são sentidos pela maioria das participantes da sondagem, gerando impacto físico e mental. A causa das desordens e desconfortos é a queda gradual do estrogênio, produzido pelos ovários ao longo da vida fértil.
“Esse hormônio atua no sistema nervoso central, incluindo o centro termorregulador, daí a flutuação que deflagra os fogachos”, explica a ginecologista Ilza Monteiro, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“A oscilação do estrogênio afeta também a produção de serotonina e dopamina, neurotransmissores associados a alterações de humor”, continua.
Um olhar mais sensível para os sintomas
De acordo com a ginecologista Anna Valéria Gueldini, da Associação Brasileira do Climatério (Sobrac), os primeiros sintomas são difíceis de perceber numa mulher ativa — na amostra, mais de 70% estão em plena atividade no mercado de trabalho.
“A menopausa não acontece de forma igual para todas. Cada uma vai apresentar um conjunto de sinais diferentes, em tempos diferentes”, observa Anna Valéria.
Entre cinco e sete anos antes da última menstruação, têm início os indícios da diminuição da capacidade ovariana, período chamado de perimenopausa, em que o fluxo começa a ficar irregular. “Algumas chegam a suspeitar de gravidez”, comenta Anna Valéria.
“Muitas buscam cuidados em portas erradas. Se notam mudança no padrão de sono, de cognição, alterações de humor, procuram um psiquiatra. Se sentem dor articular, vão a um ortopedista. Quando a queixa é de palpitação, porque as ondas de calor aumentam os batimentos cardíacos, agendam com um cardiologista”, enumera.
Na percepção de 1/3 das brasileiras ouvidas, o médico consultado não fez uma boa investigação dos relatos, sendo que uma parte teve que procurar até mais de três profissionais antes de obter o diagnóstico.
E, mesmo depois disso, uma a cada cinco diz não ter recebido explicações satisfatórias sobre o período e as estratégias para amenizar os impactos na autoestima, no bem-estar mental e na vida sexual, sentidos por mais de 60%.
Maria Isabel Sorpreso reforça que os sintomas vão ter intensidades variadas e podem ser vivenciados também de maneiras distintas, a partir da história de vida de cada uma.
“Esse é um ponto muito importante que o médico deve considerar quando se trata de desmistificar a abordagem da menopausa”, diz a especialista, que é também coordenadora do projeto Menopausando, site criado para disponibilizar informações sobre o tema, sobretudo para quem utiliza o Sistema Único de Saúde (SUS).
“Antes da prescrição de qualquer tratamento, é fundamental investir na promoção de saúde e prevenção principalmente de doenças crônicas não transmissíveis e neoplasias, como câncer de útero”, orienta Isabel Cristina.
Na visão da médica, a mulher precisa ser acolhida, ter suas queixas consideradas. Deve ser conscientizada sobre mudanças de estilo de vida, a importância do autocuidado, deixando de lado o tabagismo e abuso de álcool, por exemplo.
Obesidade, sedentarismo, alto consumo de alimentos processados, tudo está relacionado a comorbidades que impactam a saúde e a qualidade de vida, e precisa ser levado em conta.
“Aquelas que fazem atividade física, têm boa alimentação e qualidade de sono costumam passar por essa transição de maneira mais tranquila”, concorda Anna Valéria. A julgar pelo universo da pesquisa, embora uma em cada quatro mulheres afirme não ter recebido recomendações sobre alterações nesse sentido, boa parte está ciente de que são necessárias, uma vez que mais de 70% das respondentes concordam que exercícios físicos são importantes após a menopausa.
Informação pode ser o melhor remédio
A reposição dos hormônios em déficit, estratégia capaz de conter os abalos, não é totalmente conhecida e aceita pelas participantes. Tanto que 14% têm indicação médica para iniciar a terapia hormonal, mas relutam em dar esse passo por medo dos efeitos colaterais dos medicamentos ou até mesmo pelo custo do tratamento.
As consequências da falta de estrogênio, alerta Anna Valéria, vão além das dificuldades mais perceptíveis. “O hormônio ajuda a manter o vaso sanguíneo saudável e a controlar o colesterol, então suas flutuações ou ausência aumentam o risco de doenças cardiovasculares”, diz a ginecologista, que foi uma das revisoras do mais recente Consenso Brasileiro da Terapêutica Hormonal do Climatério, da Associação Brasileira do Climatério (Sobrac) e Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
No longo prazo, também provoca prejuízo à massa óssea, dando origem à osteoporose. Isso sem contar o surgimento de perrengues geniturinários, intensificando ressecamento vaginal, disfunção sexual, perda de libido, incontinência urinária e por aí vai.
No nosso estudo, entre aquelas que optaram pela reposição, 75% dizem que ela ajudou a controlar os sintomas. “É a partir da análise dos riscos e contraindicações que o ginecologista vai ofertar ou não a terapia hormonal”, contextualiza Isabel Cristina, da FMUSP.
“Iniciada dentro da chamada janela de oportunidade terapêutica, abaixo de 60 anos ou com menos de uma década da menopausa, quanto mais próximo do início dos sintomas for iniciada, menor o risco de sofrer problemas cardíacos”, destaca Anna Valéria.
Para aquelas que não querem ou não podem fazer uso da terapia hormonal contínua, há alternativas não hormonais capazes de amenizar sintomas específicos, caso de laser e radiofrequência para a secura vaginal.
“Seja qual for o caminho, a coparticipação da mulher no seu autocuidado é fundamental e tem que ser considerada. Qualquer decisão deve sempre ser compartilhada com ela”, conclui Isabel Cristina Sorpreso.
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