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O impacto do diagnóstico tardio das doenças uterinas

Endometriose, adenomiose e miomatose nem sempre precisam de cirurgia, mas o diagnóstico muitas vezes demora

Por Renata Veneri
Atualizado em 16 jul 2024, 16h32 - Publicado em 18 jun 2024, 08h00
Endometriose, adenomiose, miomatose
Machismo afeta a descoberta do diagnóstico de doenças em mulheres (Anamaria/CLAUDIA)
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A enfermeira Juliana Petila, 35 anos, passou mais de dez anos tentando descobrir as causas das dores ininterruptas e incapacitantes que sentia no abdômen, no intestino, nas pernas, nas costas, na virilha, no ânus. Fora o cansaço, o desânimo, a angústia e a ansiedade que comprometiam sua vida pessoal e profissional. Praticar exercício físico regularmente, então, nem pensar — o que era um convite à desordem nutricional. Na maratona de consultas e exames com diferentes médicos, costumava ouvir que o que ela tinha era cólica menstrual: “É assim mesmo”, “Tenha paciência”, “Descanse”. 

Mas Juliana não precisava de tapinhas nas costas: precisava de tratamento adequado. Ela tinha miomatose e endometriose, doenças femininas benignas prevalentes em mulheres em idade fértil. Apenas uma década depois da busca incessante pelo diagnóstico é que soube, de fato, o que lhe causava tanto sofrimento.

A vida depois do diagnóstico de miomatose e endometriose

A descoberta veio com uma sentença que a assustou: sua única alternativa seria a retirada total do útero. “Tive muito medo. Sonhava em ser mãe e não queria abrir mão disso. Foi aí que resolvi procurar uma médica especializada nesse tipo de tratamento.” Juliana foi submetida a uma pequena cirurgia, passou a cuidar da alimentação, a praticar atividade física regularmente e hoje está sem dores, otimista e muito mais segura. 

 A médica que a operou foi a ginecologista Bárbara Murayama, cirurgiã minimamente invasiva, especialista em endoscopia ginecológica, professora de ioga e ativista do movimento físico e da alimentação saudável.

Tratamento mais humanizado pode ser alternativa à cirurgia

“Na faculdade de medicina aprendemos a tratar doenças. Recebemos pouca ênfase para cuidar do ser humano. Todos os dias, vejo pacientes com casos mais graves que já passaram por vários colegas que só oferecem retirar o útero. Estamos falando de doenças benignas. O primeiro tratamento deveria ser clínico. Quando esses falham, daí, sim, indicaremos opções cirúrgicas — sempre as menos invasivas e mais conservadoras primeiro”, explica.

A própria médica também passou por um processo doloroso de descoberta e tratamento da endometriose. Foi a partir daí que decidiu estudar alternativas para a sua própria cura e para o melhor acolhimento das mulheres que passariam pelo seu consultório. 

Se na faculdade de medicina ainda falta compreender a figura do ser humano, o entendimento da figura feminina parece ainda mais atrasado. Faltam informações e pesquisas e sobram preconceitos, mitos e tabus.

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Quando o machismo interfere no diagnóstico de doenças em mulheres

“É desafiador. Muitas pessoas ainda se envergonham quando trato de forma aberta sobre sexualidade, menstruação etc. Há muito machismo e entre ginecologistas prevalece a cultura do patriarcado. Lamentavelmente, mesmo quando uma mulher está pronta para falar sobre sua sexualidade, suas questões íntimas, nem sempre o profissional que está à sua frente está preparado para acolher”, reflete Bárbara. 

De fato, não faltam exemplos na literatura médica que mostrem os vieses de gênero que existem entre médicos. Uma pesquisa da Universidade da Filadélfia, que examinou o atendimento em quase mil pronto-socorros, mostrou que mulheres recebem muito menos remédios contra a dor do que homens quando dão entrada com dores abdominais.

Quando relatam dor no peito — aponta um outro estudo — , são tratadas com mais frequência como pacientes com transtornos mentais, enquanto os homens recebem tratamento cardíaco. “Uma pesquisadora do MIT (Massachusetts Institute of Technology) deu uma entrevista falando exatamente isso, contando que sofreu muito para tratar a endometriose, e que passou por diversas cirurgias. Ela citou a falta de interesse por parte de homens líderes dessa comunidade para compreender e solucionar doenças estritamente femininas”, resume.

Apesar de geralmente ser benigno, o mioma incomoda

No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, uma em cada dez mulheres tem endometriose e uma em cada oito tem miomas (na maioria dos casos, sem grandes complicações). Já as estatísticas sobre a adenomiose ainda são incertas: grande parte dos dados disponíveis baseia-se em resultados de histerectomias (cirurgias da retirada do útero), apesar de já serem feitos diagnósticos precoces em mulheres com dores crônicas e com dificuldade para engravidar, por exemplo. 

As três são doenças ginecológicas femininas que acometem principalmente mulheres em idade reprodutiva, da primeira à última menstruação. As três possuem entre seus fatores estimulantes e causadores os hormônios femininos estrogênio e progesterona, que agem de forma diferente para cada doença, e as três têm fatores imunológicos, genéticos, alimentares e ambientais envolvidos na sua formação e manutenção (entenda melhor cada uma no box ao lado). Apesar de serem benignas, despreparo e erro médicos, atrasos em diagnósticos e falta de medicamentos disponíveis podem comprometer, e muito, a qualidade de vida dessas mulheres — física, mental e emocionalmente. 

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Estudos realizados em diferentes partes do planeta mostram que há um atraso de 7 a 10 anos no diagnóstico da endometriose. Um deles, publicado em 2020 na National Library of Medicine, apontou um atraso de 8,6 anos até que se descobrisse o que, de fato, as pacientes tinham. Três em cada quatro mulheres relataram demoras e erros nos seus diagnósticos, sendo que 95% receberam diagnósticos de algum outro problema físico e 50% de alguma questão mental.

Miomatose: cirurgia de retirada de miomas e mudança de hábitos muitas vezes é a solução

Foi investigando os motivos da sua aparente infertilidade que a terapeuta ocupacional Fabiane Fávaro, de 36 anos, descobriu a miomatose. Ao longo de intermináveis oito anos ela se submeteu a inúmeros exames e tratamentos, recebeu diagnósticos diversos, gastou dinheiro, pensou em desistir, desistiu, retomou: “Sofri muito. Me sentia impotente, incapaz de gerar, com medo, frustrada, perdida. Todo o processo da doença e da infertilidade é muito solitário. O medo me acompanhou o tempo todo”.

Em junho do ano passado, Fabiane conheceu a médica Bárbara Murayama. “Ela me ouviu, prestou atenção em mim e saí de lá com esperança de que meu caso poderia ter solução.” E teve. A ginecologista marcou a cirurgia de retirada de miomas para setembro e a orientou a realizar algumas tarefas antes da operação: exercício físico incluindo ioga, terapia, acupuntura e mudanças na alimentação. A cirurgia foi um sucesso e, seis meses depois, ela recebeu a notícia de que estava grávida. 

Como viver bem com a miomatose

Fabiane hoje faz ioga, ciclismo, treinamento funcional. Quem também celebra e colhe os frutos de uma rotina saudável é Juliana: “Faço caminhadas e exercícios pelo menos três vezes por semana. Cortei bebida alcóolica, diminuí doces e gorduras e hoje posso dizer que me relaciono bem com a comida”.

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Segundo a nutricionista e acupunturista Gabriela Riani, especializada em saúde da mulher, há vários estudos sinalizando melhora nos sintomas dessas três doenças quando as mulheres passam a comer melhor: mais frutas, fibras e vegetais e menos alimentos processados, carnes e embutidos. Porém, explica, mudar hábitos alimentares é um dos processos mais difíceis e profundos que existem.

“A primeira pergunta que faço às mulheres que chegam ao meu consultório é o quanto elas estão dispostas. Aí entra um pouco da sensibilidade de entender qual é o limite, o que podemos mexer logo de cara, o que é preciso esperar, qual é o alimento emocional dessa mulher, como é a sua rotina. Mas tudo isso, sempre, é feito em parceria com ela.”

O encontro da Gabriela com a acupuntura e a nutrição também surgiu da sua experiência pessoal com a endometriose. “Não quis fazer tratamento hormonal. Comecei a praticar esporte com mais frequência, reorganizei minha agenda pessoal e profissional, mexi nos padrões de sono e de consumo de bebida alcóolica, acertei a alimentação e minha doença estacionou. Hoje vivo muito bem, sem dor e com muita qualidade de vida.”

A importância de consultar a opinião de mais de um médico

Seja para o diagnóstico ou para o tratamento, é importante consultar mais de um especialista. Escutar a opinião de mais de um médico permite a identificação correta da doença e a descoberta do tratamento mais adequado para o seu caso.

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