Pratica exercício físico? Conheça os benefícios da ginecologia esportiva
Atletas amadoras convivem com problemas que são comuns, como incontinência urinária, mas que não são normais e devem ser tratados
As Olimpíadas de Tóquio estão próximas e já se destacam por ser a edição com o maior percentual de participação feminina da história. De acordo com o Comitê Organizador do evento, ao todo, as mulheres representam 49% dos atletas inscritos para a competição. Isso significa que o conceito de igualdade no esporte dá passos importantes para uma composição de gênero mais proporcional.
Esta porcentagem, apesar de satisfatória, traz a tona outra temática que se enquadra não apenas à realidade olímpica, mas ao dia a dia de todas as mulheres que praticam alguma atividade física: a necessidade de uma assistência e suporte às particularidades do universo feminino, principalmente relacionadas à ginecologia, na qual problemas comuns são identificados.
“Quando há compreensão de que existe diferenças entre a mulher e o homem no esporte, entende-se a razão de ter uma especialidade olhando para esse público”, aponta Rosangela Faroni, ginecologista do Serviço de Medicina do Esporte da Rede Mater Dei de Saúde.
“No caso da ginecologia esportiva, em parceria com outras especialidades médicas, ela volta o olhar para todas as mulheres que praticam atividade física. Assim, é possível identificar peculiaridades decorrentes da prática de exercícios”, explica a especialista.
Benefícios e malefícios
“O esporte é muito importante e sempre traz muitos benefícios ao corpo”
De acordo com a médica Carla Tavares, coordenadora do Serviço de Medicina do Esporte da Rede Mater Dei de Saúde, as mulheres são um grupo que podem usufruir de enormes benefícios relacionados ao esporte, inclusive relacionados ao ciclo menstrual. Com a prática esportiva, alguns sintomas e alterações hormonais podem ser minimizados. No entanto, tudo deve ser acompanhado a fim de minimizar a chance dos benefícios se tornarem em malefícios.
“Impactos negativos não acontecem só com profissionais olímpicos, por isso é importante o acompanhamento. Sem ele, essas implicações podem se agravar”, diz Rosangela.
Quando a profissional fala de malefícios decorrentes da prática esportiva, ela se refere a um desequilíbrio no organismo, que pode causar prejuízos, “como alterações no ciclo menstrual, que podem se tornar mais extensos, infertilidade, incontinência urinária e dor nas mamas, por exemplo”, aponta Rosangela. “Em geral, isso ocorre com as atletas que não são acompanhadas na rotina de exercício e comem pouco, por exemplo”, alerta.
O cenário descrito pela especialista também é conhecido como Síndrome da Mulher Atleta, caracterizada por uma deficiência energética no corpo, ou seja, a quantidade de energia consumida por meio dos alimentos é menor do que a quantidade de energia gasta, provocando impactos negativos no organismo, que se manifestam através de uma gama de acontecimentos.
“Isso vai gerar um desequilíbrio hormonal que pode interferir e impactar no ciclo menstrual, na disponibilidade de energia e, em um estado extremo, na saúde óssea, diminuindo a densidade mineral e aumentando o risco de fraturas e outras complicações relacionadas aos ossos”, explica Carla.
A saúde cardiovascular, a alteração na imunidade e o perfil lipídico também são fatores que sofrem impacto negativo desta deficiência calórica e energética. Sintomas como fraturas por stress, alteração no humor, fadiga excessiva, alteração na fertilidade e queda anormal no rendimento são os mais comuns e podem ser corrigidos com o acompanhamento multidisciplinar, geralmente composto por um profissional das seguintes áreas: ginecologia, fisioterapia, psicologia e nutrição, para que haja a investigação mais completa.
“Se ela faz esse acompanhamento multidisciplinar, mesmo antes de apresentar qualquer sintoma ou alteração, podemos ajudar a prevenir as complicações tanto em relação à síndrome quanto em relação a outros incidentes”, afirma a especialista.
A incontinência urinária e a dor na mama, por exemplo, são outros fatores frequentemente relatados entre as mulheres quando o assunto é o esporte e que podem ser corrigidos com o acompanhamento de um fisioterapeuta. No caso das mamas, o desconforto pode ser solucionado pelo uso de um top adequado. Portanto, vale a pena ser acompanhado e descobrir que grandes problemas, podem ser resolvidos com pequenas ações direcionadas.
Tabu e normalização
Apesar de ser indicada para quem pratica exercícios regulares, a ginecologia esportiva, que sonda não apenas os impactos negativos da atividade no organismo feminino, mas também os positivos, ainda é vista como um tabu ou algo inatingível pela maioria das mulheres atletas.
“Elas não se considerarem atletas por aparecermos principalmente atletas olímpicas. Essas mulheres esportistas deixam de se beneficiar com isso”, diz Rosangela.
Foi perceptível que durante toda a reportagem o termo “comum” foi utilizado no lugar de “normal”? A escolha foi proposital, já que a normalização desses problemas tem sido um grande empecilho para a aceitação da importância do acompanhamento médico.
“As mulheres já não falam tanto sobre isso e ainda normalizam algumas situações entre elas, achando que perder urina em exercícios de impacto e não menstruar, por exemplo, é normal. Pode ser comum quando não é feito um acompanhamento de perto, mas não significa que é normal”, alerta.
“Se você vai realizar uma atividade física, tendo profissionais que te avaliam antes do início dessa atividade ou de um novo ciclo de treinamento, é relevante que você faça uma avaliação tanto no sentido de prevenir complicações quanto no sentido de potencializar os objetivos que você tende a alcançar”, sugere a especialista para as atletas amadoras.