Endometriose: como a doença misteriosa começa a ser tratada no SUS
De difícil diagnóstico, a doença agora tem opções de tratamento no Sistema Único de Saúde

Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 7 milhões de mulheres brasileiras convivem com a endometriose – uma doença silenciosa, crônica e muitas vezes incapacitante. Apesar da alta incidência, o assunto só ganhou maior destaque na mídia e nas redes sociais quando a cantora Anitta revelou publicamente seu diagnóstico, trazendo o tema para o centro das conversas sobre saúde feminina.
Durante décadas, dores abdominais intensas e ciclos menstruais excessivos foram tratados por muitas mulheres como parte “natural” do cotidiano. Hoje, especialistas reforçam: sentir dor não é normal. Buscar atendimento diante de sintomas persistentes é fundamental para garantir um diagnóstico precoce e tratamento adequado.
A seguir, a médica Denise Martins, e a enfermeira obstétrica Anatália Basile, ambas do Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” (CEJAM), explicam mais sobre a doença, seus sinais e as opções de tratamento.
O que é a endometriose
A doença, considerada crônica, é um processo inflamatório em que o endométrio, tecido que reveste a cavidade uterina, passa a apresentar-se fora do órgão. “É uma doença benigna que pode se iniciar a qualquer momento após a primeira menstruação, podendo acompanhar a mulher por toda sua vida”, afirma Denise.
Anatália explica que essa pode ser vista como a principal causa de dores pélvicas, acometendo cerca de 10 a 15% das mulheres em idade reprodutiva, além de ser uma das principais causas de infertilidade.
Principais sintomas
Os sintomas se concentram em especial nas dores abdominais e no alto volume de menstruação, gerando inúmeros impactos para a qualidade de vida dessas mulheres. “[A endometriose] É considerada responsável por altas taxas de absenteísmo no trabalho e atividades sociais, bem como de presenteísmo, gerando dificuldade de desenvolver atividades físicas ou intelectuais mesmo quando presentes no ambiente de trabalho”, declara Anatália.
Denise alerta que a saúde mental também pode ser prejudicada, isso porque as dificuldades em engravidar e as dores durante as relações sexuais – um dos grandes sintomas relatados – levam a muitas outras consequências para além do físico.
Diagnóstico precoce
As especialistas alertam sobre a importância da descoberta precoce da doença: “é fundamental para que seja possível dar a assistência adequada à portadora da doença”, esclarece Anatália. Além disso, a enfermeira explica que o reconhecimento antecipado evita que a doença possa progredir afetando outros órgãos, como o aparelho digestivo.
No entanto, elas explicam que o médico deve oferecer uma escuta ativa, para assim identificar os sinais. “O diagnóstico nos estágios iniciais é presuntivo e requer suspeita clínica através da análise minuciosa dos sintomas e exame físico, pois a doença inicial – com exceção daquela localizada nos ovários e parede abdominal – pode não ser diagnosticada por exames de imagem. Por isso, algumas pacientes são diagnosticadas tardiamente”, relata Denise Martins.
Possibilidades de tratamento e avanços no SUS
As duas explicam que o tratamento pode ser feito com medicações como analgésicos, anticoncepcionais e medicações que bloqueiam a produção de hormônios pelo ovário. Em casos mais graves, a cirurgia de retirada dos tecidos é uma opção.
O Sistema Único de Saúde (SUS), por muitos anos, enfrentou dificuldades para oferecer opções de tratamento para essas mulheres. Isso porque, para além de medicações, os postos de saúde não contavam com profissionais especializados no tema e com equipamentos fundamentais para o atendimento dessas pacientes.
Mas, recentemente, o cenário sofreu alterações. Anatália informa que o governo passou a ofertar dois importantes métodos hormonais no tratamento clínico: o contraceptivo oral à base de desogestrel e o sistema intrauterino com liberação de levonorgestrel (Mirena). “São avanços significativos, pois oferecem opções eficazes e acessíveis para muitas pacientes”.
Elas citam a cidade de São Paulo como exemplo no enfrentamento da doença. Isso porque além dos medicamentos, a capital paulista também passou a oferecer, recentemente, o implante subdérmico de etonogestrel (Implanon). Além do mais, Anatália destaca o Programa de Endometriose oferecido na cidade: “é uma iniciativa estruturada para oferecer diagnóstico e tratamento nos casos mais sérios da doença, dentro da rede pública de saúde”.
E para finalizar, as especialistas enfatizam a importância dessa evolução: “O SUS tem avançado no enfrentamento da endometriose, garantindo que mais mulheres tenham acesso a diagnóstico precoce e tratamento adequado”, conclui Anatália Basile.
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