Elas contam como foi ter câncer de mama antes dos 30 anos
Nunca é cedo demais para se cuidar.
Mulher nenhuma está pronta para o diagnóstico de câncer de mama, mesmo quando a genética aponta que ele poderá vir, mais cedo ou mais tarde. Imagine, então, quando ele vem antes dos 30 anos. É especialmente surpreendente, pois mulheres que desenvolvem um câncer de mama nessa idade são minoria. “Sabe-se que aproximadamente 7% das mulheres diagnosticadas com câncer de mama têm 40 anos ou menos. Se reduzirmos nossa análise para 30 anos, esse percentual será ainda menor”, explica o Dr. Fábio Arruda de Oliveira, mastologista do Hospital São Luiz, de São Paulo. Esses dados têm como base as pesquisas norte-americanas, pois não há estatísticas brasileiras sobre câncer de mama precoce.
O erro é acreditar que nunca vai acontecer com a gente. Carolina Telles, Carolina Sanovicz e Gabriela Tellini não previram o diagnóstico, mas felizmente se cuidaram desde cedo. Guerreiras, elas deram a volta por cima e hoje têm um recado importante para te dar: se cuide! Nunca é cedo demais para conhecer o seu corpo e estar atenta a ele.
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O susto aos 25
Mesmo sendo pouco frequente, estar atenta ao problema é imprescindível, especialmente se você tem casos da doença na família. A grande maioria dos casos de câncer de mama precoces estão ligados a mutações genéticas hereditárias e foi isso que levou a cearense Carolina Telles a ficar de olho. “Eu sabia que um dia eu ia ter, por conta da genética, mas nunca em milhões de anos imaginei que ia ser tão cedo!”, conta ela, que recebeu o diagnóstico aos 25 anos. Durante o banho ela notou um carocinho e o desespero foi imediato, já que a mãe dela também havia tido a doença.
O primeiro exame apontou que o aspecto era benigno, mas a biópsia aprofundada revelou o câncer. “Chorei desesperadamente. Na verdade eu não pensava que ia morrer, já que minha mãe está viva e meu nódulo não tinha nem um centímetro. Mas eu pensava em tudo o que eu ia passar, como minha vida ia mudar”, relembra.
Era setembro de 2014 quando Carol teve que retirar parte da mama esquerda e perdeu o mamilo. “Nunca vou me esquecer a sensação quando me olhei no espelho pela primeira vez. Eu me senti horrível, toda roxa e costurada. Depois que foi desinchando eu vi que o formato tinha ficado ótimo, que eu estava com peito de adolescente e agora não vejo a hora de ajeitar o outro também”, conta ela, que precisou retirar quase 2kg de mama.
Depois disso veio o tratamento: quimioterapia e radioterapia. As sessões terminaram em abril e agora ela aguarda pela cicatrização completa para poder fazer a tatuagem de redesenho do mamilo. Além disso, Carol (que é tatuadora em Fortaleza) pretende se especializar nesse trabalho para poder ajudar voluntariamente outras mulheres que passaram pelo mesmo drama. “Eu quero fazer um curso [de redesenho de mamilo] e ir me preparando psicologicamente. Eu acho que ainda não estou pronta para enfrentar tantas histórias. Preciso me recuperar do meu próprio baque primeiro antes de começar a ajudar as pessoas, senão não tem sentido, né?”, desabafa. Após o fim do tratamento é hora de deixar o tempo curar o que ainda aflige o coração. O importante é não desanimar!
“Acho que a minha idade ‘ajudou’ o médico a errar o diagnóstico”
A gaúcha Gabriela Tellini também descobriu por si mesma um carocinho na mama, quatro anos atrás. “Nem foi com a intenção de autoexame, só passando a mão mesmo”, relembra. Assim como no caso de Carol, o primeiro exame apontou que o nódulo era benigno. Mas Gabi começou a se preocupar com o crescimento do caroço e só após a retirada é que a biópsia sinalizou o câncer. “Eu tinha 27 anos e acho que a minha idade ‘ajudou’ o médico a errar o diagnóstico. Eu mesma não achei que poderia ter, mas agora aviso todo mundo sobre isso”.
Após extrair o tumor, ela passou por quimioterapia e radioterapia, seguidas de uma cirurgia de setorização e a retirada de um nódulo sentinela na axila. “Não precisei fazer mastectomia, mas hoje tenho um buraco na axila”. Em meio ao tratamento, a vontade de alertar outras mulheres levou Gabi, que é jornalista, a lançar um blog a respeito do assunto. “O blog e a troca de experiências ajudaram bastante, a mim e a outras pessoas”. Junto com um amigo fotógrafo ela também resolveu fazer um ensaio fotográfico, que pôde ser acompanhado no blog. “Foi para dar um up na autoestima, porque é f*da ficar careca. A repercussão foi muito legal e, além de me sentir bonita, me senti útil”.
Giovani Paim
Para descobrir se tinha predisposição hereditária, Gabi chegou a fazer o exame de rastreamento dos genes BRCA1 e BRCA2 (aquele mesmo feito por Angelina Jolie) e o resultado indicou que não haviam mutações. “Segundo o médico, meu câncer pode ter acontecido por causa dos hormônios, pois tomava anticoncepcional desde os 14, com intervalos pra menstruar, mas nunca parei mais do que isso. Além do meus maus hábitos de saúde, como beber”. Fica o alerta, né, mulherada? A ideia não é deixar geral na paranoia, mas prestar atenção ao corpo e aos hábitos é fundamental. “E fazer os exames, claro!”, acrescenta Gabi.
“Como?! você só tem 26 anos!”
Quem tem uma história parecida com a da Gabi é a paulista Carolina Sanovicz, que foi diagnosticada aos 26 anos. Além de não ter casos de câncer de mama na família, ela também achou que era imprescindível alertar outras mulheres. Em agosto, dias depois de passar pela mastectomia, ela resolveu contar sua história através de um post no Facebook. Desde então, sua publicação já foi compartilhada mais de 59 mil vezes e recebeu quase 210 mil curtidas!
“Eu jamais imaginei que minha publicação teria tanta repercussão, aliás hesitei muito em fazê-la. Recebi centenas de mensagens de pessoas compartilhando sua história comigo, se abrindo mesmo, sem medo. A verdade é que o câncer assusta, mas também une”, conta ela, que descobriu o nódulo no seio esquerdo durante um exame de rotina, em 2013. E foi a mesma história: as características a princípio eram benignas. Na época a médica lhe aconselhou que realizasse uma checagem a cada seis meses e foi o que a Carol fez, mas o diagnóstico do câncer veio só em julho desse ano. “Tive muita sorte, pois meu tumor era pouco agressivo, caso contrário acho que teria tido um desfecho bem pior. Eu já tinha um tumor maligno havia dois anos”.
Após passar pela cirurgia, ela agora encara a quimioterapia. “No meu caso, a químio não é justificada pelo tumor, que era pouco agressivo, e sim pela minha idade. Infelizmente, como diz meu médico, eles estão ‘pegando pesado’ comigo porque sou muito nova. É uma prevenção”, explica.
E é também uma mensagem de prevenção que a Carol quer passar adiante. “De todas as minhas amigas, de 25 a 35 anos mais ou menos, para as quais eu dei a notícia, não teve uma que não tenha ficado chocada ou dito algo do tipo ‘Como?! Você só tem 26 anos!’ Foi aí que eu percebi que precisava contar isso para os outros. Ninguém acredita que pode acontecer. Até sabemos da possibilidade e do risco, mas não levamos a sério”, alerta ela, e acrescenta: “Não fujam dos médicos, não deixem a rotina dessa vida nos obrigar a estar em segundo plano. Frequentem o ginecologista e caso tenham algum nódulo no seio, seja aparentemente benigno ou não, procurem o mastologista”.
Anotou? É sempre em outubro que a gente volta a falar desse assunto, mas ter atenção à saúde é algo para ser feito durante o ano todo. Aliás, é para ser feito durante a vida toda e nunca é cedo demais para começar. Cuide-se hoje!