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Dificuldade de se conectar com o recém-nascido é real

Diversas mulheres sofrem a pressão do "instinto materno", dificultando ainda mais a criação de vínculo com o bebê

Por Adriana Marruffo
22 fev 2024, 08h59

A maternidade é, sem dúvidas, uma das experiências mais romantizadas pela sociedade, especialmente quando se trata do “instinto materno” que prometem que sentiremos logo após o parto. E, apesar de ter sua devida magia, as dificuldades são inúmeras, seja o cansaço de acordar durantes as madrugadas até a bastante real dificuldade de se conectar com o recém-nascido

“Para algumas mulheres, a conexão pode parecer mais difícil devido às transformações psíquicas e biológicas que ocorrem durante o parto, além de depender se a gravidez foi planejada ou não, e se existe rede funcional. Outras mulheres enfrentam dificuldades na rotina familiar e profissional, na readaptação pessoal. Elas passam por fases de maior sensibilidade, emoções intensas, experiências traumáticas e também por pressões sociais”, revela a psicóloga de mulheres Isabela Teixeira.

Mesmo que retratada como incomum, a dificuldade em criar esse laço é mais frequente do que imaginamos. Uma pesquisa realizada pela fundação britânica Parent-Infant mostrou que 11,5% das entrevistadas tiveram dificuldade em criar essa conexão.

Ademais, foi exposto que 73% delas não recebiam informações ou amparo profissional sobre como aumentar o vínculo com o bebê nas primeiras semanas após o nascimento no Reino Unido. 

Por que há dificuldade em se conectar com o bebê?

As mulheres tendem a passar por um período de vulnerabilidade hormonal, o que pode gerar um estranhamento consigo mesma e com o próprio filho
As mulheres tendem a passar por um período de vulnerabilidade hormonal, o que pode gerar um estranhamento consigo mesma e com o próprio filho (Polina Tankilevitch/Pexels)

O parto é o momento mais aguardado durante a gravidez – afinal, finalmente vamos conhecer nosso filho – mas, ao mesmo tempo, um dos mais temidos.

Desde a dor das contrações até os receios de uma vida que será completamente alterada, este é um momento marcado pela ansiedade: Será que seremos boas mães? Vamos saber cuidar imediatamente deste filho? Será que marcamos todas as pendências antes do parto? 

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“Desde a maneira que o parto ocorre até a maneira que a mãe se preparou para receber esse bebê têm influência no vínculo que ela vai gerar com o recém-nascido. Por exemplo, em um cenário em que a mulher passou por violências obstétricas, foi negligenciada ou foi desamparada de alguma forma – ou, também, se não se preparou com informações durante a gestação – a mãe não vai estar emocionalmente preparada ou centrada para receber o bebê, e muito menos se relacionar com ele”, aponta Lais Helena (@lhlaishelena), educadora perinatal e doula. 

Após o parto, Lais explica que, apesar de variar a cada paciente, as mulheres tendem a passar por um período de vulnerabilidade hormonal, o que pode gerar um estranhamento consigo mesma e com o próprio filho.

A educadora perinatal ainda aponta que todos os momentos da gravidez, desde os cuidados tidos na gestação e informações adquiridas até o nascimento, têm impacto na forma em que vamos receber a informação do parto. 

“Também é uma questão de alinhar expectativas. Acabamos tendo uma romantização muito grande em cima do primeiro olhar com o filho, e pensamos que é como se fosse cair um pózinho mágico e tudo vai mudar e fazer sentido instantaneamente. Mas muitas mulheres não sentem isso, foi o que aconteceu comigo. Quando eu olhei para a minha filha pela primeira vez, eu fiquei agradecida que ela nasceu e que finalmente tinha passado toda aquela dor que eu estava sentindo. A criação do vínculo é subjetiva, e demora para se estabelecer.”

Além disso, o entorno da mulher, tanto na gestação quanto no parto, influencia diretamente nas expectativas e na preparação da mãe para o recebimento do recém-nascido. 

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“Outros fatores que corroboram para essa dificuldade são as possíveis condições médicas, dificuldades na amamentação e depressão pós-parto, que afetam as expectativas da mãe, consequentemente, a formação do vínculo e conexão”, complementa Isabela. 

Como sei que estou com dificuldade de conexão com o bebê?

“Nesse momento do pós-parto, as mães estão muito vulneráveis a passarem por episódios como baby blues ou de depressão pós-parto. Mas, entre as características de mães que estão tendo uma maior dificuldade de se conectar com os filhos, identificamos o ‘desconforto’ da mulher para com a criança, o desconforto com o choro e, inclusive, o afastamento – a mãe não quer ficar perto daquela criança quando precisa”, relata a doula sobre os possíveis sintomas que podemos identificar nas mães.

Já Isabela descreve a possibilidade de sentimentos de melancolia ou tristeza, além de sintomas de ansiedade, inadequação ou a sensação de incapacidade em relação aos cuidados com o bebê.

Isso, por vezes, vem relacionado a uma insegurança no papel de mãe em cima da preparação tida durante a gestação, pois muitas vezes é um papel vendido como instantâneo e inserido no cérebro das mulheres – e spoiler, não é bem assim. 

Existe um tempo certo para se conectar com o recém-nascido?

O período de estranhamento ocorre, em média, durante o primeiro mês pós-parto
O período de estranhamento ocorre, em média, durante o primeiro mês pós-parto (Oleksandr P/Pexels)

Não! O fato de não conseguir criar um vínculo rápido com o recém-nascido é muito natural e, claro, acontece com muitas mais mulheres do que imaginamos.

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“Isso pode acontecer, principalmente, durante o primeiro mês pós-parto, também chamado de resguardo da mulher. Além disso, é muito natural que aconteça durante a primeira semana após o parto, conforme os níveis de hormônios começam a se estabilizar, porque há muitas questões, tanto psicológicas quanto corporais”, explica a doula.

As consequências da desconexão

Para além do tormento emocional que as mães sentem neste período de ‘desconexão’, um dos maiores medos que nos assolam são as consequências que isso pode ter no bebê e em nós mesmas.

“Na mãe, pode resultar em sintomas de ansiedade, isolamento social e impactos no senso de autoeficácia quanto ao cuidado da criança, afetando a autoestima, autoconfiança e o autocuidado pessoal”, explica a psicóloga de mulheres. 

A doula também destaca que devemos estar em alerta ao período de tempo em que a mãe sente esse estranhamento e desconexão, pois pode evoluir para um quadro de baby blues ou, inclusive, de depressão pós-parto.

“A gente carrega uma memória intra-uterina, uma memória que vamos carregar de maneira inconsciente. Os três primeiros meses têm um poder de determinar como esse bebê vai se relacionar dali para frente, e a mãe também é uma espécie de termômetro, se a mãe está mal, ele também vai estar”, coloca.

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Como incentivar a conexão com o bebê?

O vínculo mãe-filho pode ser incentivado desde o momento em que a mãe descobre a gestação, havendo inúmeros exercícios que podem contribuir na hora do parto.

“Exemplos incluem a mãe perceber o bebê mexendo na barriga e usufruir da possibilidade de acolher a conexão que pode ser gerada por meio da validação desse comportamento. A educação pré-natal, com informações sobre as mudanças durante e pós-parto, colabora na preparação emocional dessa mulher”, recomenda a psicóloga de mulheres. 

A doula ressalta a importância na hora de alinhar as expectativas da vivência do parto e do próprio maternar, e assim tornar a experiência menos frustrante ou ilusória: “Se a mulher está bem preparada, mesmo que em meio à ansiedade e estresse, a insegurança em si mesma diminui”.

Mas as mães não são as únicas que devem se preparar, sendo essencial ter uma rede de apoio familiar para discutir sobre a gestação e, se necessário, ter um suporte em momentos escuros – mas nada de dar pitacos na criação dos filhos!

“Já no pós-parto, minha principal tática é sempre escutar o seu coração e priorizar o contato pele a pele com o bebê”, coloca Lais. Uma outra opção, claro, é o acompanhamento psicoterapêutico, com uma escuta acolhedora, respeitando a individualidade da mulher e do processo vivido.

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“Outra opção são os grupos de apoio materno, que reúnem mães para compartilhamento de experiências. Também o acompanhamento multidisciplinar, com um plano de tratamento eficaz, contando com a colaboração e intervenção, caso necessário, de outros profissionais de saúde, como obstetras, psiquiatras”, revela Isabela. 

Por sua vez, lembre-se que cada trajetória é individual na maternidade, e não se deixe levar pela romantização do momento, que pode levar a maiores desilusões deste momento tão marcante.

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