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Vamos falar sobre o luto?

Projeto reúne depoimentos de quem já passou pelo luto e mostra a importância de não fugir mais do assunto

Por Cynthia de Almeida
Atualizado em 27 out 2016, 21h42 - Publicado em 14 jan 2016, 12h29
Getty Images
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A ideia de falar sobre o luto nasceu de encontros entre amigas  que experimentaram perdas e viram como era bom ter com quem conversar a respeito. Era uma alegria poder falar o nome das pessoas amadas que partiram, contar suas histórias, rir e se emocionar com as nossas lembranças. Desse diálogo amoroso surgiram duas percepções muito claras. A primeira era de que nem todos tinham o privilégio dessa rede de apoio mútuo ou sabiam onde encontrá-la. A segunda era que, de diferentes maneiras, cada uma de nós já experimentara a sensação de incômodo social  que cerca a morte e o enlutado. Sofre-se duplamente: pela dor da perda da pessoa querida e pelo tabu em torno do morrer. Vivemos numa cultura que celebra a vida como se fosse possível eternizá-la.  Não queremos pensar sobre a morte e quando ela acontece (e sempre acontece, embora a gente prefira achar que só com os outros),  somos primeiro amparados de forma intensa e solidária (o que é muito bom). E depois, na vida que segue, cercados por um enorme silêncio. É muito solitário. Olhamos em volta e vimos que, além da tristeza e da saudade, temos que lidar com o constrangimento que nossa dor provoca. Mais de uma vez ouvi um embaraçado pedido de desculpas de um conhecido que, sem saber da morte do meu filho Gabriel, pergunta por ele.  Ou vi amigos desviarem seu caminho para não me encontrar por não saber o que dizer. Muitas vezes nos flagramos consolando o interlocutor e dizendo que não há o que desculpar, que adoramos falar dos nossos filhos, pais, mães, amigos e entendemos como é difícil encontrar as palavras certas diante da dor alheia.  

Acreditamos que é possível viver o luto de outra forma. Não somos terapeutas ou especialistas no assunto. Apenas vivenciamos o luto. Somos um grupo de profissionais de comunicação, cinco publicitárias e duas jornalistas que acreditam que podem ajudar  a quebrar o tabu. Abrimos uma página nas nossas redes sociais e convidamos as pessoas a enviarem seus próprios relatos. Vieram dezenas, centenas de  histórias.  Tristes, felizes, inspiradoras . A partir desses depoimentos montamos grupos de discussão. Perguntamos às pessoas o que as ajudaria a atravessar esse momento difícil.  Todos os entrevistados, nós inclusive, queriam poder falar mais, ter acesso a outras pessoas vivendo as mesmas emoções,  conhecer mais redes de ajuda, terapia,  livros, reportagens. Queriam acolhimento, informação e inspiração. 

Ilustração: Graziella Mattar
Ilustração: Graziella Mattar ()

Os encontros deram origem a um evento em que reunimos amigos e convidados para contar sobre nossas descobertas. E a partir dele, um crowdfunding  que nos forneceu fundos para desenvolver e manter o site que acaba de entrar no ar. Feito pelo nosso grupo com a ajuda de voluntários que, como nós, querem ajudar a tornar a experiência menos solitária. O site abre um espaço para quem quer falar e publica informações para quem precisa de ajuda e para quem quer ajudar. Traz histórias inspiradoras de pessoas que encontraram novas formas de enxergar a morte e atravessar o luto. E também dicas de como agir para apoiar amigos, família, colegas de trabalho, referências de ajuda terapêutica, grupos de apoio, indicações de livros, filmes, eventos.

O mais importante sobre essa plataforma (www.vamosfalarsobreoluto.com.br) é embalar todo o seu conteúdo em uma  idéia central: dar à morte e ao luto o devido espaço da sua abrangência e inexorabilidade. Queremos que os nossos internautas encontrem e amplifiquem esse apoio, que coloquem a morte, sem preconceito, na pauta da sua vida, quer se deparem com ela hoje ou mais tarde. Através do canal digital queremos estender a empatia e esse novo entendimento sobre a finitude da  vida a outras esferas da sociedade: promover palestras e campanhas escolas,  empresas, hospitais, sensibilizar a mídia de uma forma geral. 

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Queremos,  principalmente, não ter mais que fugir mais do assunto, parar de pedir e ouvir desculpas por falar dos nossos mortos queridos.

Assista ao vídeo da iniciativa:

 

 

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