Sim, a desigualdade de gênero impede o desenvolvimento da economia
É o que revela o estudo "A autonomia das mulheres na mudança de cenários econômicos", divulgado recentemente.
Tal qual a água é molhada, sim, as desigualdades de gênero são um obstáculo para o desenvolvimento de forma sustentável da economia. É o que revela o extenso informe “A autonomia das mulheres na mudança de cenários econômicos”, divulgado nesta terça-feira (28) pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) durante a 14ª Conferência Regional sobre Mulheres na América Latina e no Caribe. O evento acontece até sexta-feira (31), em Santiago, no Chile.
Segundo o estudo, América Latina e Caribe estão crescendo menos e as desigualdades e a pobreza só aumentam. De acordo com a Cepal, a solução seria acelerar os compromissos assumidos pelos governos para atingir a tão sonhada igualdade de gênero e a autonomia das mulheres na região. “As desigualdades de gênero são um obstáculo para desenvolvimento, e as mudanças no cenário são uma manifestação da urgência de avançar decisivamente em direção a estilos de desenvolvimento que contemplem a igualdade de gênero e a autonomia das mulheres e a garantia dos direitos de todas as pessoas, sem exceção”, diz o relatório.
O documento observa que, apesar do surgimento de movimentos feministas liderados por uma nova geração de mulheres, nos últimos anos, aconteceu – e a gente sabe bem disso! – um ressurgimento de práticas e discursos discriminatórios na região, uma situação que limita o exercício pleno dos direitos da mulher e a progressão das políticas de igualdade. O informe segue: “A situação das mulheres da América Latina e do Caribe é heterogênea; é necessário garantir que avanços alcancem essa diversidade de mulheres e que as desigualdades de gênero sejam tratadas em uma perspectiva interseccional, reconhecendo as diferentes experiências de opressão ou privilégio existentes”.
Divisão do trabalho
Um dos desafios também é a divisão do trabalho: mulheres passam três vezes mais tempo do que os homens dedicadas ao trabalho doméstico. Além disso, são as principais responsáveis pelo cuidado de idosos na região. Nesse sentido, o Brasil é visto como um exemplo positivo por, desde 2002, reconhecer institucionalmente a atividade assistencial como um trabalho profissional. Segundo a Cepal, é preciso olhar de uma nova forma para o cuidado, já que, nesse “filão”, está uma das chaves para erradicar a desigualdade de gênero.
“Se os cuidados forem articulados com políticas trabalhistas que melhorem a qualidade desses empregos, eles poderão reverter as discriminações que ocorrem no mercado de trabalho e gerar melhores condições nesse setor, que na maioria dos países é precário. Promover o treinamento e a profissionalização deste setor de trabalho, bem como a participação nos mecanismos de diálogo e negociação coletiva, teriam um impacto diretamente na qualidade do emprego”, afirma o estudo.
Um dos resultados diretos desse tipo de política seria uma melhora nas oportunidades e condições de emprego, maior autonomia feminina e, consequentemente, um incentivo para a participação dos homens no trabalho de cuidar.
Outros dados
Um terço das mulheres da região depende completamente de outros para sua subsistência. De acordo com o relatório, apesar da diminuição do número de mulheres sem renda própria de 41,0%, em 2002, para 27,5%, em 2018, esse percentual ainda é mais que o dobro de homens na mesma situação (13,1%).
Mulheres também são a maioria da população em situação de probreza: em 2002, eram 105 mulheres para cada 100 homens. Já em 2018, esse índice subiu para 113 mulheres para cada 100 homens.
Mas, se elas não estão em situação de pobreza, também encontram dificuldades para adentrar em certos campos de atuação, como ciência, tecnologia, engenharia, e matemática. O relatório conclui ser urgente a criação de mecanismos (políticas públicas) para a participação delas nessas áreas. Só assim, será possível vislumbrar uma resolução para o problema, além de criar mais empregos em novos setores econômicos.