Qual a relação entre chuvas, enchentes e o aquecimento global?
Novo estudo sugere que é preciso ir além da temperatura para medir impacto nos trópicos
Você já sentiu que as chuvas são cada vez mais frequentes e intensas? Enchentes como as ocorridas na última semana em São Paulo, e em dezembro na Bahia e Minas Gerais, parecem dominar as manchetes em intervalos cada vez menores – e pode existir uma relação entre este tipo de fenômeno e o aquecimento global.
Ele, aliás, talvez nem deva ser medido apenas em graus: de acordo com um novo estudo realizado por cientistas americanos e chineses, publicado na última segunda-feira na revista científica Proceedings of the National Academy os Sciences, é preciso ir além do calor e considerar também a umidade.
Em suas conclusões, os pesquisadores afirmam que a temperatura por si só não seria suficiente para medir as recentes variações do clima e o verdadeiro impacto do aquecimento nos trópicos. Por enquanto, medimos o aquecimento global em termos de temperatura – mas, ao adicionar a energia da umidade, extremos como ondas de calor e chuvas fortes se correlacionam muito melhor.
Quando a temperatura aumenta, o ar retém mais umidade, quase 7% para cada grau Celsius. Quando essa umidade se condensa, libera calor ou energia. “É por isso que quando chove, agora, são tempestades”, disse à agência Associated Press, V. “Ram” Ramanathan, cientista climático da Universidade da Califórnia em San Diego e da Universidade Cornell, envolvido no estudo, conforme noticiado pela Veja.
Quando olhamos apenas para a temperatura, o aquecimento global parece mais pronunciado na América do Norte, nas latitudes médias e nos polos, e menor os trópicos. Mas isso, de acordo com os especialistas, é um engano, já que a alta umidade que existe neles aumenta a atividade de tempestades.
Chuvas mais fortes e frequentes
No último IPCC, Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU, ficou claro que as fortes chuvas no mundo já são 0,3% mais frequentes e 6,7% mais intensas. Se a temperatura aumentar em 4°C – um cenário extremo, é claro, mas não impossível – a precipitação pode se tornar 30,2% maior. A frequência, que tem como média global uma chuva forte por década – pode quase triplicar, chegando a 2,7 ocorrências. Neste cenário já complicado, cobrar mudanças, apostar em uma cooperação global para redução dos gases do efeito estufa e adotar modos de vida mais sustentáveis nunca se fez tão necessário.