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Por que as meninas perdem o interesse em ciências e exatas?

Pesquisa investiga como os esteriótipos de gênero condicionam o vínculo das mulheres com ciência e tecnologia ainda na infância

Por Clara Novais Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 mar 2018, 17h00 - Publicado em 21 mar 2018, 16h58
 (Wavebreakmedia/ThinkStock)
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O escasso número de mulheres nas carreiras e profissões relacionadas às disciplinas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, na sigla em inglês) se contrasta com o interesse que as meninas costumam ter pos esses temas na infância. De acordo com uma pesquisa financiada pela Disney Latino-américa, Matemática é a disciplina favorita de 40% das meninas em São Paulo, enquanto essa taxa entre meninos é de 23%, por exemplo. Além disso, 60% das crianças de ambos os sexos gostam de fazer experimentos em casa, aponta o estudo.

No entanto, o que se vê no mercado de trabalho é bem diferente. Segundo o Censo da Educação Superior, do INEP, as mulheres representam 60% das pessoas que concluíram cursos superiores no Brasil em 2015, porém essa taxa cai para 41% nos cursos relacionados à ciência e para 29,3% em cursos de engenharia. Por isso, a Disney se uniu à FLACSO Argentina (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais da UNESCO) e à associação civil Chicos.net para investigar se existem condições que determinam a igualdade de oportunidades entre meninas e meninos para desenvolver interesses e capacidades nas disciplinas STEM.

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Realizado em São Paulo, Buenos Aires (Argentina) e Cidade do México (México) – as três cidades mais populosas da América Latina – entre abril e outubro de 2017, o estudo teve a participação de 180 meninas e meninos de 6 a 10 anos, 900 pais e mães de crianças nessa faixa etária e 600 professores de escolas primárias, todos de setores socioeconômicos médio, médio baixo e baixo.

A pesquisa detectou que meninas e meninos das três cidades associam as matérias STEM com atividades e não com uma profissão. Para eles, Ciência se liga à realização de experimentos em laboratório, Tecnologia à utilização de computadores, Engenharia à construção de prédios e Matemática ao ensino. Para eles, gostar dessas práticas não se conecta automaticamente com seguir uma profissão relacionada à disciplina.

Quando o assunto é entretenimento, em São Paulo, o interesse em atividades relacionadas à arte e leitura é baixo, enquanto as meninas de todas as idades e níveis socioeconômicos gostam de fazer experimentos. Porém, em outras atividades, os esteriótipos de gênero persistem: futebol e carros são considerados brincadeiras de menino e bonecas de meninas.

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Em São Paulo, 88% dos pais disseram que estimulariam suas filhas a “ir em frente com a escolha que consideram como vocação”, apesar de ser consenso entre as famílias que as disciplinas STEM estão ligadas a “carreiras do futuro”. A maioria dos professores (77%) da capital paulista, por sua vez, diz não existir diferenças entre meninas e meninos no desempenho escolar nessas áreas. No entanto, eles percebem que os meninos são competitivos, demonstram iniciativa e são pouco cuidadosos com detalhes em seus trabalhos, enquanto as meninas são detalhistas e ficam à espera de indicações.

Há um consenso nas três cidades de que as profissões STEM possuem prestígio social. Pais e mães acreditam que é necessário muito esforço para estudá-las. Para eles, quem consegue avançar nesses campos são pessoas muito inteligentes e com habilidades para o pensamento abstrato. Além disso, as crianças consideram que a Ciência, a Matemática e a Engenharia são somente para pessoas “muito inteligentes e importantes”. Assim como 90% das meninas de 6 a 8 anos associam Engenharia com afinidades e habilidades tidas como masculinas.

Leia também: Disparidades entre gêneros em exatas começa no jardim de infância

 

Motivos para transformar esse cenário

Um maior equilíbrio entre gêneros nesses setores será positivo tanto para as mulheres como indivíduos, quanto para as áreas STEM.  “Nossa intenção é abrir pontes entre o que se supõe ser feminino e masculino e, aos poucos, mostrar que é possível atravessar essa ponte”, disse Marcela Czarny, fundadora e presidente da Chicos.net, a CLAUDIA. “É preciso haver diversidade de opções para que as mulheres, se tiverem interesse, sigam outras carreiras sem ser aquelas tidas como ‘femininas'”.

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Além disso, Gloria Bonder, diretora da área de Gênero, Sociedade e Políticas da FLACSO Argentina, enfatiza que ampliar a participação feminina em ciência e tecnologia é fundamental para esses setores. Em conversa com CLAUDIA, Gloria usou o desenvolvimento do cinto de segurança para veículos automotivos para exemplificar como agir de forma “cega ao gênero” – o que costuma acontecer – faz com que investigações científicas e criações tecnológicas não atendam a todas as pessoas de forma eficaz.

“Os bonecos dos testes de segurança foram todos feitos baseados no biotipo dos homens. O que aconteceu, então? Em muitas acidentes, as mulheres, que são menores e têm outras características físicas diferentes, tiveram consequências muito graves. Sem falar das mulheres grávidas! Ou seja: não levaram em consideração que nós mulheres também dirigimos carros”, conta a diretora da FLACSO.

“Se houvessem mulheres nesse grupo de investigação, provavelmente essa questão teria sido levantada”, complementa Belén Urbeneja, diretora de Cidadania Corporativa e Gerenciamento de Marcas da Disney na América Latina, a CLAUDIA.  “A diversidade o negócio, enriquece as equipes e o olhar. Quanto mais diversidade em uma empresa, melhor vamos a responder à indústria e às exigências dos consumidores. Diversidade tanto em gênero, quanto em raça e setores sociais”, justifica. Gloria reitera:  “Eu acredito que ter mais mulheres nesses campos favorecerá para que, no futuro, a ciência e a tecnologia tenham um desenvolvimento mais justo e mais acessível.”

Leia também: Mulheres atualmente produzem metade da ciência no Brasil

O que fazer para mudar?

O estudo apresenta recomendações para que esse cenário seja transformado. No âmbito educativo, aponta-se a importância de dotar as meninas de recursos para perceber possíveis situações de discriminação e estimulá-las a elaboras estratégias de superação. Também é essencial promover a aprendizagem em STEM com atividades que favoreçam a experiência e a criatividade, como já acontece com a Matemática no Brasil, que é mais lúdica que nos outros países nos primeiros anos de ensino.

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Para as famílias, a sugestão é de que não haja diferenciação de gênero em atividades e atitudes, fazendo com que meninos e meninas sejam estimulados igualmente tanto em jogos, quanto na utilização de dispositivos eletrônicos. Outra sugestão é incluir visitas a museus de ciências e planetários nos passeios em família. Além disso, é importante ampliar a visibilidade de modelos femininos nessas áreas para quebrar a ideia de que essas disciplinas são masculinas por falta de modelos inspiradores ao redor delas.

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