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4 cientistas da história que foram ofuscadas pelo machismo

Apesar de responsáveis por importantes descobertas, elas não receberam crédito por seu trabalho e foram excluídas de prêmios e até apagadas da história

Por Letícia Paiva Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Guta Nascimento
Atualizado em 15 abr 2024, 16h50 - Publicado em 14 mar 2017, 12h31
 (Vittorio Luzzati/Reprodução)
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Em oito países (Brasil, Portugal, Reino Unido, Canadá, França, Austrália e Dinamarca), a proporção de mulheres autoras de artigos científicos ultrapassa os 40%. No caso de Brasil e Portugal, o número chega a 49% – de acordo com dados do relatório Gender in the Global Research Landscape, lançado na quarta-feira (8). No entanto, elas ainda estão em minoria nas ditas ciências duras (Matemáticas, Física, Química e, em menor grau, as ciências biológicas) e nos cargos científicos de liderança.

Leia também: Mulheres atualmente produzem metade da ciência no Brasil

Quando observamos os avanços científicos ao longo da história, fica evidente o domínio dos homens no campo. Não foram raras as mulheres cientistas ignoradas por seus feitos ou ofuscadas por colegas homens. Tanto que existe um termo para definir a situação em que a contribuição científica de uma mulher é atribuída a um homem: o Efeito Matilda. Quem criou a expressão foi a historiadora norte-americana Margaret W. Rossiter, para homenagear a ativista Matilda Joslyn Gage, que percebeu esse fenômeno já no século XIX.

Conheça cinco cientistas brilhantes que sofreram com o sexismo:

Trotula de Salerno

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Conhecida hoje como a primeira médica, Trotula de Salerno era uma ginecologista e obstetra do século XI. A região de Salerno, no sul da Itália, possuía uma escola médica que admitia árabes, judeus e mulheres – raridade durante a Idade Média. A prática da medicina era vetada às mulheres, excetuando os cuidados do bebê e a obstetrícia. A Escola Médica de Salerno ia na contramão e Trotula ganhou destaque atuando como professora.

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Seus livros traziam ideias bastante avançadas para o período, centrando-se na saúde das mulheres, em questões como parto, menstruação e controle de natalidade. Sobre infertilidade, postulou que o problema poderia advir tanto do homem quanto da mulher, quando era comum que a mulher fosse amplamente responsabilizada.

Nos séculos XIII e XIV, sua existência foi muitas vezes questionada por médicos e escritores homens. Trotula e outras pesquisadoras de Salerno foram desmoralizadas e rotuladas de bruxas e charlatãs. Suas obras chegaram a ser atribuídas a autores do sexo masculino, incluindo seu marido. No século XIX, historiadores negaram a possibilidade de que uma mulher poderia ser responsável por tratados médicos tão relevantes. A existência de Trotula foi recuperada no final do século XIX por historiadores que identificaram sua autenticidade.

Nettie Stevens

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(//Reprodução)

No início do século passado, a norte-americana Nettie Maria Stevens foi a geneticista responsável pela descoberta do sistema XY, que determina o sexo: mulheres têm um par de cromossomos sexuais iguais (XX), e homens têm cromossomos diferentes (XY). Com a descoberta, ficou provado que os homens são responsáveis pela determinação do sexo de seus descendentes.

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Stevens se formou na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, na metade do tempo previsto, quando já passava dos 35 anos. Fez doutorado na Bryn Mawr College, no leste do país, recebendo orientações do diretor do Departamento de Biologia Thomas Hunt Morgan, quando fez a descoberta sobre os cromossomos.

A pesquisadora morreu em 1912, vítima de um câncer de mama, aos 50 anos e antes de conseguir uma posição para dar aulas na Universidade. Em 1933, Morgan recebeu o Nobel por descobertas sobre a função dos cromossomos na hereditariedade; nos anos seguintes, alguns de seus alunos também foram agraciados com o prêmio pelos avanços na genética.

Stevens ficou de fora do prêmio e sua descoberta foi muitas vezes colocada em segundo plano e atribuída ao professor Edmund Beecher Wilson, que antecedeu Morgan no cargo de chefe do Departamento. No dia seguinte à sua morte, ele escreveu na revista Science que Stevens era mais uma técnica de laboratório que propriamente uma cientista.

Lise Meitner

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(//Reprodução)
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Filha de judeus, Lise Meitner nasceu na Áustria em 1878. Conseguiu o título de doutora em física em 1905, na Universidade de Vienna, sendo a segunda mulher a conquistar o feito. Durante grande parte de sua carreira, trabalhou em dupla com o químico Otto Hahn. Em 1923, descobriu um fenômeno físico que seria conhecido como “efeito Auger”, em referência a um pesquisador que faria a mesma descoberta dois anos mais tarde.

Quando a Alemanha nazista, responsável pela perseguição a judeus e outras minorias, anexou a Áustria, Meitner teve de deixar seu cargo no Instituto Kaiser Wilhelm, em Berlim, e se mudar para a Suécia. Continuou a se corresponder com Hahn, que a consultava sobre experimentos. O químico testava a existência da fissão nuclear, processo em que ocorre a quebra do núcleo atômico e há liberação de energia, ocorrendo em usinas nucleares e na bomba atômica. Hahn não encontrava explicação para o processo – e Meitner conseguiu a resposta.

Ele publicou sua descoberta em janeiro de 1939 sem o nome de Meitner como coautora da pesquisa. Em artigo na revista Nature um mês depois, ela apresentou os resultados que foram cruciais para o trabalho de Hahn. Em 1944, o químico recebeu o Nobel e Meitner não foi lembrada. Mais tarde em sua vida, ela seria reconhecida, inclusive tendo um elemento da tabela periódica batizado em sua homenagem: o meitnério.

Rosalind Franklin

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(Vittorio Luzzati/Reprodução)
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Na década de 1950, a biofísica inglesa Rosalind Franklin trabalhava no laboratório King’s College Medical Research Council, comandado por Maurice Wilkins. Na época, havia uma corrida científica para descobrir mais detalhes sobre o DNA e Franklin se empenhava na busca. Em 1952, obteve com raio-X ótimas imagens do DNA. As imagens ficaram consigo por nove meses, mas não percebeu que a estrutura era em dupla-hélice. Um aluno de Franklin mostrou a foto a Wilkins, que compartilhou com uma dupla de pesquisadores da Universidade de Cambridge: Francis Crick e James Watson.

Em 1953, Crick e Watson publicaram completo artigo na revista Nature com a estrutura do DNA de forma bastante precisa. Wilkins fez um comentário na publicação, mas Franklin não foi citada. Ela morreu em 1958, aos 37 anos, vítima de um câncer de ovário. Em 1962, Crick e Watson ganharam o Nobel da medicina. Franklin nunca soube que os pesquisadores haviam tido acesso a seus dados e, por muitos anos, existiram dúvidas sobre a possibilidade de não ter sido creditada por sua contribuição.

Em 2010, cartas enviadas e recebidas por Crick foram descobertas, muitas delas trocadas com Wilkins, que atacava Franklin e dava a entender que a dupla de Cambridge tinha conhecimento sobre a autoria da foto que os ajudaria em sua descoberta. “Espero que a fumaça de bruxaria saia logo de nossas vistas”, escreveu em referência a pesquisadora. Após a publicação na Nature, ele enviou: “Em pensar que Rosie teve todas aquelas imagens em 3D por meses e não viu uma hélice. Cristo”.

Leia também: Por que as mulheres foram afastadas da área de ciência da computação nas últimas décadas

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