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Náufragos do asfalto

Sobreviventes do incêndio no prédio no Paissandu se apinham em meio a barracas improvisadas, colchões sujos, pilhas de roupas e pratos com restos de comida

Por Kátia Mello
Atualizado em 9 Maio 2018, 16h55 - Publicado em 9 Maio 2018, 16h23

Em apenas um quadrilátero do Largo Paissandu, no centro da capital paulista, se acumulam as misérias humanas. Como náufragos do asfalto, os sobreviventes do incêndio do edifício Wilton Paes de Almeida se apinham em meio a barracas improvisadas, colchões sujos, pacotes de fraldas, pilhas gigantescas de roupas, sapatos amontoados, copos e pratos de plástico ainda com restos de comida distribuída por voluntários. O cheiro de queimado dos escombros intoxica os desavisados.

Cercadas por grades de ferro, as vítimas habitam a praça a céu aberto sob os olhares de curiosos e da imprensa. Dia e noite, voluntários, polícia, bombeiros, jornalistas, representantes de movimentos sociais, da Cruz Vermelha e um punhado de transeuntes ocupam a cena em frenesi constante, sem qualquer semelhança com o cotidiano nos lares recém-destruídos.

Quatro dias após a tragédia, num sábado ensolarado, os sem-teto não podem deixar o local pela ameaça de perderem o cadastramento da prefeitura; não podem fazer suas necessidades básicas, porque não há banheiro químico; não podem se lavar, porque não há lavatório; não podem descansar, porque o barulho é intenso, e ainda alguns não conseguem dormir, porque não há barracas suficientes para todos. Algumas até foram furtadas à luz do dia.

Nesse microcosmo desumano, uma mulher amamenta seu bebê numa pilha de roupa; outra relata que teve que bater em seu bebê para que ele, exausto de chorar, mergulhasse no sono; outra perdeu a voz de tanto chorar e só dorme com remédios. Apoiado no cercado em frente às doações, um morador de rua grita por uma camisa do Palmeiras. As crianças maiores brincam com as roupas em meio às moças voluntárias que pintam suas caras formando máscaras de super- heróis. Um homem vestido de Homem-Aranha imprime ao cenário uma visão ainda mais surrealista.

Mas ali não há lugar para fantasias. Homens, mulheres e crianças sobreviveram às chamas intensas, ao desabamento, à perda de filhos, de netos, de sobrinhos, de amigos. Sobreviveram inúmeras vezes à ausência de moradia, à fome, ao desemprego, ao descaso dos governos, às perseguições no Continente Africano. Restou-lhes a solidariedade, que os entrelaça nesse caos urbano.

Confira os registros feitos pela fotógrafa Luciana Cavalcanti do local onde estão os ex-moradores do prédio que desabou após pegar foto

Largo Paissandu, região onde prédio desmoronou após pegar fogo e em que ex-moradores permanecem (Luciana Cavalcanti/CLAUDIA)

 

 

Pilha de roupas doadas aos ex-moradores do edifício Wilton Paes de Almeida (Luciana Cavalcanti/CLAUDIA)

 

Homem fantasiado de Homem-Aranha em local onde estão as pessoas que ficaram sem moradia (Luciana Cavalcanti/CLAUDIA)

 

Voluntária pinta rosto de crianças que estão sem moradia desde o desabamento do prédio, no início do mês (Luciana Cavalcanti/CLAUDIA)

 

Veja também: Bombeiros encontram corpo nos escombros do prédio que desabou em São Paulo

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Como ajudar as vítimas do prédio que desabou em São Paulo

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