Mulheres extraordinárias: Em CLAUDIA, Carmen Silva ajudou a criar o feminismo brasileiro
Pioneira e com seu espaço em CLAUDIA por mais de 20 anos, a psicanalista ajudou a transformar o lugar ocupado pela mulher na sociedade
Em 1963, dois anos após o lançamento de CLAUDIA, chegava à redação uma carta da escritora e psicanalista Carmen da Silva. Ela dizia que as leitoras estavam “explodindo de angústia e frustração”. Por isso, colocava-se à disposição para incentivar as mulheres a ser “protagonistas da própria vida”. Depois de um encontro com Thomaz Souto Corrêa, então redator-chefe da revista, ela passou a assinar a coluna A Arte de Ser Mulher.
Durante 22 anos – até a morte pela ruptura de um aneurisma abdominal, em 1985 –, Carmen abordou tabus e ajudou a criar o feminismo brasileiro. Falava da possibilidade de pôr fim a um casamento infeliz, quando no país ainda não existia divórcio. Tratou sobre infidelidade, anticoncepcionais, aborto, maternidade, orgasmo, sexismo e igualdade de gêneros. Traduziu, como ninguém, as discussões feministas restritas às intelectuais europeias e às líderes americanas. Tudo com carinho para o público não se assustar.
“Eu malhava em ferro quente, ia devagar, mas sem recuo, sem fazer concessões nas ideias, evitando termos que podiam chocar e criar anticorpos. Foi assim que levei oito anos de aparente indefinição antes de empregar a palavra bicho-papão: feminismo… Não precisam ter medo, feminista não morde”, lembrou na autobiografia Histórias Híbridas de Uma Senhora de Respeito. As leitoras amavam essa gaúcha, que se via como “uma rebelde com tendência a nadar contra a corrente”.