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Médico e prefeito é acusado de abusar sexualmente de pacientes

Vídeos mostram o ginecologista com a boca nos seios de suas pacientes e penetrando-as sob pretexto de estar realizando procedimentos médicos

Por Da Redação
Atualizado em 17 fev 2020, 15h44 - Publicado em 15 jul 2019, 11h08

José Hilson Paiva, médico ginecologista e prefeito de Uruburetama, no Ceará, é acusado de praticar há décadas crime de abuso sexual contra suas pacientes, de acordo com denúncias de mulheres que foram consultadas por ele.

O G1 teve acesso a 63 vídeos, gravados pelo próprio médico, que mostram Hilson com a boca nos seios de suas pacientes sob o pretexto de estar tirando secreção e penetrando-as para “desvirar” o útero delas.

Profissionais da Associação Médica Brasileira, que assistiram aos vídeos, afirmam que os atos não fazem parte de um atendimento ginecológico. “Trata-se de um monstro”, e as imagens “demonstram claramente um estupro da paciente”, avaliam.

Hilson defende que nunca fez “nada forçado” e que as acusações fazem parte de “jogada da oposição” – já que ele também é prefeito. “Querem me derrubar”, argumenta.

Denúncias antigas

O Ministério Público ouviu o relato de seis mulheres que acusaram o médico de abuso. Os vídeos não podem ser divulgados por conterem cenas de abuso sexual e por expor o corpo nu das vítimas. Elas denunciam o prefeito desde a década de 1980, mas não havia resultado em condenação até então.

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Em outros casos, as mulheres relataram que temiam denunciar o gestor porque dependiam da Prefeitura de Uruburetama para ter emprego no serviço público. “Nunca tinha ido em consulta nenhuma. Não sabia como funcionava. Se ele estava dizendo que era daquela maneira, eu tinha que acreditar”, relata uma mulher que diz ter sido abusada por Hilson de Paiva e que não quer se identificar, ao Fantástico, exibido no último domingo (14).

Boa reputação

O Fantástico também ouviu onze mulheres, que afirmaram terem buscado Hilson de Paiva pela boa reputação que ele tinha como médico na cidade. “Todo mundo tem ele como uma pessoa boa, sem saber o que ele faz”, afirma uma vítima.

Segundo os relatos, as pacientes eram atendidas em consultório particular na casa de José Hilton e também no Hospital Municipal da cidade. Uma das vítimas foi abusada quando tinha 14 anos. Ela diz que nunca contou para ninguém sobre o ocorrido e que voltava a se consultar com o médico por ser o único ginecologista de Uruburetama.

“Ele sempre trancava a porta, mandava a gente entrar e mandava a gente tirar a roupa. Pegava no seio, ficava pegando no corpo da gente, colocava o pênis dele na gente”, relembrou.

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Outra vítima, que estava com um nódulo no seio quando marcou a consulta, conta que ela teve que ficar nua na frente do médico. “Eu achei estranho foi ele usar um canudo e chupar os meus seios”, relatou.

Já outra paciente, que aparece em um dos vídeos, contou que procurou o doutor Hilson em 2012 porque estava com dificuldade para engravidar. Nas imagens, ela já aparece nua, no consultório particular do médico. A mulher nunca havia feito exame ginecológico anteriormente.

“Ele pegava nos seios e pediu pra fazer sexo oral com ele”, lembra a paciente. “Fazer uma aplicação oral porque é muita secreção mesmo. Muita, muita, muita”, argumentava o médico. “Perguntei a ele por quê. Ele pegou e disse que não, que era o procedimento. Que era o que o médico fazia. Que ele tinha que ver a minha sensibilidade. Eu disse pra ele que não, que eu não queria.”

O vídeo mostra que, em seguida, o médico coloca a paciente em pé, de costas, apoiada na maca. “Pode virar. Isso, bem devagar”, comenta Hilson no vídeo. “Ele começou a mexer detrás de mim. Ele dizia: ‘Você tem que me ver como médico. Você não pode me ver como um homem. Eu sou seu médico’.”

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O abuso deixou trauma na paciente. “Eu era uma pessoa que achava graça do nada, sabe? Agora todo mundo acha estranho. Vem falar comigo e eu estou séria. Eu não consigo mais brincar com ninguém”, lamenta.

“Trata-se de um monstro”

As gravações feitas pelo médico foram avaliadas pelo secretário-geral da Associação Médica Brasileira, Antônio Jorge Salomão. Para ele, nenhuma das imagens mostra, a qualquer momento, um procedimento médico. “Em nenhum momento da humanidade existe esse procedimento. Isso é asqueroso”, denuncia.

“Ele está se aproveitando da paciente. Ele não está examinando, procurando nenhum problema na paciente. Isso é crime”, avalia o vice-presidente da associação, Diogo Leite Sampaio. “Não existe um tratamento clínico, muito menos uma manipulação que esse senhor, que eu nem posso chamar de médico, fez com a paciente”.

Os vídeos mostram o ginecologista com pelo menos 23 mulheres. Dentre elas, 17 claramente foram enganadas pelo médico e sofreram abusos sexuais, conforme avaliação dos especialistas.

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Médico se defende: “Nunca fiz nada forçado”

O prefeito nega, em entrevista, ter realizado qualquer prática de abuso. Para ele, as denúncias são uma estratégia de políticos de oposição para afastá-lo.

“Eu nunca fiz nada forçado. Nada à força, não tive nada forçado. Isso é uma jogada da oposição. Querem me derrubar.” Ele afirma que teve relações sexuais com algumas mulheres, “mas não foi no consultório.”

Questionado por que filmava as pacientes, Hilson diz apenas que o repórter “perguntou demais” e deixa o local da entrevista.

Por meio de nota, o advogado do prefeito afirma que o cliente não tinha o conhecimento dos vídeos, que “aguarda as mídias para uma manifestação mais concreta sobre o caso” e que irá ao Ministério Público para saber sobre a veracidade do material.

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