Homem faz despedida emocionante para esposa com câncer em fase terminal
"Eu queria que todos soubessem que ela gostaria que lembrassem dela com alegria e estava indo em paz", relatou o marido
Uma carta de despedida emocionou a internet nos últimos dias. Publicada no Facebook em 19 de agosto pelo enfermeiro Bruno Barbosa Moura, de 41 anos, a mensagem é um adeus para sua esposa, a também enfermeira Graziella Cristina Silva Barbosa, 38. Graziella faleceu no dia 23 de agosto, vítima de um câncer de pâncreas. Na ocasião da postagem, ela já estava em coma por causa da doença.
Escrita em primeira pessoa, como se fosse Graziella falando, a carta retrata suas experiências naqueles últimos dias, além de suas paixões em vida, seus aprendizados e conselhos para a família. Em um trecho, ela diz saber que deixou um legado: “Um legado de amor, companheirismo, bondade, amizade, comprometimento, empatia e profissionalismo. Sobretudo, um legado de alegria. Lembrem-se de mim assim: alegre. A minha vida foi feliz.”
Juntos há 13 anos, Bruno e Graziella se conheceram pelas redes sociais e tiveram 3 filhos: um menino, hoje com 8 anos, e gêmeas de 3. Em maio, a enfermeira começou a sentir dores nas costas e procurou uma ortopedista, que a medicou e a liberou. Como não melhorava, Graziella voltou ao hospital e, após a solicitação de uma ressonância, descobriu em junho que estava com metástase óssea na coluna. O diagnóstico a abalou, mas não a impediu de continuar trabalhando.
Pouco depois, uma ultrassonografia do abdômen revelou que a enfermeira possuía vários tumores no fígado. “No dia 8, liguei a um hospital de São Paulo e agendei consulta com o oncologista. Assim que chegou lá, no dia 9 de junho, ela já foi internada, e alguns dias depois teve o diagnóstico definitivo, que foi de câncer de pâncreas com metástase no fígado e coluna”, contou Bruno ao G1.
Fazendo quimioterapia de 15 em 15 dias, Graziella suportou efeitos colaterais descritos por Bruno como devastadores e sem demonstrar resultados. A constante piora no seu estado de saúde a fez ser internada algumas vezes. No começo de julho, a enfermeira iniciou um novo tipo de quimioterapia, mas sofreu uma piora no dia 13 e foi internada no dia 15, após apresentar confusão mental. Dias depois, ela entrou no coma do qual não acordou.
Todos esses desafios foram descritos por Bruno na carta. Apesar de tudo, ele sentiu que a esposa gostaria de se despedir com uma mensagem positiva, já que, momentos antes de perder a consciência, ela fez posts agradecendo o apoio que estava recebendo de conhecidos. “Apesar de o médico da UTI ter me falado que o quadro era irreversível, eu aceitei a situação de vez só três dias depois que ela foi internada. Eu estava em casa, indo dormir, e começou a vir uma inspiração de escrever algo para explicar para as pessoas o que estava acontecendo. A minha preocupação era que a partida dela pegasse muita gente de surpresa. Então, publiquei no perfil dela, para que todos que a acompanhavam pudessem ler aquilo”, disse.
“Eu queria que todos soubessem que ela gostaria que lembrassem dela com alegria e estava indo em paz. Eu tive o cuidado de não focar nos meus sentimentos, porque eu queria tentar descrever o que ela estava sentindo. E toda vez que leio, sinto como se fosse ela que tivesse escrito aquilo ali”, completou.
Destinada apenas aos amigos e familiares de Graziella, a carta acabou viralizando no Facebook e já acumula mais de 5 mil curtidas e centenas de comentários e compartilhamentos. “Ela era uma pessoa forte, que investia no que acreditava. Sempre trabalhou com muito amor, acreditava na igualdade e falava o que pensava. Defendia os direitos das mulheres. Era uma pessoa que amava ser mãe e sempre estava muito alegre”, afirmou Bruno.
Leia a carta na íntegra:
“Meus queridos amigos
Bruno esteve aqui no hospital e me contou sobre como todos estão preocupados comigo, então resolvi dar notícias para tentar amenizar a angústia de vocês. Infelizmente eu mesma não estou em condições de fazer isto, portanto pedi a ele que fizesse por mim. Tenho certeza de que ele escreveu exatamente o que eu gostaria de dizer, pois depois de tantos anos juntos ele me conhece muito bem e eu a ele.
Nos últimos meses eu passei por maus bocados. Precisei deixar o trabalho que amo para me cuidar, sofri com dores e com os efeitos colaterais do tratamento, chorei por medo do futuro e fui perdendo minha autonomia aos poucos.
Entretanto, fui inundada de carinho por tanta gente que meu coração se encheu de otimismo. Amigos íntimos e distantes, colegas, parceiros, familiares e até pessoas que nem me conheciam mas me admiravam. Encarei minha realidade cheia de coragem e força. Claro que tive meus momentos de fraqueza, mas logo enxugava as lágrimas e erguia a cabeça para enfrentar o que viesse pela frente.
Afinal, eu adoro viver. Adoro o pôr do sol na praia, reunir os amigos, ir ao cinema, viajar. Ah, como eu amo viajar. E adoro sorrir também. Às vezes sorrio até quando estou triste, na tentativa de esquecer minhas próprias tristezas.
Amo ser mãe. É algo que eu sempre quis ser. Ter sido presenteada com 3 filhos foi muito mais do que eu poderia esperar. E dar à luz gêmeas, de parto natural, foi minha maior realização. E olha que não foram poucas as coisas que conquistei.
É por isto, amigos, que preciso compartilhar com vocês que está chegando minha hora de partir. Na verdade nem estou mais aqui. Estou presa nos meus pensamentos aguardando o momento de ser libertada. E estou em paz, porque nesta vida fiz tudo o que quis. E lutei o quanto pude para vencer mais este desafio.
Mas não se pode ganhar todas. Esta batalha estou perdendo, mas pelo menos agora não sofro mais. Estou indo para algum lugar desconhecido mas sei que lá não há tristeza nem dor. Por isto, não fiquem tristes. Entendam que minha jornada está chegando ao fim.
Juro que queria ficar. Eu tentei, fiz de tudo, aguentei firme o quanto pude. Mas estou cansada. Agora estou descansando enquanto espero o momento derradeiro.
Bruno, meu amor, terá que se virar sem mim. Eu sei o quanto ele me ama e o quanto vai sentir minha falta mas era angustiante ver em seus olhos o quanto ele sofria me vendo sofrer e o esforço que fazia para se segurar e me dar força. Agora ele já pode chorar. Não precisa mais se conter. E estou tranquila porque sei que ele cuidará maravilhosamente dos nossos filhos.
Eu sei que deixo um legado. Um legado de amor, companheirismo, bondade, amizade, comprometimento, empatia e profissionalismo. Sobretudo, um legado de alegria. Lembrem-se de mim assim: alegre. A minha vida foi feliz.
Quero agradecer a todos por tudo. E quero me despedir dizendo que todos vocês estão em meu coração.
Até breve.”