Mãe chora a morte de filho de 16 anos em Paraisópolis
Nove pessoas morreram e sete estão feridas após ação da polícia em baile funk
“Meu filho saiu ontem para trabalhar. Ele trabalha como atendente em uma pizzaria. A gente mora na Zona Norte de São Paulo. Eu acreditava que ele estivesse na região. Fiquei até quase duas horas da manhã esperando ele chegar. Ele não chegou, então eu dormi. Acordei com meu coração pequenininho. Todo barulho que eu ouvia no portão de casa achava que era ele”, disse Maria Cristina Quirino em entrevista à TV Globo. O filho, Dennys, tinha 16 anos. Ele não voltou para casa. “Meu telefone tocou, atendi o telefone. Era do Hospital do Campo Limpo pedindo o comparecimento de um responsável pelo Denis. Perguntei o que tinha acontecido. Não imaginei a gravidade da situação. Imaginei que meu filho estivesse no hospital todo quebrado, mas não morto”, chorou.
Dennys foi uma das 9 vítimas fatais da Operação Pancadão, a ação dos agentes do 16º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano em Paraisópolis na noite de sábado (30). A comunidade, a segunda maior de São Paulo, conta com 100 mil habitantes. Ele não contou para a mãe onde estava, mas chegou a postar nas redes sociais. “Hoje eu tô inspirado, vou mandar o magrão de esquina a esquina e dar um tapa na cabeça da sua vó, não quero saber de nada, meninas hj o pai vai tá online, vou surfar mais que o Medina”, escreveu.
Segundo a polícia, soldados foram atacados primeiro. Testemunhas discordam desta versão. Uma adolescente de 17 anos, que sobreviveu, contou à TV Globo que levou uma garrafada quando foi ajudar uma amiga. “Eu não sei o que aconteceu, só vi correria, e várias viaturas fecharam a gente. Minha amiga caiu, e eu abaixei pra ajudá-la”, disse acrescentando que quando se levantou um policial deu uma garrafada na cabeça. “Os policiais falaram que era para colocar a mão na cabeça,” relatou.
No tumulto, pessoas foram pisoteadas e levadas em estado grave para o Pronto Socorro do Campo Limpo. Dennys foi uma dessas pessoas. Sua mãe, que não sabia que o filho estava no baile, não se conforma. “Eu sou contra esses bailes e vou ser contra sempre. Quantas mães vão ter que perder seus filhos numa situação como a minha?”, desabafou. “Eu perdi meu filho caçula, meu bebê”, chorou Maria Cristina.
No início da noite houve protestos em Paraisópolis, que contou com familiares e amigos das vítimas. O governador João Doria pediu uma apuração rigorosa do ocorrido. Sete vítimas seguem internadas no hospital.