Estudantes portugueses oferecem pedras para atirar em brasileiros
A atitude xenofóbica levou os mestrandos brasileiros a exigir medidas punitivas da diretoria da instituição
Estudantes brasileiros foram vítimas de xenofobia dentro da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL). Um caixote de madeira com pedras foi colocado no corredor da instituição com a seguinte frase: “Grátis se for para atirar em um ‘zuca’ (que passou na frente no mestrado)”. ‘Zuca’, neste caso, se refere ao “brazuca”, como os brasileiros são chamados em Portugal.
A atitute foi atribuída ao grupo Tertúlia, que compete na eleição para a Associação Acadêmica da faculdade, conhecido por fazer sátiras e ter humor “áspero”. A incitação à violência levou os mestrandos brasileiros a exigir medidas punitivas da diretoria da instituição.
“Nunca fui maltratada aqui. A faculdade sempre foi inclusiva e mantém um ambiente ótimo”, afirma a pernambucana Maria Eduarda Callado, de 24 anos, à VEJA. Ela estuda mestrado em Direito Internacional Comercial desde setembro do ano passado. “Eu não esperava essa atitude xenofóbica. Eles podem ter achado engraçado. Mas, para nós, não teve graça nenhuma.”
O comportamento inadequado foi motivado, segundo Callado, pela mudança no calendário do processo de admissão de estudantes de mestrado. Desde o ano passado, a primeira fase de inscrição foi antecipada para maio/junho, quando os estudantes portugueses ainda não concluíram a graduação, não podendo, portanto, se inscreverem.
Por conta disso, os brasileiros, que em geral terminam o curso superior no final do ano anterior, têm a chance de se inscrever e conseguir a maioria das vagas do mestrado. Aos portugueses, restam as vagas remanescentes da segunda chamada, que acontece em setembro.
Callado denunciou a atitude em sua conta no Twitter. “É muito importante que isso seja divulgado e os alunos penalizados para que não seja banalizado. Preconceito aqui não!!”, escreveu ela, em uma série de tweets sobre o caso.
A faculdade de Direito emitiu um comunicado sobre o ocorrido e atribuiu o incidente aos ânimos exaltados pela proximidade das eleições internas e informou que “não serão toleradas quaisquer ações ofensivas”.
“A nossa faculdade orgulha-se de ser um espaço de liberdade de opinião e de incentivo à participação cívica responsável, convivendo com a autocrítica, o humor e a sátira”, afirma o texto, assinado pela sub-diretora Paula Vaz Freire.
Freire informou ao jornal “O Público” que determinou a retirada imediata do cartaz. Identificado os responsáveis, a faculdade se comprometeu a “apurar os fatos e agir em conformidade com aquilo que é a legalidade”. O reitor da Universidade de Lisboa, António Cruz Serra, prometeu abrir um processo disciplinar.
“Não é admissível na Universidade de Lisboa nenhum comportamento de xenofobia, e serão tomadas posições para punir exemplarmente os responsáveis”, afirmou Serra.
Ainda de acordo com O Público, após a repercussão do caso, os alunos se mobilizaram em protesto contra a iniciativa do grupo Tertúlia, com cartazes e uma bandeira brasileira. O Núcleo de Estudantes Luso-Brasileiro reuniu-se com a diretoria da faculdade para tratar o “lamentável episódio”.
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