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Entre o prazer e a realização

Os dois nem sempre andam juntos

Por Liliane Prata
Atualizado em 28 out 2016, 16h59 - Publicado em 12 ago 2015, 09h58
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Ele tem prazer. Mas não se sente realizado.

A constatação veio de mim, para mim mesma, no sofá, na noite de uma quinta-feira. Minha filha dormia no quarto, meu marido tinha saído e, naquele momento, eu estava totalmente dedicada aos pequenos prazeres da (minha) vida: tomando uma taça de vinho, vendo um filme e julgando o Leonardo DiCaprio.

O filme, no caso, era O Lobo de Wall Street, que eu já tinha visto no cinema. Mas poderia ser qualquer filme, seriado ou livro sobre um personagem que leva o prazer às últimas consequências: alguém que vive para paixões arrebatadoras ou ganhos arrebatadores na conta bancária, ou alguém que acha que uma vida boa é fazer muito sexo com muitas pessoas, beber muito, sair para muitas festas, enfim: um hedonista.

Todo mundo, em algum momento, já pensou no significado da felicidade – da própria, dos outros, do mundo. É um desses questionamentos que fazem parte da condição humana, assim como pensar de onde viemos, para onde vamos, essas coisas todas. Podemos dedicar a essas reflexões uma hora por década ou por dia, dependendo do temperamento. E um dia, provavelmente depois dos trinta, nos damos conta de que realização e prazer são completamente diferentes. Não há falsos moralismos: apenas a noção de que, se não podemos definir “felicidade” tão bem quanto uma cadeira ou uma fruta, entendemos, ao menos, que o prazer e a realização às vezes se encontram e, às vezes, andam completamente separados.

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Ver um filme, tomar sorvete, ir a uma festa, beijar alguém, viajar, dançar a noite toda, comprar a roupa que queríamos – tudo isso é uma maravilha, é claro. Mas é uma maravilha passageira. Uma sensação que passa por nós, nos cumprimenta e então nos atravessa, como se fôssemos transparentes: não fica, não ressoa, não acolhe.

O prazer vem e vai, como uma visita apressada que nunca pode ficar muito tempo. Ou aceitamos esse fato ou viramos insatisfeitos crônicos: consumistas desesperados atrás de uma nova aquisição, seja a nova aquisição uma bolsa ou uma noitada. Aquele tipo de pessoa que, como o personagem do Leonardo DiCaprio, procura no prazer o sentido da existência, quando o prazer, fugaz por natureza, não dá sentido a nada, só amacia as horas e vai embora.   

Os vínculos que construímos nos realizam. Correr atrás dos nossos sonhos nos realiza. Aprender mais sobre nós mesmos, ter um trabalho que faça sentido para nós, aprender algo que seja significativo para nós… Tudo isso nos preenche de maneira muito mais profunda e duradoura do que um cigarro. Mas tudo isso, é claro, também nos enche a paciência.

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Filhos são ótimos, mas precisam ter suas fraldas trocadas, interrompem nossa leitura, acordam no meio da noite, impedem que a gente saia com os amigos quando não tem ninguém para ficar com eles. O homem que amamos vira e mexe acorda mal-humorado ou discute por alguma bobagem. Podemos ter conquistado o nosso trabalho dos sonhos, mas e a preocupação gigantesca com aquela reunião de amanhã? Amamos chegar em casa, nosso cantinho que nos dá tanto aconchego… Mas e as listas de compras, o encanamento, as pendências, os cantos cheios de pó?
 
Nossas realizações são as raízes da vida, a estrutura que nos mantém de pé, a âncora que nos faz voltar quando estamos longe. Nossas realizações são tudo aquilo que agradecemos nos momentos de gratidão e que certamente escreveríamos no nosso epitáfio. Viver só para elas, porém, endurece os dias. Precisamos do sério, do denso, daquilo que ressoa e preenche de verdade – mas precisamos de filmes, risadas e mesas de bar, porque, afinal, ninguém aqui é de ferro.

Mas que a nossa vida não seja feita de filmes, risadas e mesas de bar. Não há ninguém mais triste do que o hedonista, justamente aquele que busca o prazer o tempo todo. Não há ninguém mais solitário e vazio do que aquele que insiste em dançar a noite toda, todas as noites, até quando a luz já se apagou e todos já foram embora.

 

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