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No Pará, cacau traz esperança e solução para frear o desmatamento

Atendendo mais de 250 famílias de pequenos agricultores, iniciativa Cacau Floresta já restaurou o equivalente a 500 campos de futebol na região

Por Gabriela Teixeira (colaboradora)
Atualizado em 16 set 2020, 13h31 - Publicado em 5 set 2020, 14h02

Por muito tempo, o município de São Félix do Xingu, no sudeste do Pará, carregou o título amargo de campeão do desmatamento. Graças à sua economia fortemente baseada na pecuária, durante anos hectares e mais hectares de floresta foram devastados para dar lugar aos pastos onde seriam criadas as mais de um milhão de cabeças de gado bovino.

A situação começou a mudar entre 2007 e 2008, quando o Ministério do Meio Ambiente criou uma lista denunciando os municípios que mais desmatavam no país. Uma vez que uma cidade fosse listada, seus produtores rurais deixavam de receber créditos agrícolas e, se alguma indústria fosse flagrada comprando produção da região, também seria penalizada. No caso de São Félix do Xingu, a pressão deu certo: a cidade deixou o topo do ranking e logo passou a servir como exemplo de redução no desmatamento.

Parte da transformação se deve também pela ação de projetos, como o Cacau Floresta, da ONG The Natural Conservacy (TNC). Implementada na região em 2013, a iniciativa aproveita o potencial do fruto nativo da Amazônia como fonte de renda para pequenos produtores locais e também meio de restauração de áreas degradadas pelo desmatamento. A agropecuária ainda predomina, ocupando 2.462.092 hectares de terra, segundo levantamento publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IGBE) em 2017. Mas, aos poucos, os cacaueiros ganham espaço na paisagem.

No posto de especialista em restauração do projeto, a engenheira florestal Thais Meyer explica que o Cacau Floresta funciona em um sistema de manejo da terra chamado de agroflorestal, um consórcio de espécies agrícolas e florestais que permitem a produção desde os primeiros meses. “Buscamos imitar os mecanismos de uma floresta, com plantas de diferentes extratos e apropriadas para a região. Assim, conseguimos ter a mandioca, o milho e a abóbora, por exemplo, junto com espécies arbustivas e arbóreas. Uma vai facilitando o desenvolvimento da outra”, diz.

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Atualmente já são 500 hectares restaurados, quase o equivalente a 500 campos de futebol. Cerca de 250 famílias de pequenos agricultores já foram beneficiadas pelo projeto, recebendo assistência técnica, adequação de suas propriedades rurais e facilitação do acesso às linhas de crédito. A meta é expandir tanto o número de hectares quanto de famílias atendidas, mas para que isso aconteça, alguns obstáculos precisam ser superados.

Meyer conta que, entre as dificuldades, destacam-se a logística de acesso ao território e o fornecimento de assistência técnica. “Os técnicos possuem essa função de levar o conhecimento para os produtores e construir junto com eles as soluções. Mas existe esse gargalo, de modo geral, no ambiente rural do brasil. A assistência técnica  sempre vai ser um desafio quando falamos em soluções que envolvem o produtor rural pela questão do conhecimento e acesso à informação”, relata ela, que atua tanto na parte técnica quanto de gestão do projeto.

Com o início da pandemia do coronavírus, as visitas dos técnicos e os treinamentos foram suspensos, acentuando o problema. Foi então que a TNC desenvolveu uma ferramenta de assistência remota, via WhatsApp, para tirar dúvidas e compartilhar vídeos e cards com orientações. Apesar de algumas limitações, o recurso funcionou e se tornará uma estratégia de atendimento complementar, mesmo quando a antiga rotina for restabelecida.

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Por enquanto, a equipe se prepara para o retorno das atividades, atenta às questões de segurança. Meyer diz que algumas visitas já começaram a ocorrer, com todos os cuidados necessários. “Agora, elas só podem envolver um agricultor e um técnico, respeitando a distância determinada. Contudo, os treinamentos, que são um eixo de ação muito importante para nós, seguem suspensos e fazem bastante falta. Ainda estamos estudando como fazê-los de forma segura”.

Outro desafio é a agenda de promoção da equidade de gênero, uma das bandeiras prioritárias do Cacau Floresta no momento e também entre as responsabilidades de Meyer. “Começamos a estruturar ações para fortalecer as mulheres. Queremos que elas tenham uma participação maior no projeto, mas existem questões culturais que criam certas barreiras”, conta. E por que ter uma maior presença feminina no plantio do cacau? “Porque muitos benefícios vêm em decorrência disso. Não só na questão econômica, mas até ambiental. Quando uma mulher está envolvida nas decisões de sua propriedade rural e familiar, essa propriedade é mais sustentável. Mais bem sucedida”, afirma a engenheira.

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