Alunos se preparam para voltar à escola Raul Brasil um ano após o crime
Desde outubro, as aulas estão acontecendo em um prédio alugado para que a escola seja completamente reformada
Há exatamente um ano, a escola Raul Brasil, em Suzano, região metropolitana de São Paulo, era palco de um dos crimes que mais chocaram o Brasil nos últimos tempos. Naquele 13 de março, os ex-alunos Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, invadiram o prédio da instituição armados e mataram oito pessoas, além de ferir várias outras. Os dois também morreram.
Pouco menos de um mês depois do crime, as aulas voltaram, mas o clima era de medo. Alguns alunos não voltaram a frequentar a escola e dois dos professores pediram licença. E o clima seguiu assim por meses, até que meses após o massacre, em outubro de 2019, os alunos foram transferidos para um novo prédio para que a Raul Brasil fosse reformada, com o objetivo de que eles criassem um novo vínculo com a escola.
A decisão não agradou a maioria dos estudantes e nem seus pais, que alegam que o prédio temporário, alugado pelo estado da faculdade Piaget por um valor de aproximadamente R$ 44 mil mensais, fica em uma região de difícil acesso e pouco policiamento, o que a torna perigosa. O governo disponibiliza transporte da antiga escola até a localização temporária.
Obras
A reforma na escola Raul Brasil já deveria estar pronta, mas as obras atrasaram devido ao alto volumes de chuvas no início desse ano, segundo informações do secretário da educação do estado de São Paulo Rossieli Soares. A previsão é que a escola seja reaberta em abril com 10.720 alunos, 10% a mais do que os 970 matriculados na época do crime.
Com o apoio de empresas parceiras, as mudanças na escola – que custarão R$ 3,1 milhões – visam dar mais segurança aos alunos, funcionários e familiares que frequentam o local e trazer um “novo ar” ao local. Uma das principais modificações será no acesso dos alunos, que agora será feito por uma rua lateral monitorada por câmeras e uma equipe de seguranças. O antigo portão principal será voltado apenas para visitantes, pais e ex-alunos, também controlado diariamente.
Além das mudanças dos acessos, a Raul Brasil contará com duas novas quadras, salas, banheiros e cozinha ampliadas, um novo refeitório, biblioteca e uma área de convivência ao ar livre, com bancos e muitas árvores. Além disso, será erguido um laboratório digital de 70 m², com notebooks e televisões. O estado também firmou uma parceria com o muralista Eduardo Kobra, que fará a manutenção dos grafites feitos pelos alunos nos muros da escola.
No gabinete do secretário, está exposta uma portas da escola atingidas pelos tiros. Em entrevista ao G1, Rossieli afirmou que o objetivo é “lembrar todos os dias” do ocorrido.
Prisões
Logo após o crime, a investigação da Polícia Civil chegou aos homens que teriam vendido as armas e munições aos jovens responsáveis pelo ataque. Eles foram julgados, mas, atualmente, todos estão soltos. Dois deles foram condenados a quatro anos de prisão, mas poderão responder em liberdade porque não tiveram participação direta no crime, um foi absolvido e o outro ainda não passou pelo julgamento.
Agora, o Ministério Público investiga outros suspeitos que, supostamente, integravam o grupo criminoso da deep web que idealizou o massacre, estimulou os assassinos e comemorou as mortes dos estudantes e funcionários. 10 pessoas que vivem no interior de São Paulo e no Rio de Janeiro devem ser acusadas por envolvimento no crime.
Funcionários
Grande parte dos funcionários da escola que já trabalhavam na instituição há um ano continuam trabalhando na Raul Brasil, como é o caso da merendeira Silmara Silva de Moraes, que abriu as portas da cantina para esconder parte dos alunos e conseguiu salvar 50 deles,
Ao G1, ela afirmou que ver os alunos seguindo suas vidas e se formando dá forças para continuar trabalhando. Muitos dos funcionários e alunos continuam passando por tratamento psiquiátrico e convivem com os traumas do dia do massacre: precisam tomar remédio para dormir, não conseguem dormir com as luzes apagadas ou ficar sozinhas.
Outras escolas
A reforma na escola Raul Brasil tem levantado questionamentos, já que muitas das escolas públicas não tem estrutura e possivelmente não passarão por obras como essa. Porém, o governo do estado está buscando maneiras de investir em melhorias nas instituições de ensino. Em novembro, um questionário foi aplicado em todas as 5.400 escolas da rede pública paulista buscando descobrir quais são as maiores dificuldades enfrentadas. Os resultados servirão de base para a criação de estratégias pela melhoria das infraestruturas e do clima das escolas, principal objetivo do projeto “Escola + Bonita”.
Homenagens
Hoje, exatamente um ano depois do ocorrido, muitas pessoas se reuniram em frente da escola para homenagear os mortos e feridos. Alunos, ex-alunos, funcionários e familiares se juntaram na escola Raul Brasil para rezar, cantar e lembrar das vítimas do massacre.
Uma pequena movimentação também ocorreu no cemitério São Sebastião, onde algumas das vítimas estão enterradas. Os presentes levaram flores, velas e rezaram. No Parque Max Feffer, também em Suzano, alunos de uma escola municipal participaram de um evento que busca incentivar a cultura de paz. As crianças escreveram mensagens sobre o tema e as penduraram em uma escultura do parque. Também foram exibidos vídeos que os alunos fizeram na escola quando o assunto foi discutido.