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O prêt-à-porter democratiza a moda? Entenda o conceito

O prêt-à-porter andou para que as fast fashion pudessem correr

Por Raíssa Basílio
14 Maio 2023, 11h24

Um dos momentos mais icônicos de O Diabo Veste Prada é quando Miranda Presley (Meryl Streep) pincela, de certa forma, o conceito de prêt-à-pôrter para Andy Sachs (Anne Hathaway), sua funcionária recém-contratada na revista Runway. Na cena, Andy está com um suéter azul cerúleo e ri de uma discussão sobre um editorial de moda, considerando tudo aquilo “irrelevante”. Miranda então explica que a roupa dela foi pensada por estilistas de alta costura como Oscar de La Renta e Saint Laurent, que transformaram a cor em uma tendência e a fizeram parar em lojas de departamento.

“Esse azul representa milhões de dólares e vários empregos, e é meio cômico que você ache que sua escolha a isente da indústria da moda, quando, de fato, usa um suéter que foi selecionado para você pelas pessoas desta sala”, diz a personagem Miranda Presley, que é inspirada em Anna Wintour, editora-chefe da Vogue norte-americana. Essa cena, especificamente, foi o que me fez querer estudar moda e, depois, jornalismo.

Anne Hathaway em cena de
Anne Hathaway em cena de “O Diabo Veste Prada” (20th Century Studios/Divulgação)

Quando vi o filme, eu não estava familiarizada com o mundo da moda, e mal sabia o que era alta-costura ou prêt-à-pôrter. O Diabo Veste Prada inspirou (e traumatizou) uma geração, mas continua sendo um bom exemplo de que precisamos romper certas bolhas no universo fashion – que não é majoritariamente superficial, como muitos pensam. Dito isso, queremos falar um pouco do tal prêt-à-pôrter, um conceito que está mais inserido em nossas vidas do que imaginamos.

O que é prêt-à-pôrter?

Vamos direto ao ponto! Prêt-à-pôrter são as roupas que encontramos nas lojas e que estão prontas para usar, ou seja, que não são feitas sob medida. Sim, pode ser que você precise ajustar uma barra, ou algo assim, mas continua sendo uma peça pensada, feita e produzida em larga escala. Pronta para comprar e ser usada. O prêt-à-porter vem do fim da década de 1940 é o nosso pronto para vestir.

“O termo e a prática surgem nos EUA, como ready-to-wear, mas como a França é, ainda hoje, a capital mais importante da moda, o termo que se popularizou foi o prêt-à-pôrter. Podemos pensar que as fast fashion são um desdobramento do prêt-à-pôrter. Na época em que surgiu, o ciclo de produção não era nem tão rápido, nem tão tão descartável quanto das fast fashion de hoje em dia”, contextualiza Carol Garcia, pesquisadora e consultora de moda do Bureau de Estilo. Basicamente o prêt-à-porter andou para que as fast fashion pudessem correr.

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Antes de existir um nome, já existia o conceito?

O prêt-à-porter chega em um cenário pós Segunda Guerra Mundial, onde tivemos muitas transformações no mundo. O estilista francês J.C. Weil carrega certo crédito pela expressão, mas o ready-to-wear começou, na verdade, por conta dos uniformes militares usados na Guerra de 1812 entre o Reino Unido e os Estados Unidos.

“A guerra sempre foi impulsionadora de desenvolvimento tecnológico, inclusive na área têxtil – o nylon, por exemplo, foi criado para ser usado como material de paraquedas, mas isso é outra história. Enfim, a confecção em massa, padronizada, foi primeiramente utilizada em uniformes militares. Mas, foi só no contexto do pós Segunda Guerra Mundial, ali na década de 1950, que a confecção padronizada se tornou um modelo de negócio de moda”, completa Carol Garcia.

Entenda o que é prêt-à-porter.

Roupas feitas em fábrica e tamanhos padronizados começou nos uniformes militares e, naquela época, o mercado da moda era voltado para as classes altas. “O termo surge para explicar uma nova prática. Antes dos anos 1950, pasmem, as pessoas não compravam roupa pronta. As pessoas ricas mandavam fazer suas roupas – a Alta Costura vem desse contexto, mas também em modistas, alfaiates e costureiras. As mais pobres faziam as próprias roupas ou herdavam roupas de pessoas mais abastadas”, continua Carol. Ou seja, era preciso ter muito dinheiro para vestir roupas exclusivas.

“Por toda a história da humanidade, até o surgimento da produção em massa, roupa era um artigo caríssimo. Tem até um livro maravilhoso, chamado O Casaco de Marx, do Peter Stallybrass, que fala como o Marx, paupérrimo, para ter acesso à biblioteca, penhorava seu casaco, ou seja, um casaco era algo tão valioso que era passível de penhor. Mas, enfim, roupa sempre foi artigo caro, até porque, antes da produção industrial, todo o processo, da feitura do tecido à costura, era um processo artesanal”, completa.

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O prêt-à-porter democratiza a moda?

Hoje em dia, o prêt-à-porter oferece às camadas menos abastadas da sociedade o acesso ao mercado têxtil. No entanto, nem tudo são flores. “Se, por um lado, o prêt-à-porter, a produção em massa, democratizou o acesso à moda, afinal, ficou mais rápido e barato adquirir uma peça nova, por outro, esse método de produção significa padronização. De estilos, claro. Mas também de tamanhos”, discorre Carol Garcia.

Entenda o que é prêt-à-porter.
Entenda o que é prêt-à-porter. (Pexels/Divulgação)

A produção em massa só é barata porque é padronizada, já que a padronização diminui consideravelmente o tempo de produção. Claro que padronização é diferente de grades de tamanho reduzido, mas foi assim que a coisa se desenvolveu”, completa Carol.

Inclusive, esse papo gera toda uma discussão sobre a democratização da moda e como modelos de negócios como a Shein causam certo burburinho, já que entramos em outras questões de produção de massa e mão de obra. “A Shein pega o pior da produção em massa (os preços baixíssimos, o desrespeito à criação autoral, as péssimas condições de trabalho que viabilizam os preços baixos, as roupas descartáveis – também consequência dos preços baixos), mas, em contrapartida, oferece tamanhos maiores, coisa que, em 2023, as marcas ainda estão falhando em oferecer”, explica a pesquisadora.

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