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Moda transparente: Ativistas lideram movimentos sustentáveis de mudança

A produção de roupas envolve acidentes trágicos, condições precárias de trabalho e enorme poluição do meio ambiente. A transformação é urgente.

Por Barbara Cestaro
Atualizado em 13 jul 2020, 21h21 - Publicado em 9 mar 2020, 07h05

Era 1911. O prédio em Nova York que abrigava a fábrica têxtil Triangle Shirtwaist Company pegava fogo, matando 129 mulheres. A maioria das funcionárias era de jovens imigrantes submetidas a péssimas condições de trabalho, com turnos de mais de 12 horas por dia. A tragédia, que aconteceu semanas após o primeiro Dia Internacional da Mulher, comoveu pessoas do mundo todo.

Mais de 100 anos depois, em 2013, o desabamento do edifício Rana Plaza, em Daca, capital de Bangladesh, voltou a escancarar o lado obscuro da indústria da moda. O prédio abrigava confecções que forneciam roupas para marcas como H&M, Walmart e Gap. Foram 1 134 mortos e 2,5 mil feridos – a maioria mulheres, que trabalhavam muito e ganhavam pouco. Um século, e nada parecia ter mudado – talvez só piorado – numa das maiores e mais rentáveis indústrias do mundo.

Ao fazer essa reflexão, a paulista Fernanda Simon deixou de ver sentido na trajetória que seguia até ali. Precisava de algo novo. Formada em design de moda, ela nunca se identificara com o curso. Queria descobrir uma forma de fazer moda com propósito e foi para Londres. Acabou vivendo lá por seis anos, tempo em que trabalhou com ativistas de sustentabilidade na área, como Jocelyn Whipple, e compreendeu quais eram os problemas do setor.

Fernanda Simon
(Julia Rodrigues/CLAUDIA)

Nesse período, conheceu o trabalho da britânica Carry Somers e da italiana Orsola de Castro. As estilistas haviam criado o movimento Fashion Revolution, questionando a nocividade da indústria – também impulsionadas pela revolta após o episódio do Rana Plaza. Fernanda decidiu trazer o movimento para cá, ocupando o cargo de diretora executiva do Instituto Fashion Revolution Brasil, que virou ONG em 2018. “A produção de moda é uma questão complexa, que impacta as emergências climáticas e a desigualdade social, causa catástrofes no mundo e não condiz com um planeta que clama por mudanças. Espero que cheguemos a um momento em que a indústria siga um propósito e seja mais transparente”, declara.

Em seu esforço para isso, contratou como diretora educacional a paulista Eloisa Artuso, que elaborou o Índice de Transparência da Moda, documento que reúne informações sobre empresas do ramo, já na terceira edição. Para fazer o levantamento, foi enviado um questionário a empresas que queriam participar – hoje, o número está perto de 30. Com os dados, a ONG consegue especificar cada etapa do processo de confecção e precificar o produto, avaliando, no final, se é uma cadeia transparente. “Na verdade, cada marca já tem essas informações que sintetizamos, mas não conseguem organizar de modo que facilite a leitura e a compreensão do quadro total. A exigência de transparência de uma marca faz com que ela seja responsabilizada pelos seus atos. Esse processo envolve não só a empresa mas também diferentes atores das várias etapas, inclusive fiscalização do governo para cumprimento de leis e respeito às regras ambientais nos ateliês. É ativando todo esse ciclo que as mudanças começam a acontecer”, explica Eloisa.

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Um dos pontos mais críticos dessa cadeia é o humano, em especial nas oficinas clandestinas, frequentemente flagradas nas grandes cidades. A história é parecida com a da Triangle Shirtwaist Company: os funcionários são, na maioria, imigrantes em condições análogas à escravidão. Entrar num desses espaços sensibilizou profundamente a paulista Dari Santos. “Foi um dos momentos mais marcantes da minha vida. Despertei para a importância de olhar de perto para esse problema invisível, que muitas vezes é desconhecido pelos consumidores ou não recebe a devida atenção”, diz Dari, que é formada em relações internacionais mas mergulhou nessa área para fazer seu trabalho de conclusão de curso na faculdade.

Dari Santos
(Julia Rodrigues/CLAUDIA)

Ela criou em 2014 o Instituto Alinha, registrado formalmente como ONG em 2016. O que a entidade faz é prestar assessoria a oficinas de costura, muitas em condições precárias. O processo dura de cinco a seis meses e inclui etapas como regularizar a situação dos funcionários, avaliar e reparar a infraestrutura (principalmente instalações elétricas) e rever as condições de trabalho para oferecer um local seguro e saudável. Isso tudo é feito com equipes parceiras de profissionais da segurança do trabalho, que elaboram um prognóstico e traçam um plano de ação com descrição de todos os custos. Até hoje, mais de 100 oficinas foram atendidas – com aproximadamente 510 funcionários.

Há, sim, marcas preocupadas em ter um processo sustentável. Mas a grande revolução acontece a partir do momento em que o consumidor cobra uma posição coerente. Para isso, Fernanda, Eloisa e Dari sugerem que nós, clientes, perguntemos: “Quem fez minhas roupas?”. A resposta deve guiar suas decisões na hora de fazer uma compra.

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ALTERNATIVAS

Falar em consumo consciente atualmente significa olhar para uma tendência que cresce muito – a de reutilizar, recuperar e transformar roupas para que ganhem mais tempo de vida. É o que faz Gabriela Mazepa, criadora do Re Roupa, laboratório de processos criativos que reaproveita tecidos e transforma o que seria lixo em novas peças. “Trazer esse assunto à tona é necessário numa indústria que desperdiça absurdamente”, diz.

Ao lado dela estão Giovanna Nader e Raquel Vitti Lino, do Projeto Gaveta. Elas organizam a troca de roupas usadas, fomentando essa nova maneira de consumir. “Organizamos eventos e todos os participantes levam peças que não usam. A cada uma que entregam, ganham moedinhas, e com elas compram outras roupas do bazar. Não tem dinheiro envolvido, apenas troca”, explica Giovanna. Em seis anos de Gaveta, cerca de 70 mil itens entraram em circulação.

Mas, se você gosta mesmo de garimpar peças vintage, é obrigatório visitar o Brechó no Fundinho, em São Paulo. A dona, Yasmim Stevam, viu a oportunidade de empreender após um tempo desempregada e combate a ideia retrógrada de que roupas usadas carregam energias ruins, como muita gente fala. “Entrar em brechó é se descobrir, se conhecer, ter um novo olhar. Roupa usada para mim é história”, afirma Yasmim.

Beleza Fernanda, Júlio Cardim (Capa MGT); Dari, Rafael Baliza (Capa MGT) • Assistentes de fotografia Duda Gulman • Assistente de beleza Fernanda, Carlos Moreira

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Ouça no Youtube:[youtube https://www.youtube.com/watch?v=pnk1zBFxnpk?version=3&rel=1&fs=1&autohide=2&showsearch=0&showinfo=1&iv_load_policy=1&wmode=transparent%5D

 

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