Refúgio criativo: um apartamento de cores neutras e personalidade
O lar de Gui & Tavio é o plano de fundo ideal para as produções lúdicas e inventivas do casal de criadores

Por trás da fachada discreta de um edifício baixo e arborizado em Perdizes, bairro da zona oeste de São Paulo, está um apartamento que guarda muito mais do que móveis bem escolhidos e uma boa planta.
Ali vivem Guilherme e Otávio, casal que há quase uma década compartilha a vida — e há dois anos divide também um lar construído com propósito, cuidado e uma estética que reflete perfeitamente quem eles são.

Diretores criativos e criadores de conteúdo, eles trabalham juntos e passam a maior parte do tempo em casa, o que fez com que a escolha do imóvel e sua decoração fossem decisões centrais na vida dos dois. O espaço precisava ir além do conforto: teria que ser funcional para o trabalho, silencioso para gravações e acolhedor para os momentos de lazer.
“A gente trabalha em casa, então o apartamento tem que funcionar para tudo: para o estúdio, para o descanso, para as reuniões, para a inspiração. Ele precisava ter alma”, explica Otavio.

Antes de chegar ali, no entanto, a jornada passou por ruídos — literalmente. Gui e Tavio, como são conhecidos, moravam em um apê pequeno e barulhento na região central da cidade. A necessidade de silêncio e espaço os levou a procurar um novo imóvel, mas o processo não foi fácil: chegaram a visitar 12 imóveis em um mês até encontrar a combinação ideal entre refúgio e local para um trabalho criativo. A busca ganhou novo rumo quando resolveram se afastar um pouquinho da agitação do miolo da cidade.
O casal queria um lugar com cara de bairro, daqueles onde é possível conhecer o padeiro e os vizinhos pelo nome. O acaso, ou talvez o destino, fez o resto: numa visita à casa de uma amiga, o ônibus parou em uma rua tranquila, arborizada, e um edifício chamou atenção. “Olhei para o prédio e disse: ‘Imagina morar num lugar assim?’”, relembra Guilherme.

Ali, uma plaquinha minúscula de “aluga-se” os levou ao zelador, que avisou: havia sim um apartamento disponível — fechado há dois anos, após uma longa reforma feita pela proprietária, que só alugaria para alguém que escolhesse a dedo. Pois não deu outra: o encontro com ela foi quase um alinhamento espiritual. “Ela ficou um tempo aqui, conversando, e disse: ‘Eu sou de energia. E gostei da de vocês’. Uma semana depois, estávamos de mudança”, relembram.

“Morar de aluguel não significa viver em um lugar provisório. A casa precisa ter a nossa cara, ser o nosso lugar no mundo”
Gui & Tavio
A relação com o apartamento começou ali — e desde então só se fortaleceu. “Ela disse que a mãe já tinha vivido aqui, que tudo foi reformado com dedicação. E pediu que a gente cuidasse como se fosse nosso. E é exatamente o que a gente faz”, garantem.
O imóvel, antigo, foi totalmente renovado pela proprietária, que manteve elementos originais, como o piso de tacos, mas reformulou a parte elétrica, hidráulica e alguns acabamentos. Assim, encontraram o melhor dos dois mundos: o charme do vintage com a estrutura do novo. A decoração veio na sequência.
“O sofá acabou ficando apagado aqui, de tão grande que a sala é. Então compramos um novo, maior, que combinasse. A mesa, as cadeiras, os tons: tudo foi repensado”, relata Otavio. A paleta de cores é suave, quase neutra. “A gente trabalha com cores no estúdio, muita luz, informação. Queríamos que a casa fosse o oposto disso: um lugar de descanso visual também”, explica Guilherme.

O estilo do apartamento reflete o equilíbrio entre os dois: Tavio é vibrante, Gui prefere algo mais discreto. “O escritório é o Otavio; a sala sou eu”, brinca Guilherme. “Mas a gente se influencia muito. Os vasos coloridos que ele faz com cerâmica fria estão aí pela casa”, revela sobre a peça azul e com espinhos que ganhou de aniversário de seu companheiro. Já as cerâmicas moldadas à mão e finalizadas no forno, um dos hobbies do casal, dão charme à mesa posta.

No lar, boa parte dos móveis e objetos têm história. As cadeiras de palhinha foram compradas de um artesão do bairro. A cadeira Wassily (à esquerda) veio de um grupo de desapegos. E muitos dos objetos decorativos foram adquiridos em viagens.
“Tem um cantinho com peças que trouxemos de Salvador. Vamos para lá todo 2 de fevereiro, na festa de Iemanjá. É lei. Trazemos sempre algo novo”, contam sobre as peças que ficam expostas na prateleira em formato de banquinho de madeira. Espalhadas entre o quarto e a sala estão ainda adornos comprados diretamente de artesãos em feiras culturais. “Gostamos que as coisas tenham história, que façam parte da nossa trajetória.”

“Aqui é a nossa base. É o espaço onde a gente é, de fato, quem a gente é”
Gui & Tavio
Apesar do espaço ser temporário, não é motivo para o casal não fincar raízes e imprimir suas vivências. Pelo contrário: “A gente pinta, coloca quadro, troca coisa. Morar de aluguel não significa viver em um lugar provisório. A casa precisa ter a nossa cara, ser o nosso lugar no mundo”, afirma Otávio.
E para quem vive e trabalha no mesmo ambiente, esse conforto é essencial. “Depois da pandemia, a casa virou nosso mundo. E nosso trabalho cresceu muito nesse período. Era impossível continuar num lugar que não refletisse quem a gente é.”
ENCONTRO DE ALMAS

Guilherme e Otávio se conheceram em 2016, numa festa — e por acaso. Ou quase. “Eu já tinha visto ele no supermercado. Quando o vi na festa, falei para um amigo: ‘Já vi esse cara antes’. E meu amigo foi lá fazer a ponte. Deu certo.”
A história, cheia de desencontros (incluindo um bilhete sem o número de telefone), virou relacionamento sério e hoje, também, uma sociedade. Juntos, fundaram a Guio em 2018, estúdio de direção criativa que já produziu trabalhos para criadores e marcas gigantescas (de banco a varejo) e virou referência em conteúdo visual original, com forte apelo artístico e nostálgico — suas produções apresentam resultados divertidos alcançados com edição e até massinha.

A maior inspiração para suas produções está em um olhar lúdico para a vida, e até infantil, com referências que vêm de uma adolescência assistindo MTV e de uma infância regada a Castelo Rá-Tim-Bum.
“Gostamos do imaginativo, onde tudo é possível. E imaginação de criança é isso, né? Hoje eu vou ser astronauta, amanhã vou ser bombeiro, depois vou ser policial. A nossa maior satisfação é quando alguém pergunta de onde tiramos essas ideias.”

Dentro de casa, o estúdio da dupla ocupa um quarto inteiro. Entre quatro paredes brancas eles criam vídeos, roteiros e campanhas. Mas ao cruzar a porta de volta à sala, o tom muda. “Chamamos o escritório de portal. Lá dentro é luz, câmera, produção. Aqui fora é onde a gente descansa, faz uma refeição, assiste filme”, explica Guilherme. “É difícil separar, mas a gente tenta.”
Hoje, quando olham para o apartamento onde moram, reconhecem que o espaço representa mais do que uma conquista material. “A gente passou em frente e falou: ‘Imagina morar aqui?’. Corta para dois anos depois, é a nossa casa”, diz Otávio.
“É clichê, mas é, sim, a realização de um sonho. É o símbolo de tudo que construímos juntos: o trabalho, o amor, a parceria.” Ao que Guilherme conclui: “Aqui é a nossa base. O cenário onde tudo acontece. Onde a gente cria, vive, descansa, briga, se reconcilia. É o espaço onde a gente é, de fato, quem a gente é”.
CRÉDITOS DE PRODUÇÃO
Texto Marina Marques
Fotos Wesley Diego Emes
Edição de Arte Catarina Moura e Luana Alves
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