Nath Finanças desvenda o “Girl Math”, tendência de finanças do TikTok
Explicamos o que é a trend e como ela pode se mostrar problemática quando aplicada na vida real
Lidar com nossas finanças pessoais nunca fica mais fácil, não é mesmo? Não importa o quanto a gente aprenda sobre investimentos e como controlar o fluxo do nosso dinheiro, parece que sempre tem uma voz que nos convence a realizar gastos supérfluos, e quando vemos a fatura do cartão, aqueles pequenos mimos se juntam em uma grande bola de neve, resultando em valores exorbitantes e inesperados. Depois de um dia difícil no trabalho, quem não merece um bolinho? Ou quem sabe um mimo de maquiagem? Esta é a lógica seguida pela mais nova tendência matemática do TikTok, o girl math – em tradução literal, matemática feminina.
A prática consiste em uma maneira divertida e descontraída de justificar gastos com produtos ou serviços desnecessários, de lidar com reembolsos e até mesmo de realizar pagamentos. Assim, a trend é bastante associada à suposta forma como as mulheres cuidam de suas finanças, buscando meios de “driblar” a matemática convencional.
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“Na minha opinião não é ‘matemática feminina’, todo mundo faz isso. Todos utilizamos e, de alguma maneira divertida, tentamos justificar gastos e produtos desnecessários até mesmo como se fosse um reembolso ou investimento. Eu sei que é uma maneira divertida que estão utilizando no TikTok, só que a gente não pode entrar nos telhados para acreditar que é coisa de mulher gastar demais e comprar coisas fúteis, todo mundo gasta com alguma coisa fútil”, reflete Nathalia Rodrigues, influencer popularmente conhecida como “Nath Finanças”. Assim, uma tendência simples e cômica pode se tornar perigosa quando estamos falando do cuidado do nosso dinheiro. Entenda:
O que é “girl math”?
Vamos entender o que é esse tal de girl math? “Uma coisa que a gente precisa entender é que esse termo é o famoso ‘Eu mereço e eu trabalho para isso’. Só que a diferença é que a gente cria várias justificativas sobre esses assuntos”, explica a influenciadora e empreendedora.
Funciona assim: se você comprar uma peça de R$ 100 e usá-la, pelo menos, 10 vezes, o preço dela, na verdade, passará a ser R$ 10 (R$ 100 divididos pelas 10 vezes de uso), sendo mais barato e mostrando a suposta necessidade da compra.
@bruugoess
Outro raciocínio popular do girl math é que, ao realizar compras com notas, isto é, com dinheiro físico, as compras são ‘praticamente de graça’, uma vez que gera a percepção de que o saldo da conta ou do cartão não foi alterado com a compra.
Além disso, há casos em que os adeptos acreditam que algumas compras se convertem em um ‘ganho de dinheiro’. Por exemplo, ao fazer uma compra de R$ 50 e depois devolver o produto, você, aparentemente, “ganha” R$ 50.
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E, claro, quem nunca passou pelo sufoco de querer frete grátis, mas precisar gastar uma quantidade delimitada de dinheiro? No girl math, escolher mais produtos para alcançar o frete grátis é mais ‘conveniente’ do que pagar o frete, dando a sensação de ganhar mais por menos.
A problemática por trás da trend
“Ao mesmo tempo que a gente não vive para pagar boleto, não podemos nos auto sabotar e achar ‘Só se vive uma vez, vou gastar tudo’. A gente precisa entender que a gente tem os nossos problemas para resolver a cada dia que passa, mas colocar a justificativa de ‘Ah, se eu não andei de Uber e eu fui andando, eu economizei, então esse dinheiro sobrou’ não funciona. Não sobrou, esse dinheiro vai ser usado para outras situações e você entender isso o quanto antes é muito importante”, comenta Nath a respeito da problemática por trás da tendência do TikTok.
Além disso, embora o nome associe este método de finanças às mulheres e irracionalidade, um estudo da instituição americana Prudential mostrou que 70% das mulheres se consideram poupadoras ao invés de investidoras.
“Você dizer que mulher é ‘gastadeira’ ou que a gente gasta muito é uma falácia, porque a maioria das pessoas que chegam e gastam muito, ou até se endividam, são homens”, critica Rodrigues.
A influenciadora destaca que, de certa forma, a tendência se mostra como uma forma de perpetuar os sistemas patriarcais e machistas que englobam as finanças femininas.
“Não é uma forma (o girl math) 100% negativa, tem muito a ver com você chegar e criar uma consciência financeira”, complementa.
Mulheres e finanças
A hashtag #girlmath acumula, até o momento, mais de um bilhão de visualizações na plataforma, e o que não faltam são ideias criativas para justificar erros financeiros, mas será que essa é a realidade das mulheres?
“Uma das maiores dificuldades que percebemos nas mulheres é, primeiro, salarial: os homens ganham 40% a mais, como é que a mulher vai alcançar uma independência financeira se ela não consegue nem receber um bom salário? Precisamos normalizar essa conversa entre nós mulheres”, comenta a influenciadora.
Mas ela também destaca que a trend da girl math pode ser benéfica, nos permitindo abrir os olhos para não cair nessa armadilha e entrar nesses estereótipos que criaram para a gente. No movimento, é importante sempre pensar pelo lado racional, ao invés do emocional!
Para não cair na armadilha
É inegável que a gente sente uma sensação de euforia e emoção no momento em que fazem compras – um tipo de prazer instantâneo – e, muitas vezes, ela pode esta associada a sentimentos de tristeza ou carência.
Para evitar gastos desnecessários, a especialista afirma que é importante entender o motivo por trás da compra – isto é, racionalizar a necessidade por trás dos gastos e não nos iludir pelo que aparenta ser uma economia.
Então, não, não é porque você devolveu uma blusa que você ganhou dinheiro, assim como não usar a quantidade total do dinheiro delimitado para um dia, não significa que podemos gastar tudo no dia seguinte.
“A primeira coisa é você saber o que você vai fazer com seu dinheiro, um dos maiores problemas que eu vejo que as pessoas acabam cometendo é que elas não sabem que vão fazer com o dinheiro delas. Elas simplesmente chegam e falam: ‘Vou trabalhar para pagar boleto e vou gastar com coisas que estão acontecendo na minha vida’. Você tem que escrever isso e colocar como uma meta”, recomenda Nath Finanças.
Ela também conta que é necessário estabelecer limites e tocar nas feridas financeiras do passado, desde dívidas até o medo recorrente que as mulheres brasileiras sofrem de utilizar seus salários.
“Eu era essa pessoa que tinha muita culpa de gastar, e existe uma justificativa Eu simplesmente via pessoas que eram próximas a mim ou mulheres próximas a mim que nunca tiveram esse acesso e eu vinha me sentindo mal que elas não tinham esse acesso. Então, eu tinha medo de perder e voltar à estaca zero. Você tocar na tua ferida, principalmente emocional, de você não tem culpa das pessoas não poderem ter aquele acesso e você não tem culpa por você nunca ter tido acesso”, finaliza Rodrigues.
Vamos criar uma verdadeira matemática feminina e mostrar o que é cuidar das próprias finanças com responsabilidade?