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Em nova casa, chef Marisabel Woodman celebra o mar com receitas complexas

Inspirada pela costa do Peru e uma trajetória de grandes aventuras, Marisabel Woodman inaugura o Mares de La Peruana em São Paulo

Por Marina Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
16 Maio 2025, 09h00
Mares de La Peruana, chef Marisabel Woodman
As vieiras com espuma de parmesão, pangrattato e óleo de salsinha fazem referência às conchitas a la parmesana, um clássico peruano (Bruno Geraldi/CLAUDIA)
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Foi em Piura, na costa norte do Peru, que Marisabel Woodman construiu suas primeiras memórias de vida. A chef peruana cresceu nos paradisíacos balneários dessa pequena cidade onde todo mundo se conhece, envolvida por uma família que sempre enxergou na cozinha uma desculpa para se reunir.

“Eu passava muito tempo em Colán”, diz ela em referência à praia conhecida por suas águas verde-esmeralda. “Minha avó adorava receber visitas, ela mesma cozinhava e eu gostava de ajudar. Cresci apreciando essa bagunça feliz que acontece quando vai chegar alguém. Essa coisa de você preparar a casa e cozinhar junto com sua família”, relembra sobre as refeições com sabor de mar. No cardápio farto sempre tinha peixe e outros preparos típicos do país com frutos fresquíssimos.

Mares de La Peruana, chef Marisabel Woodman
A chef peruana Marisabel Woodman agora comanda o Mares, sua nova casa em São Paulo (Bruno Geraldi/CLAUDIA)

É justamente do resgate dessa essência que nasceu o Mares de La Peruana, seu restaurante recém-inaugurado no coração de Pinheiros, bairro de São Paulo. Estabelecida no Brasil desde 2012, a chef conquistou fama e espaço no cenário gastronômico paulistano com o La Peruana, que surgiu como food truck em 2014 e, em seguida, transformou-se em restaurante com espaço físico.

Ainda que sua primeira casa tenha nascido como um reflexo de sua origem, Marisabel não parou ali. Com o tempo, sentiu o desejo de ir além dos limites da tradição. A vontade de criar pratos que refletissem também suas experiências pelo mundo — da infância na praia aos estudos na França, passando pelos sabores da Ásia e pelas descobertas no Brasil — levou à concepção do Mares.

“Eu queria ter uma coisa mais inventiva, poder criar e plasmar um pouco da minha experiência de vida. O La Peruana é uma homenagem ao meu país e minha cultura. Já o Mares é um pouco mais sobre mim, minhas viagens pelo mundo, as vivências em família. É também uma homenagem ao mar.”

Mares de La Peruana, chef Marisabel Woodman
Lula feita na brasa e servida com água de tomate e óleo de basílico: simples feito com perfeição (Bruno Geraldi/CLAUDIA)
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O novo restaurante é, assim, um terreno fértil para invenções e combinações plurais. Nele, o fogo e a brasa ganham protagonismo — seja nos camarões servidos com leite de tigre e patacones, nas vieiras com espuma de parmesão ou nas lulas com água de tomate, que trazem à tona lembranças de viagens à Costa Brava e de cozinhas à beira-mar.

No paladar, seus pratos trazem sabores intensos, que explodem na boca, mas que, ao mesmo tempo, se apresentam com delicadeza, assim como a personalidade da cozinheira. Ela brinca com ingredientes e técnicas de várias partes do mundo, mas mantém sempre o oceano como guia.

Mares de La Peruana, chef Marisabel Woodman
O arroz de moluscos é elaborado a partir de um caldo denso de camarão, refogado por horas. Ele é finalizado com crocante de milho roxo, avocado e chalaca (cebola roxa, pimenta, coentro e limão) (Bruno Geraldi/CLAUDIA)

Peixes frescos, moluscos e pratos defumados revelam sua paixão por frutos do mar, aguçados pelos preparo no Josper, forno espanhol a carvão que assa, grelha e defuma. Eis o coração de sua cozinha em Pinheiros. “O mar é isso: o que eu gosto de comer e me inspira.”

Conforme a maré

Quando pequena, Marisabel gostava de ficar na cozinha e fingir que tinha seu próprio programa culinário na televisão. Quem acompanhava essas aventuras eram sua mãe e avó, que foram cruciais para a paixão da chef pela gastronomia.

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“Neste ano, minha avó fará 90 anos de idade. Ela tem apenas um olho, não enxerga muito bem, mas ainda cozinha”, conta sobre sua grande inspiração — no passado, a matriarca administrava uma espécie de catering em sua cidade.

Como cresceu tendo como espelho uma família de mulheres fortes e criativas, Marisabel fazia as coisas acontecerem desde cedo. À época da escola, aprendeu a confeccionar chocolates com sua mãe e a vendê-los aos colegas — e foi assim que comprou seu primeiro celular. “Era proibido [vender chocolates], mas todo mundo comprava, até as professoras!”

A paixão pela cozinha era inegável, mas a vontade de seguir a carreira na gastronomia foi inicialmente desencorajada pelo pai, que, preocupado com a instabilidade da área, a incentivava a seguir um caminho mais tradicional. Assim, Marisabel foi estudar administração: “era uma luta, porque eu não gostava. Mas quando estava quase terminando a universidade, conheci meu marido. Começamos a namorar e ele foi fazer um MBA, que era metade na França e metade em Singapura”.

Em Paris, ela finalmente teve a oportunidade de mergulhar nos estudos gastronômicos e estagiar em cozinhas renomadas, como a do Hotel Plaza Athénée. A vinda ao Brasil ocorreu em 2012, quando o casal decidiu se estabelecer em São Paulo. Naquele momento, após trabalhar em restaurantes premiados, seu desejo mais latente era o de abrir um pequeno espaço.

“Quando você trabalha num três estrelas Michelin, é tudo muito grandioso. Quanto maior, menos coisas legais você faz. Eu desejava pôr a mão em tudo, gosto de comida de verdade, sem tanta coisa por trás, de uma experiência mais real.” Antes de se aventurar no seu próprio negócio, passou pelo D.O.M. e Dalva e Dito, do chef Alex Atala, fazendo assim uma imersão na culinária brasileira. Apesar de chegar já ansiando ter uma cevicheria, primeiro almejava entender do que o brasileiro gostava.

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Mares de La Peruana, chef Marisabel Woodman
O Ceviche Norteño é feito com peixe, camarão, e lula empanada, marinados no leite de tigre de coentro, acompanhado de chips de banana e milho cancha (Bruno Geraldi/CLAUDIA)

Em 2014, abriu um food truck, num período de ascensão desse formato. Um ano depois inaugurou a marca num endereço fixo, com uma proposta de cevicheria mais acessível e fiel à tradição peruana. Rapidamente, a casa tornou-se um ponto de referência, conquistando fila de espera e o título de Bib Gourmand do Guia Michelin.

“O restaurante era tudo o que eu queria, porque o food truck era um pouco imprevisível”, conta sobre o furgão que dirigia para todos os cantos do estado. Durante a pandemia, o La Peruana chegou a ficar um ano com as portas fechadas, resultando num período de reflexão para a chef, reservado a se dedicar às filhas pequenas e passar três meses em sua terra natal.

Mares de La Peruana, chef Marisabel Woodman
Bebida mais emblemática do Peru, a Chicha Morada é feita com milho roxo e especiarias (Bruno Geraldi/CLAUDIA)

“Quando fechei as portas, as pessoas me escreviam cartas! Cartas pedindo pra voltar!”, enfatiza a chef, que decidiu retornar à atividade em 2021. “Faz tempo que venho pensando em abrir um segundo restaurante. Queria provar a mim mesma o que ainda consigo fazer. Só que foi difícil, porque eu nunca tive um sócio e tenho duas filhas”, Marisabel é mãe de Ilana e Martina, nascidas em meio a tantos projetos e criadas por uma mãe empreendedora.

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No início, a ideia era construir uma nova unidade do La Peruana, depois, Marisabel criou coragem para realizar algo novo: “A minha vida é assim, eu vou fazendo, decidindo e tomando minhas decisões importantes enquanto as coisas vão acontecendo. Senão eu penso muito!”.

“O La Peruana é uma homenagem ao meu país e minha cultura. Já o Mares é um pouco mais sobre mim”

Marisabel Woodman

Hoje, ela quer cultivar não apenas um restaurante bem-sucedido, mas uma vida em que caibam os mergulhos, as trilhas na montanha, o yoga e os cafés da manhã em família. “Quero poder estar com minhas filhas, ir surfar uma vez por mês, voltar ao Peru para fazer trekking…”, conta enquanto mostra, com um sorriso largo, o vision board que montou com suas amigas. Em suas colagens, que representam metas e sonhos, estão figuras de montanhas, momentos em família, meditação e pitadas de aventura.

A coragem, diz ela, vem de dentro — e de longe. Vem da avó que cozinhava por horas, da mãe que temperava o alimento com dedicação e do avô que cruzava o país de Harley-Davidson aos 90 anos. “Acho que herdei um pouco de cada um. Eu tenho bastante medo, mas eu sou assim, eu sou tudo ou nada na vida.”

CRÉDITOS DE PRODUÇÃO

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Texto: Marina Marques
Fotos: Bruno Geraldi
Edição de Arte: Catarina Moura

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