O hotel escondido no Rio que inspirou “Águas de Março” e encanta com vista para o mar
A casa projetada por Zanine Caldas já foi palco de grandes encontros do MPB – com nomes como Maria Bethânia, Chico Buarque e Elis Regina
A peroba do campo dá forma ao sofá, à mesa de jantar, ao taco e às vigas do CliffSide Boutique Hotel. É pau. Em 1968, o autodidata Zanine Caldas, ícone da arquitetura brasileira, construiu a casa na Joatinga, zona oeste do Rio, sobre uma pedra que segura a estrutura e cerca parte da piscina. É pedra. A varanda rende uma vista exuberante para o mar e para as Ilhas Tijucas — o segundo maior berçário de aves do país. É o fim do caminho. É um belo horizonte.
A semelhança com a música Águas de Março, de Tom Jobim, não é mera coincidência. Zanine recebia convidados ilustres em sua casa, no início dos anos 1970: nomes como Maria Bethânia, Chico Buarque, Elis Regina, Caetano Veloso, Baden Powell, Dorival Caymmi — e o próprio Tom Jobim — reuniam-se ali para saraus.
Num desses encontros, Tom encontrou na casa e naquela paisagem a inspiração final para concluir a letra de sua música, rascunhada em um papel de pão.
Pioneirismo sustentável
Zanine não aceitou apenas o desafio de erguer a casa na ponta de uma pedra. Quis também que fosse sustentável. Em vez de aterrar o terreno ou destruir a rocha, suspendeu a estrutura — inspirado na arquitetura japonesa.
Tijolos, portas e madeiras foram reaproveitados de demolições, como a do antigo Lloyd Brasileiro, no Cais do Porto. Já os blocos de pedra vieram das calçadas do antigo centro do Rio de Janeiro.
As largas janelas e portas de vidro, que ocupam quase todas as paredes, garantem luz natural e ventilação durante todo o dia. Para completar, o arquiteto criou um sistema de captação de água da chuva, que assegurava a autonomia da casa por boa parte do ano.
“Zanine foi um pioneiro do planejamento sustentável no Brasil, numa época em que nem se falava em sustentabilidade. E ele tinha o sonho de que as casas fossem repúblicas independentes, autossuficientes”, explica Marcello Leite Barbosa, um dos atuais donos do imóvel.
A família comprou a casa em 1971 e, em 2018, abriu as portas para transformá-la no CliffSide Boutique Hotel & Spa.
Para seguir o ideal do arquiteto, a família adquiriu espaços ociosos nas proximidades. Em frente ao hotel, o recém-comprado terreno abriga uma horta orgânica que abastece parte da cozinha.
Ali, em meio à natureza, também acontecem pequenas apresentações musicais para os hóspedes — sem agendas fixas.
“Nós recebemos turistas do mundo inteiro. Nosso propósito é que aqui seja uma vitrine do Brasil. Queremos que as pessoas tenham uma experiência unicamente brasileira. Tanto que até os vinhos são nacionais”, diz Barbosa.
“Já temos esta casa, que é a mais pura exemplificação da arquitetura brasileira, com uma história marcada por artistas da Bossa Nova. É um cartão postal inusitado do Rio, com o qual as pessoas ainda não estão acostumadas, não sabem que existe.”
A aima da casa
Entrar na casa principal, no salão dos famosos saraus da Bossa Nova, é como voltar no tempo e entrar numa exposição das ideias de Zanine.
O pé-direito de quase seis metros, com telhas expostas, que remetem às sedes dos antigos engenhos, expressam o estilo neocolonial do arquiteto.
Os sofás e a generosa mesa de jantar de madeira, talhados no chão, entregam o sentimento e objetivo por trás da obra: reunir e inspirar amigos com um ambiente calmo e acolhedor.
A sala se abre para uma enorme varanda, com piscina e a belíssima vista para o mar de águas azuis profundas. À direita, há dois quartos — os primeiros a serem construídos por Zanine —, batizados de Suíte Elis Regina e Bethânia.
Design original e conforto absoluto em um cenário paradisíaco
O estúdio onde Zanine trabalhava, logo abaixo da varanda e da piscina, resguarda o cantinho inspirador do arquiteto. Ainda são exibidas a estante onde ele guardava seus projetos e uma mesa, colocada bem em frente à janela, com vista para a paisagem marítima.
Os móveis da casa são originais. As paredes de pedra e de alvenaria caiada dão o toque rústico, que permeia todos os cômodos.
Batizada de Loft Tom Jobim, a suíte presidencial, à direita da casa principal, oferece a hospedagem mais luxuosa — e também a mais minimalista, com poucos móveis e espaços amplos.
São mais de 100 m2, com varanda e uma deliciosa área de jantar com vista para o mar. Há ainda uma rede para assistir ao espetáculo do entardecer.
O banheiro é outro ponto alto do quarto. O teto baixo e as luminárias distribuídas pelas paredes, de alvenaria branca e tijolos, lembram uma gruta — e dão uma sensação de refúgio, literalmente.
O CliffSide tem ainda outros dois quartos: as suítes Vinicius de Moraes e La Mer. Os preços de hospedagem variam de acordo com o quarto e a temporada, e custam de R$ 1 mil a R$ 5 mil, segundo Barbosa.
Alta cozinha e bem-estar
Comandado pelo chef André Alves, o cardápio do CliffSide brinca com os temperos da gastronomia brasileira. “Faço uma comida afetiva cheia de amor e sabor, explorando nossos temperos de várias regiões do país: pratos com frutas misturadas com temperos quentes, leite de coco, peixe e frutos do mar. Me inspiro na suavidade da Bossa Nova para criar”, conta o cozinheiro.
Entre as opções, há carpaccio de mignon com cogumelo-de-paris fresco e vinagrete de mostarda dijon com mel, para a entrada; e moqueca de filé de peixe com camarão, acompanhada de arroz jasmim e farofa de abacaxi, como prato principal.
O hóspede pode escolher desde uma experiência gastronômica mais simples, com apenas um prato principal, até menus completos que combinam entrada, prato principal, sobremesa e outras criações do chef. Os valores variam conforme a escolha: um prato sai por R$ 240 enquanto a experiência completa, dividida em cinco etapas, chega a R$ 390 por pessoa.
Além disso, a casa ainda oferece, sob demanda, serviços como massagem, aulas de ioga e terapias de sound healing. “Temos também outros eventos customizados, conseguimos, por exemplo, fazer um espaço de cinema ao ar livre, no Terraço dos Coqueiros”, explica Barbosa.
Visitar o CliffSide é compreender de imediato a inspiração de Tom Jobim para um de seus maiores clássicos — e o motivo de tantos artistas buscarem refúgio ali.
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