Ana Ribeiro e o caminho até a criação de jogos
Nas últimas duas décadas, ela trilhou um caminho nada linear até chegar na indústria para a qual tinha verdadeiro talento: os games
A história de Ana Ribeiro é um seriado com diversas temporadas. Natural de São Luís, no Maranhão, ela fez faculdade de psicologia, foi funcionária concursada no Tribunal de Justiça e criou uma microempresa de empadas. Vendia 4 mil salgados por mês no seu auge. Largou tudo porque, no fundo, sabia que seu verdadeiro dom estava no universo da tecnologia.
Entrou no curso de programação em games da SAE London e emendou com um mestrado em game design na National Film and Television School (NFTS). De lá, desenvolveu o Pixel Ripped — uma franquia de jogos com a heroína Dot, que mistura clássicos pixelados dos anos 1970, 1980 e 1990 com imersão no ambiente digital. Hoje, é um grande nome dentro e fora da realidade virtual.
Toda essa trajetória começa na infância. O mundo oitentista não oferecia lá muitas oportunidades para as meninas nos games, mas ela tinha algo que outras não possuíam: três irmãos. E há algumas vantagens de ser irmã de três meninos. No caso de Ana, naquele tempo, a possibilidade de jogar videogame.
“Cresci jogando junto com eles”, conta. Ainda pequena, tinha a sensação de que o videogame era uma caixa mágica capaz de controlar a televisão. “Fiquei impressionada com a ideia de poder interagir com a TV de uma forma tão inovadora.”
Ana Ribeiro passou por outras áreas antes de investir na tecnologia
Mas, se você leu com atenção os spoilers do primeiro parágrafo, sabe que o caminho de Ana para o mundo dos jogos não foi nada linear. Depois de passar por setores como psicologia, direito e empreendedorismo, ela só enxergou o universo dos games como uma possibilidade profissional ao ser confrontada.
“Estava fazendo um curso e surgiu a pergunta sobre onde eu gostaria de estar no futuro. Aquilo me fez refletir e ali caiu a ficha de que amo jogos. Decidi mudar de carreira com quase 30 anos.”
Em 2010, entendeu que precisava de uma formação em programação. Do curso, seguiu para o mestrado e teve o primeiro contato com a realidade virtual graças a uma colega que possuía um óculos que simulava uma imersão digital. “Fiquei impressionada com a possibilidade de colocar o jogador dentro do mundo que eu criei.”
Ainda na universidade, desenvolveu o Pixel Ripped, que acabaria se tornando uma franquia. Desde então, há 11 anos, ela trabalha com realidades imersivas. “Não consigo mais pensar em design de jogos sem considerar a realidade virtual”, revela.
Ana Ribeiro e a franquia Pixel Ripped
Em 2017, o desenvolvedor de realidade virtual Árvore Immersive Experience investiu na série Pixel Ripped e, em conjunto, lançaram uma trilogia de jogos. O último lançamento contou com a parceria da Atari, criadora do primeiro game com o qual Ana interagiu.
Seu trabalho atualmente é focado na direção criativa. “Estamos sempre aprimorando o design para acompanhar as rápidas mudanças tecnológicas. Acredito que nem chegamos perto do que essa indústria se tornará quando estiver plenamente estabelecida”, diz.
Outra paixão da programadora é o cosplay − como é chamado o uso de fantasias para imitar personagens. “Sempre fui fã e participei de eventos vestida como personagens de vários animes. Um dia pensei em fazer cosplay da minha própria personagem, que se revelou uma das melhores ideias de marketing que já tive”, explica.
A partir dali, passou a ser reconhecida como a desenvolvedora que faz cosplay de seu próprio jogo. “As pessoas lembram da marca. Muitos se aproximam para perguntar sobre o figurino, e aí já consigo divulgar o jogo”, acrescenta.
Fora do trabalho, Ana exercita sua criatividade em atividades longe do computador. Está aprendendo a surfar, joga vôlei de praia com os amigos e faz road trips — recentemente foi de carro de Portugal até a Itália por dois meses na companhia de audiobooks. Independentemente da hora ou do dia, porém, seu coração ainda aponta para a mesma direção de quando era criança: a paixão pelos jogos.
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