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“O amor do meu pai virou uma obsessão. Tinha nojo dos assédios dele”

A leitora Bruna* se lembra de diversas investidas feitas pelo pai, que a beijava à força e a molestou em uma viagem de família

Por Da Redação
9 set 2020, 09h00

“Quando eu era criança, meu pai era o meu herói, meu protetor, meu tudo. Ele não media esforços para me agradar. Mas, em certo momento, esse amor virou uma obsessão por mim. Meus irmãos apanhavam muito dele, que batia covardemente. Em mim ele não encostava um dedo.

Quando eu tinha 10 anos, ele ia me ver todo dia quando chegava do trabalho. Beijava meu rosto todo, sugava minha boca, meu nariz, eu ficava toda lambuzado. Da primeira vez achei estranho, mas era meu pai. Da segunda vez, me incomodou; na terceira, eu já o odiava. Comecei a me esconder debaixo do cobertor para me proteger, mas ele tentava me descobrir para me beijar daquele jeito. Ele percebeu que eu não gostava. Aí perguntava para minha mãe: ‘O que acontece com ela? Está diferente’.

Minha mãe jamais desconfiou. Para ela, ele era um bom pai e um homem trabalhador. Às vezes, ele nos levava a um restaurante da preferência dele. Íamos meu pai, minha mãe e eu. Lá tinha música ao vivo e quando tocava uma música nojenta ele me encarava como se me despisse. Pior que ele me mandava pedir ao músico para cantar tal música. Era horrível.

A investida mais marcante foi quando eu tinha 12 ou 13 anos e fomos passar o feriado na praia com uma família de amigos. Meu pai detestava esses encontros, ficava totalmente deslocado e pouco se socializava. Em determinado momento, quando eu entrei no mar, ele veio atrás de mim. Quis me ensinar a boiar. Eu me deitei sobre a água e ele me segurou com uma das mãos pela virilha de forma a alcançar minha vagina. Estranhei e me desequilibrei. Ele me apertou contra ele e eu pude sentir que ele estava tendo uma ereção. Eu tentei me desvencilhar, mas ele me segurava e dizia: ‘Calma filha, é o papai’.

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Corri dos braços dele e até hoje não sei como puder sumir daquela situação de forma tão rápida. O resto dos dias eu só queria distância. Meu pai foi percebendo que eu já não era mais a criança que o via com tanta admiração. Meu ódio era notório. Construímos uma barreira entre a gente. Algum tempo depois, minha mãe descobriu uma traição e ele saiu de casa. Ela ficou muito mal, ele era tudo para ela. Para mim, a saída foi um alívio. Meus irmãos nunca reclamaram de nada. Minha irmã mais nova era muito afeiçoada a ele. Só que enquanto ele esteve em casa eu o vigiava com medo do que ele podia fazer com ela.

Até hoje me lembro do olhar fixo e malicioso dele para mim. Fecho os olhos e essa imagem é muito nítida. Revelei toda essa verdade à minha mãe aos 40 anos. Ela chorou muito. Demorei muito para aceitar que eu não era culpada de nada e nem tinha inventado uma vírgula dessa história.
Meus irmãos nunca souberam e acho melhor que fiquem com a imagem que eles têm dele.”

A partir de agora, CLAUDIA mantém esse canal aberto e oferece acolhimento para quem quiser libertar as palavras e as dores que elas carregam. Fale com CLAUDIA em falecomclaudia@abril.com.br.

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*Nome trocado a pedido da personagem

 

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