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Em livro pioneiro, mulheres quilombolas relatam suas lutas

Escrita por 18 ativistas de quilombos de todo o Brasil, obra ecoa vozes, saberes e séculos de resistência

Por Gabriela Teixeira (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2020, 16h48 - Publicado em 28 out 2020, 09h09

Estimativas da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) apontam a existência de cerca de 16 milhões de pessoas quilombolas no Brasil. São milhares de famílias, muitas das quais lideradas por mulheres que conciliam a responsabilidade pelo sustento do lar com a luta pela terra, ocupando espaços de destaque em suas comunidades. Ainda assim, suas vozes e clamores raramente alcançam os ouvidos da sociedade.

Agora, 18 mulheres se unem para mudar esse histórico de invisibilidade. Sob a organização da ativista Selma dos Santos Dealdina, pesquisadoras, poetas e militantes produziram o livro Mulheres quilombolas: Territórios de existências negras femininas (Jandaíra), onde expõem de modo pioneiro múltiplos pontos de vista sobre a existência – e resistência – de seu povo.

Lançado no último sábado (24), o livro começou a ser construído em 2017, a partir de um convite da filósofa Djamila Ribeiro para que Selma integrasse a coleção Feminismos Plurais (também da Jandaíra, antes Pólen Livros), criada por Djamila para discutir de modo acessível, mas profundo, conceitos pertinentes e atuais da luta feminista e por igualdade social.

“A Chimamanda sempre chama nossa atenção para o perigo da história única. Quando se escreve no coletivo, é possível obter posicionamentos e questões que uma só pessoa não conseguiria abordar”, explica Selma. “Então, de imediato, perguntei se poderia convidar mais autoras. Porque não era possível que eu assumisse as narrativas de um mundo tão diverso como é o das mulheres quilombolas somente a partir da minha visão.”

Da esquerda para direita, a partir do topo: Amária Campos de Sousa, Ana Carolina Araújo Fernandes, Ana Cleide da Cruz Vasconcelos, Andreia Nazareno dos Santos, Carlídia Pereira de Almeida, Débora Gomes Lima, Givânia Maria da Silva, Dalila Reis Martins e Gessiane Nazário. Fotos: (Divulgação/Arquivo pessoal)

Os dois anos seguintes foram então dedicados a mobilizar as companheiras e reunir o material. Alguns dos textos vieram de produções acadêmicas de mestrado e doutorado das autoras. A ativista optou por não determinar temas, prezando pela naturalidade que a liberdade de escrita proporciona.

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Os capítulos abordam assuntos que vão desde a violência doméstica e agrária até educação e o meio ambiente, pois os quilombos são referência quando se trata da agroecologia. Tudo costurado harmonicamente, de modo que um tema puxe o outro, conta Selma. Em sua parte, por exemplo, ela apresenta as lutas quilombolas e do coletivo feminino da Conaq, do qual é integrante.

Ainda que especial, o livro também carrega dores particulares da ativista. Durante o processo de finalização, ela e seus irmãos descobriram que a mãe estava com câncer em estágio terminal. Selma relata como durantes os três meses em que esteve dividida entre a conclusão da obra, os cuidados médicos e posteriormente o peso da perda materna, ela passou a olhar para as mulheres quilombolas de forma diferente.

“São mulheres que perderam seus filhos na luta pela terra. Em acidentes. Mulheres que eram lideranças e que também partiram. Foi um momento muito dolorido, mas também de muita reflexão”, diz.

A partir do topo esquerdo, as autoras Maria Aparecida Mendes, Maria Aparecida Ribeiro de Souza, Mônica Moraes Borges, Nilce de Pontes Pereira dos Santos, Rejane Maria de Oliveira, Valéria Pôrto dos Santos, Selma dos Santos Dealdina, Sandra Maria da Silva Andrade e Vercilene Francisco Dias. Fotos: (Divulgação/Arquivo pessoal)

Um dos pontos mais difíceis foi a escrita dos agradecimentos. “Quando escrevi o nome da minha mãe, ela ainda estava viva. Não sabia que, quando livro fosse publicado, a palavra in memoriam seria colocada na frente do nome dela. Então o agradecimento foi a última coisa que consegui fechar, porque não conseguia passar desse ponto. O falecimento da minha mãe me abalou muito, foi muito rápido. E eu ficava me apegando a essa questão”, revela.

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Apesar de tudo isso, ela espera que a obra abra os olhos de quem ainda não enxerga os quilombos e suas histórias, deixando de lado possíveis visões românticas e equivocadas. “Que vejam que estamos aqui, existindo e resistindo. Lutando pela permanência em nossos territórios. E, ao mesmo tempo, que conheçam quem somos e o que fazemos para o país. Nossa contribuição para um meio ambiente saudável, para a alimentação que chega na mesa dos brasileiros. As mulheres do campo têm muito a dizer e as pessoas precisam ouvir”, finaliza.

Parte do selo Sueli Carneiro, o livro Mulheres quilombolas: Territórios de existências negras femininas foi escrito por Amária Campos de Sousa, Ana Carolina Araújo Fernandes, Ana Cleide da Cruz Vasconcelos, Andreia Nazareno dos Santos, Carlídia Pereira de Almeida, Dalila Reis Martins, Débora Gomes Lima, Gessiane Nazário, Givânia Maria da Silva, Maria Aparecida Mendes, Maria Aparecida Ribeiro de Sousa, Mônica Moraes Borges, Nilce de Pontes Pereira dos Santos, Rejane Maria de Oliveira, Sandra Maria da Silva Andrade, Selma dos Santos Dealdina, Valéria Pôrto dos Santos e Vercilene Francisco Dias. Ele pode ser adquirido aqui.

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